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Israel enterra solução unilateral
Três anos após ser lançado, projeto de retiradas não negociadas é derrotado por fiascos em Gaza e no Líbano
Criado por Sharon, conceito dá lugar à volta do diálogo com palestinos moderados, mas processo de paz pode
esbarrar em líderes fracos
MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO
Está reaberta a temporada de
negociações entre israelenses e
palestinos. Três anos após o
ruidoso nascimento do projeto
de retiradas unilaterais, que
dominou a política externa do
país e ajudou a eleger o premiê
Ehud Olmert, o conceito está
morto e enterrado. Diante do
caos em Gaza e do fiasco na
guerra do Líbano -ambos territórios desocupados por Israel
unilateralmente-, a negociação voltou à ordem do dia.
Uma prova disso é a profusão
de iniciativas destinadas a retomar o processo de paz com os
palestinos que invadiu a imprensa israelense. Em visita à
região, há duas semanas, a secretária de Estado dos EUA,
Condoleezza Rice, disse que o
encontro do próximo mês entre Olmert e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, será o
mais importante em seis anos.
"Após uma retirada [de Gaza]
que fracassou e uma retaliação
[no Líbano] que virou guerra,
há um consenso nacional: não
há como a força bruta e a ação
unilateral resolverem o conflito, e é impossível efetuar uma
retirada sem negociações", escreveu Yoel Marcus, o mais influente articulista do jornal israelense "Haaretz".
Foi numa conversa com
Marcus, em 2004, que o premiê
Ariel Sharon pronunciou pela
primeira vez a idéia de deixar
Gaza unilateralmente. O argumento era simples: na ausência
de um parceiro palestino para o
diálogo, restava a opção unilateral. A decisão foi saudada
com entusiasmo pela maioria
dos israelenses, cansados da cara e estrategicamente irrelevante ocupação de Gaza.
A idéia foi elogiada até por
pacifistas, que se perguntavam
se o general que deu impulso à
ocupação de terras palestinas e
comandou a invasão do Líbano,
em 1982, havia mudado de lado.
Ilusão
"O plano unilateral foi uma
ilusão. Como crer que os palestinos aceitariam o que Israel
lhes dava sem discussão?", disse à Folha Paul Scham, do Instituto de Oriente Médio, em
Washington. "A esquerda israelense jamais gostou da idéia,
mas, como não tinha força, seguiu o fluxo, concluindo que
qualquer retirada era melhor
que nenhuma. A direita, que
nunca aceitou concessões,
também ficou desconfiada."
Embora executada em tempo recorde e sem provocar a temida "guerra entre irmãos", a
retirada de Gaza confirmou as
piores previsões da esquerda e
da direita. Sem o Exército por
perto, terroristas palestinos intensificaram o disparo de mísseis contra Israel.
Para piorar, a retirada deu
fôlego político ao Hamas, o
grupo islâmico dos homens-bomba responsável por dezenas de atentados em Israel, ajudando-o a chegar ao poder nas
eleições de janeiro do ano passado. Seis meses depois, o seqüestro de dois soldados pelo
Hizbollah deflagrou uma nova
guerra no Líbano, de onde Israel também saíra unilateralmente em 2000.
Os políticos israelenses não
demoraram a embarcar na velha idéia, numa corrida pelo
melhor plano de paz. O primeiro movimento partiu da chanceler Tzipi Livni, a nova estrela
da política local, que passou a
defender o diálogo com o mesmo entusiasmo com que apoiara o unilateralismo.
Em seguida vieram propostas semelhantes do ministro da
Defesa, Amir Peretz, e do ministro dos Transportes, Shaul
Mofaz. Oportunismo?
"Pesquisas mostram que os
israelenses querem paz. Os políticos sabem que podem ganhar pontos com isso", disse à
Folha Gershon Baskin, presidente do Centro de Pesquisa
Israel-Palestina, lembrando o
elo entre as áreas. "É como dizia Henry Kissinger: em Israel
não há política externa, tudo é
política interna."
Para Baskin, porém, não será
na negociação do próximo mês
que o processo de paz entre palestinos e israelenses avançará:
"Olmert e Abbas estão enfraquecidos, e Bush perdeu a autoridade para mediar. Nessas
circunstâncias, será mais um
diálogo que não levará a nada."
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