São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

Próximo Texto | Índice

CRISE

Após ataque à "ingerência" do Brasil, presidente eleito diz que opositores de Chávez estão "colocando o pé na parede"

Lula rebate crítica da oposição venezuelana

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
PATRÍCIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a oposição venezuelana, ao dizer que "não será colocando o pé na parede, [dizendo] oito ou oitenta, que as pessoas encontram soluções".
Lula disse também que não sabe do que a oposição está reclamando, em resposta ao fato de que líderes da oposição ao presidente Hugo Chávez queixam-se do que consideram "intromissão" do governo brasileiro, ao enviar gasolina ao país vizinho, para ajudar a superar uma dramática crise de abastecimento de combustível.
Ontem, a oposição deu um passo além das queixas verbais: entregou um documento ao embaixador do Brasil em Caracas, Ruy Nogueira, considerando "inamistoso" o comportamento de Marco Aurélio Garcia, o emissário especial de Lula à Venezuela, durante sua estada de quatro dias no país.
Para Lula, no entanto, Marco Aurélio, além de avistar-se (duas vezes) com Chávez, falou também "com a oposição, com sindicalistas [os principais estão na oposição] e com representantes da Organização dos Estados Americanos" -o secretário-geral, César Gavíria, que tenta mediar o diálogo entre governo e oposição, até agora inutilmente.
O presidente eleito disse também que pretende "manter a relação mais saudável possível com a Venezuela", além de "exercer um papel de liderança na América Sul".
Lula reiterou o que dissera antes da viagem de Marco Aurélio, na quarta-feira passada: a eleição antecipada, como pede a oposição, pode não ser a solução, se não houver igualmente um acordo para que as partes respeitem o resultado.
Marco Aurélio, que fez ao presidente eleito um relatório a respeito de sua missão, também disse que a oposição não tem razão para reclamar. "Eles não podem exigir, porque demos à oposição e ao governo o mesmo tratamento".
O assessor internacional de Lula classificou a estabilidade política na Venezuela como essencial, não só por "questão de princípio", mas também porque o país é o quinto produtor mundial de petróleo. "O que significaria se, nas próximas semanas ou nos próximos dois meses, tivéssemos uma situação de guerra civil na Venezuela e de guerra aberta no Iraque?", perguntou.

Protesto
Tanto Lula como Marco Aurélio confirmaram as gestões para que o governo Fernando Henrique Cardoso enviasse um navio da Petrobras carregado de gasolina à Venezuela.
O navio chega até o final de semana, com 520 mil barris, o suficiente para dois dias de consumo normal (nas condições atuais, em que o consumo está super-restringido, essa quantidade pode durar até uma semana).
Já a oposição venezuela enviou uma delegação à embaixada do Brasil, integrada por Agustín Berrios, secretário da Coordenadora Democrática, multifacetada coalizão opositora, Rosário Orellana, ex-vice-chanceler, e Alberto Quirós, do comitê assessor do grupo.
Repetiram a tese de que está havendo "ingerência" nos assuntos internos da Venezuela, pondo ênfase no envio da gasolina. O que é fácil de explicar: a principal arma oposicionista para desestabilizar Chávez é o desabastecimento de combustível, provocado pela paralisação da PDVSA, a estatal petrolífera.


Próximo Texto: Brasil é contra ruptura, diz chanceler de Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.