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ELEIÇÃO NA ARGENTINA / CULTURA
Barato, país vira pólo de produção de cinema
Depois de viver ano negro em 2002, quando tiragem de livros caiu 43%, mercado editorial também se recupera e cresce
Apesar do boom, governo não desenhou políticas para o setor, enfrentou greves e deixou lei de patrocínio caducar no Congresso
DA REDAÇÃO
No ano negro de 2002, com a
Argentina afundada na crise, a
tiragem de livros no país recuou 43%, ou quase 25 milhões
de exemplares a menos.
Mas em 2004, um anos após
a posse de Néstor Kirchner na
Casa Rosada, o mercado editorial já exibia cifras similares às
de antes da crise e apontava
crescimento acompanhando a
recuperação econômica -apesar de algumas editoras terem
passado total ou parcialmente a
mãos estrangeiras.
A acomodação do setor pós-crise não é muito diferente da
que ocorreu em outros campos,
como no cinema.
A chamada "buena onda" do
cinema argentino, com prestígio internacional e grande sucessos como "O Filho da Noiva"
(2001), com o ator Ricardo Darín, data de antes da crise e soube traduzi-la nas telas.
A novidade da era Kirchner,
mais que a continuação da boa
safra, foi também um dado de
mercado: a transformação da
Argentina em pólo de produções estrangeiras de cinema e,
principalmente, de comerciais.
"Como temos mais de 10 mil
estudantes de cinema e como o
país está muito barato, é natural que se transforme em pólo
produtor. Muita gente qualificada foi inclusive para a produção de comerciais, que pagava
melhores salários", explica
Eduardo Constantini Filho, sócio de um fundo para investir
em filmes latino-americanos,
entre eles "Tropa de Elite".
A procura pelo país, e principalmente por Buenos Aires, como locação é tanta que a cidade
resolveu criar um órgão municipal para gerenciar a demanda,
o BAset (Buenos Aires Set de
Filmación). Também foram
criadas produtoras específicas
para treinar atores e neutralizar seu sotaque na hora de filmar comerciais destinados ao
mercado espanhol.
Políticas públicas
Para vários analistas culturais do país, o problema é que o
governo não aproveitou a recuperação para reforçar o caixa da
cultura e desenhar políticas públicas para o setor.
Apesar de a cultura ser um
dos grandes chamarizes do país
no exterior, o orçamento da
área é de apenas 0,24% do PIB,
quando a Unesco recomenda
que seja 1%. "Só a cidade de
Buenos Aires tem três vezes
mais verba para a cultura que a
Secretaria Nacional, que deve
cuidar de todo o país. Nos pedem apoio, mas não temos dinheiro", reconhece o secretário
nacional de Cultura, José Nun.
Como em outras áreas, a cultura também é um bem concentrado na capital.
O dinheiro de menos foi o
responsável pela principal crise
do governo na cultura: a disputa com músicos da Orquestra
Sinfônica de Buenos Aires
-que promoveu "panelaços"
em forma de concertos públicos- e com técnicos e atores do
Teatro Nacional Cervantes,
duas instituições da capital. As
categorias queriam que suas
carreiras fossem reconhecidas
no serviço público.
"Se for para fazer um balanço
da gestão Kirchner, não diria
que foi muito positivo", diz
Constantini, que, além do fundo de cinema, é da família proprietária do Malba (Museu de
Arte Latino-Americana de
Buenos Aires).
O museu é também um dos
símbolos da vida cultural pós-crise. De 2001, quando foi fundado, até agora, já acumula 2
milhões de visitantes. Constantini diz que o centro cultural,
uma fundação sem fins lucrativos, dá prejuízo, e que o projeto
é angariar fundos com futuros
associados, a exemplo de outros museus no exterior.
Além das greves do Cervantes e da Sinfônica, Constantini
cita a não-aprovação da chamada "lei do mecenato", que permitiria a empresas ter renúncia
fiscal caso investissem em cinema. A lei chegou a ser aprovada
no Senado, mas caducou na Câmara -as duas Casas são dominadas pelo governo.
(FM)
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