São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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Obama terá batalha para avançar agenda legislativa em 2010

Presidente tentará manter a supermaioria parlamentar em eleições de novembro para aprovar reformas

DE WASHINGTON

Assim que fez seu discurso celebrando a passagem da reforma da saúde pública no Senado, na quinta-feira, o presidente Barack Obama telefonou para soldados que lutam em ambas as guerras que os EUA iniciaram para desejar boas festas, como é tradição. Então, pegou a família e embarcou para Honolulu, no Havaí, de onde só volta no dia 3 de janeiro.
O democrata sabe o que o espera em 2010: o desafio de manter o controle de ambas as Casas do Congresso, com o qual ele conta para implantar o que falta de seu programa de governo, fortemente baseado em reformas que dependem do Legislativo para avançar. Ambas estarão em jogo nas eleições da metade do mandato.
Acontecem em 2 de novembro e põem em disputa todas as 435 vagas da Câmara dos Representantes (deputados federais) e 36 das 100 cadeiras do Senado. Hoje, os democratas têm 257 representantes na primeira e 58 no segundo, mais dois senadores que fecham com o governo em questões importantes, o que lhes dá a tal "supermaioria", à prova de obstrução republicana.
Foi com essa supermaioria que o líder democrata, Harry Reid, conseguiu avançar uma reforma tão polêmica como a da saúde. Por 25 dias seguidos, ele usou a arma dos 60 votos para assegurar que a votação final ocorresse antes do recesso.
Os democratas sabem que, se as condições econômicas não melhorarem, principalmente se o índice de desemprego não começar a cair, é pouco provável que eles mantenham a vantagem atual. Dos que já declararam que vão concorrer à Câmara em novembro, 49 democratas são de distritos em que Obama perdeu para John McCain nas eleições presidenciais de 2008. Os republicanos precisam ganhar 41 cadeiras para controlar a Câmara.
A história também não favorece o partido da situação: com exceção do republicano George W. Bush em 2002, que estava no auge da popularidade após o 11 de Setembro, todos os presidentes em primeiro mandato perderam cadeiras no Congresso desde 1974.
O caso mais emblemático da virada legislativa atrapalhando a vida do Executivo é o de Bill Clinton em 1994. Naquele ano, o democrata perdeu o controle do Congresso e deu chance para um renascimento republicano que culminaria na vitória de Bush e dos neocons em 2000.
É por isso que Obama planeja fazer de 2010 o ano da agenda doméstica, com as guerras e as aberturas de política externa que iniciou em 2009 ficando em segundo plano.
Obama tem menos de nove meses para manter o crescimento da economia, ainda que nos índices tímidos atuais, e para iniciar a queda do desemprego, hoje em 10%. Assim que pisar em Washington, em janeiro, anunciará as primeiras ações da força-tarefa contra o desemprego que criou no começo do último mês de 2009.
Outra preocupação é a popularidade do presidente, que baixou dos 50% em novembro. "É muito provável que as eleições de 2010 sejam encaradas como plebiscitárias", disse Peter Brown, do instituto de pesquisa da Universidade Quinnipiac, de Nova York. "Obama não estará nas cédulas, mas seu partido e muitos dos que o apoiaram estarão."
Embora tenha minimizado o episódio, a Casa Branca se assustou com os resultados das duas eleições para governo estadual ocorridas em 2009, em Virgínia e Nova Jersey: em ambas, republicanos bateram democratas. Em 2009, outros 37 Estados realizarão eleições; desses, o partido de Obama está no governo de 20.
"A derrota republicana de 2008 está cada vez mais no passado", disse o analista conservador Michael Barone. Por seus cálculos, a oposição tem chances de ganhar até cinco cadeiras no Senado em novembro. (SD)


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