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CHOQUE NO ORIENTE MÉDIO
Após vitória do Hamas, EUA e Israel falam em revisar ajuda; UE definirá posição na segunda-feira
Financiamento a palestinos pode ser cortado
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Os EUA, Israel e a comunidade
internacional ameaçaram ontem
sufocar financeiramente os territórios palestinos, como conseqüência da vitória eleitoral do Hamas, que figura como grupo terrorista na lista do Departamento
de Estado norte-americano.
Em entevista à rede de TV CBS,
o presidente dos EUA, George W.
Bush, disse que, se o Hamas não
se desarmar, "não haverá pacote
de ajuda". Antes, Sean McCormack, porta-voz do Departamento de Estado, disse que os EUA
"revisarão todos os aspectos" de
sua ajuda aos palestinos.
"Nossa política é muito clara:
não damos dinheiro a organizações terroristas", disse McCormack em entrevista coletiva em
Washington. Recado muito parecido foi dado em Davos por Joseph Bachar, diretor-geral do Ministério de Finanças de Israel, em
debate no âmbito do encontro
anual de 2006 do Fórum Econômico Mundial: "Enfrentaremos
problemas práticos em relação a
lidar com gente que clama pela
destruição de Israel".
É uma clara referência ao fato de
que Israel é responsável por coletar impostos (aduaneiros e sobre
o valor agregado, o IVA) que depois repassa para a Autoridade
Nacional Palestina. Trata-se da
maior fonte de receita do Orçamento da ANP.
São, pelos cálculos do ministro
palestino da Economia, Mazen Sinokrot, presente ao mesmo debate, entre US$ 40 milhões e US$ 50
milhões.
"De onde virão os recursos para
pagar os salários de 135 mil funcionários [da ANP]"?, perguntou
Sinokrot, já prevendo: "Se os salários não chegarem, será uma
mensagem para a violência".
De parte da comunidade internacional, outro aviso de sinal negativo veio, em Davos, da boca de
James Wolfensohn, ex-presidente
do Banco Mundial e, agora, enviado especial das potências ocidentais para o Oriente Médio: "Os
doadores internacionais que sustentam a economia palestina não
continuarão a despejar dinheiro
se houver incertezas políticas".
Como, segundo Wolfensohn,
"os palestinos estão, neste momento, basicamente falidos", a interrupção das doações e das remessas devidas por Israel só poderá causar um grande colapso.
Ainda mais que até o palestino
Sinokrot admite que a vitória do
Hamas provocou as incertezas assinaladas por Wolfensohn. É verdade que Sinokrot é do Fatah, o
grupo derrotado pelo Hamas, o
que pode enviesar a sua avaliação,
mas a mídia européia reagiu com
estupor e choque ao resultado de
anteontem.
E é justamente a União Européia a principal fonte de doações
para os palestinos, com uma ajuda de US$ 612 milhões no ano
passado.
Oportunidade
Os europeus têm reunião segunda-feira de seus ministros das
Relações Exteriores, na qual a
questão das doações estará no topo da agenda. Mas Jan Petersen,
parlamentar norueguês, antecipa
que, embora ache que se deve dar
ao Hamas uma oportunidade para demonstrar sua ação como governo, "ele não terá o luxo de muito tempo para dar provas de que
está disposto a fazer as reformas
necessárias".
Por reformas necessárias, entenda-se renunciar à violência e
reconhecer o direito de Israel de
existir.
Além disso, Petersen cobra
"uma política fiscal sadia", alusão
clara à necessidade de a ANP controlar seus gastos, pensamento
que está perfeitamente alinhado
com o de Wolfensohn.
"Não acho que a comunidade
internacional esteja disposta a
continuar por dois ou três anos
mais dando dinheiro para algo
que eles não sabem para onde está
indo", diz. É clara alusão às acusações de corrupção freqüentemente feitas contra os principais líderes da ANP.
Mas hoje eles são todos do Fatah, ao passo que o Hamas é tido
como mais rigoroso com os recursos, embora não tenha tido
ainda a chance de administrar dinheiro púbico.
Corrupção, mais que ameaças, é
a mesma corda que tocam os Estados Unidos, pela palavra do
subsecretário de Estado Robert
Zoellick: para ele, o resultado de
anteontem foi "a rejeição da corrupção, a rejeição da carência de
oportunidades econômicas e de
esperança".
Zoellick, como fez McCormack
durante sua intervenção ocorrida
em Washington, fez questão de
enfatizar o fato de que o Hamas é
um grupo que figura como terrorista na lista do Departamento de
Estado.
Além disso, deu a entender, como o norueguês Petersen, que pôr
fim ao conflito com Israel é condição essencial para a manutenção
da ajuda aos palestinos: "É difícil
haver desenvolvimento econômico em uma zona de guerra".
Mesmo o presidente de um país
muçulmano, Hamid Karzai (Afeganistão), diz que "o Hamas tem
de aceitar Israel como um Estado.
Não acho que haja outro caminho, senão a paz com Israel".
Mas Karzai recomenda o diálogo, não punições, tanto aos Estados Unidos como a Israel. "Seria
minha recomendação aos Estados Unidos e a Israel: começar a
conversar com o Hamas porque
agora eles são eleitos pelos palestinos", afirmou em entrevista coletiva, sempre em Davos.
Colaborou Maria Cristina Frias, enviada
especial a Davos
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