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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Para Rumsfeld, Iraque mostra mais uma vez que só age sob pressão; Blix diz que inspeção teve "resultado limitado"

Iraque diz à ONU que destruirá mísseis

DA REDAÇÃO

O Iraque enviou ontem uma carta à ONU concordando "em princípio" com a destruição de seus mísseis Al Samoud 2, segundo informou a agência Associated Press, que teve acesso ao documento. A carta vem em resposta à exigência feita pelo chefe dos inspetores de armas, o sueco Hans Blix, que havia dado prazo até amanhã para que Bagdá começasse a se livrar dos mísseis.
A carta pede a Blix que envie uma equipe técnica para discutir "as condições e o prazo" para que sua ordem seja cumprida. O vice de Blix já está em Bagdá para verificar a destruição.
O alcance do Al Samoud 2 excede o limite de 150 km permitido pela ONU. Ao cooperar com Blix, o país privaria os EUA de uma justificativa para lançar ofensiva.
Entretanto o secretário de Estado americano, Colin Powell, disse ontem que o tema dos mísseis não deve alterar a posição americana. Segundo ele, Bagdá já deveria tê-los destruído "há muito tempo".
Ao comentar o envio da carta, o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse não ver "uma mudança de atitude". Segundo ele, o Iraque "se nega a cooperar, deixa passar o tempo", mas "quando a pressão aumenta, diz "bem, talvez o façamos'".
Blix disse nos últimos dias que a destruição dos mísseis seria um teste fundamental para verificar se o Iraque está realmente comprometido em cooperar com a ONU. Num relatório provisório que deve ser entregue no fim de semana ao Conselho de Segurança (CS) da ONU, Blix deverá dizer que, até agora, as inspeções tiveram "resultados limitados".
Mas, como em outras ocasiões, Blix evitará condenar Bagdá totalmente. Ele dirá que o país aumentou as suas atividades de cooperação com os inspetores no último mês. No documento, Blix observará que Bagdá poderia ter se esforçado mais para mostrar suas armas proibidas e para apresentar provas contundentes de que algumas delas já foram destruídas.
O diplomata sustentará ainda ser "difícil de compreender" por que os iraquianos não adotaram as medidas exigidas pela ONU antes. "Se elas tivessem sido tomadas antes, já teriam trazido resultados." O Iraque, na visão de Blix, só começou a adotar medidas capazes de ajudar em seu desarmamento em meados de janeiro. Resolução do CS de novembro já exigia cooperação total.
O tom desse relatório sobre os três meses de trabalho de inspeções poderá servir de munição para os EUA e o Reino Unido, que desejam atacar o Iraque justificando que o ditador Saddam Hussein não aceita se desarmar.
Blix costuma afirmar que não caberá a ele decidir se haverá ou não guerra -a seu ver, tal iniciativa é resultado de negociações políticas no CS.

Turquia
A Turquia adiou um debate parlamentar previsto para ontem sobre a concessão aos EUA do uso de seu território em caso de uma ação militar contra o Iraque. A medida foi adotada em meio a indícios de que o partido governista turco teria dificuldades para conquistar o apoio necessário para aprovar a moção no Legislativo.
Autoridades do país disseram que o tema será levado a votação amanhã. Um porta-voz do presidente Ahmet Necdet Sezer disse que, para autorizar uma operação com forças americanas, o Parlamento turco teria de avaliar se essa ação conta com "legitimidade internacional".
Muitos políticos utilizam esse argumento em defesa de um adiamento da votação até que a ONU adote uma resolução autorizando claramente o uso da força.
O assunto vem se arrastando há semanas, com os EUA pressionando Ancara a abrir seu território para suas tropas, enquanto os turcos -aliados de Washington na Otan- tentam obter em troca um pacote de ajuda financeira.


Com agências internacionais


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