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Mais de 300 mil foram mortos na ditadura
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Responsável direto pelo
massacre de 300 mil a 1 milhão
de adversários de esquerda -o
número real jamais será conhecido-, o general Suharto deixa
como legado uma biografia política de números superlativos.
Além daquilo que a própria CIA
qualificou de "um dos mais trágicos assassinatos em massa do
século 20", o ditador e familiares são suspeitos de desviar
US$ 45 bilhões durante os 32
anos de ditadura.
Mas foi também o governante que modificou o perfil da Indonésia -crescimento médio
anual de 7%-, com a abertura
da economia e uma aliança privilegiada com os EUA nos anos
da Guerra Fria.
Foi deposto por imensas manifestações de rua, convocadas
contra a malversação de recursos e o colapso no modelo de
desenvolvimento provocado
pela crise econômica asiática,
que levou à desvalorização da
moeda nacional e à queda do
padrão da classe média.
Suharto nasceu no vilarejo
javanês de Kemusu Argamulja,
filho de comerciantes que viu
no Exército uma forma de ascensão social nas então Índias
Holandesas Orientais.
Alistou-se nas forças coloniais da Holanda, até a invasão
japonesa, em 1942, quando passa a integrar um corpo de defesa patrocinado pelo Exército de
ocupação. Em 1945 ingressa na
guerrilha pela independência,
que favorece, em 1950, a criação da Indonésia como república. Já era, então, o maior país
islâmico do planeta.
Em 1965 o presidente esquerdista Sukarno (1901-1970)
nacionaliza o petróleo, contrariando interesses americanos e
britânicos. O período era de
forte polarização política, com
o governo apoiado pelo PKI
(Partido Comunista).
A fim de se contrapor a um
suposto plano de Washington
para depor o presidente, militares assassinam um grupo de
seis generais de direita. Suharto, já um general-de-divisão,
comandava as forças especiais
em Jacarta, que passam a assassinar comunistas e chineses
étnicos, com o auxílio de comandos paramilitares islâmicos. Foram tantas as vítimas
que, dizia-se então, faltavam
galhos de árvores para os enforcados. Centenas de milhares
foram degolados.
Dez anos depois a expressão
"paz de cemitério" seria usada
de novo, quando a Indonésia
invadiu o Timor Leste, território que se separava de Portugal,
com saldo de 200 mil mortos.
O milagre econômico indonésio, financiado pelo petróleo,
gerou uma sociedade desigual.
Seu índice Gini é ainda hoje de
0,34 -no Brasil é de 0,57-,
sendo 1 a utópica igualdade integral. Com Suharto, a inflação
caiu de 630% para 9% ao ano.
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