São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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Favorita no Haiti se espelha em Dilma

Mirlande Manigat, que lidera pesquisas, diz que vitória da petista criou "ambiente favorável" a sua candidatura

Candidata faz defesa da retirada gradual das tropas de paz da ONU, que são comandadas por militares do Brasil

Emilio Morenatti/Associated Press
A candidata à Presidência do Haiti Mirlande Manigat chega para comício de campanha na cidade de Cap Haitien, no norte

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL
A PORTO PRÍNCIPE (HAITI)


Elegante numa bata branca, com acessórios dourados e o cabelo penteado para trás, Mirlande Manigat, 70, explica calmamente por que quer ser a futura presidente do Haiti. Em francês, e logo em creole, o idioma local.
A candidata do conservador RNPP é a que lidera, com 36%, a pesquisa de opinião tida como referência -ainda que não livre de controvérsia, porque paga pela principal associação empresarial- para as eleições gerais de amanhã no país caribenho.
"Precisamos acabar com o sistema instalado por René Préval", lança ela, ferrenha opositora do atual presidente e também do antigo padrinho político dele, o deposto Jean Bertrand Aristide.
Num país de tradição machista como o Haiti, a rudimentar campanha televisiva de Manigat não cansa de desfilar as mandatárias mulheres da região e do mundo, com destaque para a presidente eleita brasileira, Dilma Rousseff.
"Estive no Brasil e conheci Dilma. Uma mulher muito forte. Voltei com mais convicção de que o Haiti deve ter uma mulher presidente. Saiam a votar para que em 7 de fevereiro tenhamos uma mulher na Presidência como o Brasil terá em primeiro de janeiro", disse, questionada pela Folha, durante coletiva ontem com a imprensa local e estrangeira.

RETIRADA GRADUAL
Dias antes, a candidata haitiana já havia dito que a vitória da petista "criava um ambiente favorável" à sua candidatura, entre outros fatores por conta da forte presença do Brasil no país.
Os militares brasileiros têm o comando e são o maior contingente da Minustah, a força de estabilização da ONU, no Haiti desde 2004.
Há atualmente cerca de 2.200 tropas brasileiras no país, contingente que foi elevado após o terremoto de janeiro último.
Crítica moderada da presença da ONU no país -ela diz que pedir a saída imediata da missão seria "irresponsável"-, ontem ela foi só elogios ao comando brasileiro.
Disse que o contingente do país é um fator que ajuda na aceitação das tropas estrangeiras no país, que devem sair "gradualmente".
Especialista em direito constitucional com pós-graduação em Paris, Manigat foi primeira-dama haitiana por poucos meses em 1988, até que o seu marido Leslie foi deposto num golpe de Estado e o casal foi forçado a partir para o exílio.
É essa mescla de recall na política local -sem o ônus de ter feito parte de governo duradouro- que explica, dizem os analistas, parte do seu êxito na campanha até agora, alavancada pela decepção com Préval.
Manigat usou a entrevista de ontem para acusar o atual governo de preparar fraude para o pleito de amanhã, ao mesmo tempo em que exortava os haitianos a votarem "mesmo que ocorram episódios de violência".
Se a pesquisa Brides estiver correta, a "madame Manigat" deve disputar o segundo-turno em 16 de janeiro contra o governista Jude Célestin.
Além deles, outros dois candidatos aparecem com chances de chegar à segunda etapa: o cantor Michel Martelly, astro da kompa (espécie de lambada local), e o empresário Charles Baker.


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