São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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ELEIÇÃO NA ARGENTINA / CULTURA

Barato, país vira pólo de produção de cinema

Depois de viver ano negro em 2002, quando tiragem de livros caiu 43%, mercado editorial também se recupera e cresce

Apesar do boom, governo não desenhou políticas para o setor, enfrentou greves e deixou lei de patrocínio caducar no Congresso

DA REDAÇÃO

No ano negro de 2002, com a Argentina afundada na crise, a tiragem de livros no país recuou 43%, ou quase 25 milhões de exemplares a menos.
Mas em 2004, um anos após a posse de Néstor Kirchner na Casa Rosada, o mercado editorial já exibia cifras similares às de antes da crise e apontava crescimento acompanhando a recuperação econômica -apesar de algumas editoras terem passado total ou parcialmente a mãos estrangeiras.
A acomodação do setor pós-crise não é muito diferente da que ocorreu em outros campos, como no cinema.
A chamada "buena onda" do cinema argentino, com prestígio internacional e grande sucessos como "O Filho da Noiva" (2001), com o ator Ricardo Darín, data de antes da crise e soube traduzi-la nas telas.
A novidade da era Kirchner, mais que a continuação da boa safra, foi também um dado de mercado: a transformação da Argentina em pólo de produções estrangeiras de cinema e, principalmente, de comerciais.
"Como temos mais de 10 mil estudantes de cinema e como o país está muito barato, é natural que se transforme em pólo produtor. Muita gente qualificada foi inclusive para a produção de comerciais, que pagava melhores salários", explica Eduardo Constantini Filho, sócio de um fundo para investir em filmes latino-americanos, entre eles "Tropa de Elite".
A procura pelo país, e principalmente por Buenos Aires, como locação é tanta que a cidade resolveu criar um órgão municipal para gerenciar a demanda, o BAset (Buenos Aires Set de Filmación). Também foram criadas produtoras específicas para treinar atores e neutralizar seu sotaque na hora de filmar comerciais destinados ao mercado espanhol.

Políticas públicas
Para vários analistas culturais do país, o problema é que o governo não aproveitou a recuperação para reforçar o caixa da cultura e desenhar políticas públicas para o setor.
Apesar de a cultura ser um dos grandes chamarizes do país no exterior, o orçamento da área é de apenas 0,24% do PIB, quando a Unesco recomenda que seja 1%. "Só a cidade de Buenos Aires tem três vezes mais verba para a cultura que a Secretaria Nacional, que deve cuidar de todo o país. Nos pedem apoio, mas não temos dinheiro", reconhece o secretário nacional de Cultura, José Nun.
Como em outras áreas, a cultura também é um bem concentrado na capital.
O dinheiro de menos foi o responsável pela principal crise do governo na cultura: a disputa com músicos da Orquestra Sinfônica de Buenos Aires -que promoveu "panelaços" em forma de concertos públicos- e com técnicos e atores do Teatro Nacional Cervantes, duas instituições da capital. As categorias queriam que suas carreiras fossem reconhecidas no serviço público.
"Se for para fazer um balanço da gestão Kirchner, não diria que foi muito positivo", diz Constantini, que, além do fundo de cinema, é da família proprietária do Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires).
O museu é também um dos símbolos da vida cultural pós-crise. De 2001, quando foi fundado, até agora, já acumula 2 milhões de visitantes. Constantini diz que o centro cultural, uma fundação sem fins lucrativos, dá prejuízo, e que o projeto é angariar fundos com futuros associados, a exemplo de outros museus no exterior.
Além das greves do Cervantes e da Sinfônica, Constantini cita a não-aprovação da chamada "lei do mecenato", que permitiria a empresas ter renúncia fiscal caso investissem em cinema. A lei chegou a ser aprovada no Senado, mas caducou na Câmara -as duas Casas são dominadas pelo governo. (FM)


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