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CHOQUE NO ORIENTE MÉDIO
Diante da casa do presidente palestino, milhares protestam contra corrupção e negociação com Hamas
Membros do Fatah pedem renúncia de Abbas
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A GAZA
Inconformados com a devastadora derrota sofrida pelo partido
na eleição legislativa palestina de
quarta-feira, a qual deu ampla
maioria ao grupo terrorista Hamas, milhares de militantes do
Fatah foram às ruas de Gaza ontem, dando tiros para o alto e incendiando carros, para exigir a
demissão do presidente, Mahmoud Abbas, e dos funcionários
corruptos do governo.
A corrupção e a ineficiência do
governo palestino foram apontadas por analistas e eleitores como
as principais causas da surpreendente vitória do Hamas.
Cerca de mil ativistas do Fatah,
muitos armados, circularam em
carros com alto-falantes nas proximidades da residência do presidente Mahmoud Abbas em Gaza,
conclamando-o a não aceitar uma
coalizão com o Hamas. Alguns o
acusaram de ser "colaborador" de
Israel. No momento do protesto,
Abbas estava em Ramallah, na
Cisjordânia.
Desde as primeiras horas da
sexta-feira, a sensação em Gaza
era a da perplexidade que anuncia
o fim de uma era. Com o comércio fechado para o feriado muçulmano de sexta-feira, pequenos
grupos se formavam nas ruas,
cartazes de propaganda eleitoral
começavam a ser retirados e a
conversa girava em torno de um
só assunto: como será a vida sem
o Fatah no poder, movimento que
dominou a política palestina desde que foi fundado por Iasser Arafat, mais de quatro décadas atrás?
Como o Hamas assumirá uma
engrenagem muitas vezes usada
pelo rival para reprimi-lo, sem
criar o risco de uma guerra civil?
Confronto
Não demorou muito para que as
conversas se transformassem em
violência. No primeiro enfrentamento armado entre os dois grupos desde a eleição, três pessoas
ficaram feridas em uma troca de
tiros em Khan Yunes, sul de Gaza.
O incidente teve origem no sermão de um pregador muçulmano
apontado pelo Fatah, que irritou
membros do Hamas, durante as
preces de sexta-feira.
À noite foi a vez dos protestos
do Fatah. "Não queremos entrar
em um governo do Hamas. Não
queremos um governo corrupto.
Queremos reforma e a demissão
dos corruptos", gritaram os manifestantes em frente a um prédio
do governo no centro de Gaza, ao
som dos tiros disparados por militantes. Cerca de 15 mil membros
do Fatah protestaram em vários
pontos de Gaza.
Proposta
Em um gesto de conciliação, o
líder do Hamas Ismail Haniya, cotado para ser o próximo premiê
palestino, telefonou a Abbas para
propor uma "parceria política".
Abbas deve ir a Gaza nos próximos dias para conversar com o
Hamas sobre a formação do novo
governo. Mas as chances de um
governo Hamas-Fatah são mínimas. "Estamos em consultas com
todos os grupos palestinos e, definitivamente, no momento apropriado, o maior partido formará o
gabinete", disse Abbas.
Em conversas por telefone com
o presidente do Egito, Hosni Mubarak, e com o rei Abdullah, da
Jordânia, o premiê de Israel, Ehud
Olmert, repetiu que não negociará com o Hamas se o grupo continuar armado. A ministra do Exterior de Israel, Tzipi Livni, manifestou pessimismo. "Na retirada
de Gaza, Israel abriu uma janela
de oportunidade. Com essas eleições, os palestinos a fecharam",
disse.
Na oração de meio-dia em um
dos principais pontos de encontro do Hamas na cidade de Gaza, a
mesquita Palestina, não havia
preocupação com Israel, mas um
clima de festa pela chegada do
grupo terrorista ao poder e pela
quebra da hegemonia do Fatah. O
dentista Bassel Taba, eleitor do
Hamas, chegou à mesquita com
um exemplar do jornal "Al-Quds", o principal diário palestino, que ostentava a manchete:
"Terremoto político sacode a região". "Acho que teremos problemas para dividir o poder com o
presidente Abbas", disse o dentista, formado em Moscou. "Mas o
Fatah terá que se acostumar à
idéia de que seu monopólio acabou. E fazer isso sem usar a violência, o que não lhe será fácil."
Com agências internacionais
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