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CRISE
Após ataque à "ingerência" do Brasil, presidente eleito diz que opositores de Chávez estão "colocando o pé na parede"
Lula rebate crítica da oposição venezuelana
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
PATRÍCIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente eleito Luiz Inácio
Lula da Silva criticou ontem a
oposição venezuelana, ao dizer
que "não será colocando o pé na
parede, [dizendo] oito ou oitenta,
que as pessoas encontram soluções".
Lula disse também que não sabe
do que a oposição está reclamando, em resposta ao fato de que líderes da oposição ao presidente
Hugo Chávez queixam-se do que
consideram "intromissão" do governo brasileiro, ao enviar gasolina ao país vizinho, para ajudar a
superar uma dramática crise de
abastecimento de combustível.
Ontem, a oposição deu um passo além das queixas verbais: entregou um documento ao embaixador do Brasil em Caracas, Ruy
Nogueira, considerando "inamistoso" o comportamento de Marco Aurélio Garcia, o emissário especial de Lula à Venezuela, durante sua estada de quatro dias no
país.
Para Lula, no entanto, Marco
Aurélio, além de avistar-se (duas
vezes) com Chávez, falou também
"com a oposição, com sindicalistas [os principais estão na oposição] e com representantes da Organização dos Estados Americanos" -o secretário-geral, César
Gavíria, que tenta mediar o diálogo entre governo e oposição, até
agora inutilmente.
O presidente eleito disse também que pretende "manter a relação mais saudável possível com a
Venezuela", além de "exercer um
papel de liderança na América
Sul".
Lula reiterou o que dissera antes
da viagem de Marco Aurélio, na
quarta-feira passada: a eleição antecipada, como pede a oposição,
pode não ser a solução, se não
houver igualmente um acordo
para que as partes respeitem o resultado.
Marco Aurélio, que fez ao presidente eleito um relatório a respeito de sua missão, também disse
que a oposição não tem razão para reclamar. "Eles não podem exigir, porque demos à oposição e ao
governo o mesmo tratamento".
O assessor internacional de Lula
classificou a estabilidade política
na Venezuela como essencial, não
só por "questão de princípio",
mas também porque o país é o
quinto produtor mundial de petróleo. "O que significaria se, nas
próximas semanas ou nos próximos dois meses, tivéssemos uma
situação de guerra civil na Venezuela e de guerra aberta no Iraque?", perguntou.
Protesto
Tanto Lula como Marco Aurélio
confirmaram as gestões para que
o governo Fernando Henrique
Cardoso enviasse um navio da Petrobras carregado de gasolina à
Venezuela.
O navio chega até o final de semana, com 520 mil barris, o suficiente para dois dias de consumo
normal (nas condições atuais, em
que o consumo está super-restringido, essa quantidade pode
durar até uma semana).
Já a oposição venezuela enviou
uma delegação à embaixada do
Brasil, integrada por Agustín Berrios, secretário da Coordenadora
Democrática, multifacetada coalizão opositora, Rosário Orellana,
ex-vice-chanceler, e Alberto Quirós, do comitê assessor do grupo.
Repetiram a tese de que está havendo "ingerência" nos assuntos
internos da Venezuela, pondo ênfase no envio da gasolina. O que é
fácil de explicar: a principal arma
oposicionista para desestabilizar
Chávez é o desabastecimento de
combustível, provocado pela paralisação da PDVSA, a estatal petrolífera.
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