São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2004

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LESTE EUROPEU

Reunião de candidatos com líderes europeus não produz solução imediata a impasse entre Yanukovich e Yushchenko

Oposicionista exige nova eleição na Ucrânia

Vasily Fedosenko/Reuters
Simpatizantes do premiê Viktor Yanukovich, cuja vitória foi declarada pela comissão eleitoral da Ucrânia, manifestam-se em Kiev


DA REDAÇÃO

O candidato da oposição à Presidência da Ucrânia, Viktor Yushchenko, apoiado por dezenas de milhares de manifestantes, exigiu ontem que uma nova eleição seja realizada no país. Ele alega que o pleito de domingo foi fraudado.
Yushchenko disse ainda que a crise política tem que ser resolvida em dias e que ele rejeitou uma proposta de seu rival, o premiê Viktor Yanukovich, de deixar a decisão nas mãos dos tribunais.
A comissão eleitoral declarou Yanukovich vitorioso nesta semana, mas a Suprema Corte rejeitou o resultado, impedindo que ele tome posse como presidente.
"Só conversaremos sobre uma nova votação", disse Yushchenko a simpatizantes reunidos na praça da Independência. "O premiê não consegue ouvi-los. Ele está oferecendo coisas que afastam a Ucrânia ainda mais de uma solução para essa crise política."
Os dois candidatos reuniram-se por quase três horas ontem com líderes europeus, mas não chegaram a uma solução para a crise.
Segundo o presidente Leonid Kuchma, contudo, um grupo de trabalho multilateral para supervisionar negociações entre os dois lados foi estabelecido, e ambos os candidatos rejeitaram a possibilidade de recorrer ao uso da força.
A reunião ocorreu no quinto dia consecutivo de protestos na capital ucraniana, Kiev, por eleitores de Yushchenko. Ontem, dezenas de milhares de manifestantes bloquearam prédios do governo, impedindo que funcionários entrassem, dizendo: "Há uma greve".
Yushchenko tinha um ar contente e vitorioso ao sair do palácio presidencial Mariinsky e cumprimentar simpatizantes reunidos diante do local. Já Yanukovich parecia contrariado e deixou o palácio sem fazer declarações.
"Não podemos adiar as negociações por mais três ou quatro dias. Se não houver uma decisão entre um ou dois dias, significa que Yanukovich não consegue ouvi-los", afirmou.
Mais cedo, Yanukovich fizera um apelo a seus próprios simpatizantes para que evitassem um "golpe inconstitucional".
"Caros amigos, juntos precisamos fazer tudo para que um golpe inconstitucional não ocorra na Ucrânia", disse, a milhares de manifestantes que gritavam seu nome, a maioria dois quais jovens levados de trem de Donbass, área de mineração em sua base eleitoral: o leste russófono do país.
Além dos dois candidatos e de Kuchma, estavam presentes o chefe de política exterior da União Européia, Javier Solana, o presidente polonês, Aleksander Kwasniewski, e o presidente do Congresso russo, Boris Gryzlov.
Solana afirmou à rede de TV CNN que a idéia de uma nova eleição seria discutida em uma reunião do grupo de trabalho hoje. "Sem nenhuma dúvida, [outra] eleição é uma possibilidade."

Divisão
A disputa eleitoral intensificou tensões entre, de um lado, os EUA e a UE e, de outro, a Rússia, que teme perder sua influência sobre a Ucrânia, que era parte da URSS.
Líderes americanos e europeus disseram que o pleito não satisfazia padrões democráticos. Para Moscou, as declarações representam interferência excessiva nas questões internas da Ucrânia.
Ontem, o presidente americano, George W. Bush, e o chanceler britânico, Jack Straw, afirmaram estar acompanhando de perto as negociações no país.
"Houve muitas alegações de fraude que puseram a validade da eleição em dúvida", disse Bush. "A comunidade internacional está observando com muito cuidado. Esperamos que isso seja resolvido de modo a dar crédito e confiança ao governo ucraniano."
O chanceler russo, Serguei Lavrov, expressou os temores de Moscou. "Em algumas capitais européias, há algumas forças que estão tentando desenhar novas fronteiras na Europa", disse.

Com agências internacionais


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