São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Colombiana que luta por soltura de policiais não crê em acordo

DE CARACAS

Enquanto os familiares dos quatro políticos libertados pelas Farc os esperavam ontem em Caracas, parentes de dezenas de policiais e soldados recebiam, na região metropolitana de Bogotá, 18 agentes de segurança cadeirantes que viajaram mais de 500 km ao longo dos últimos dias entre Medellín e a capital colombiana para pedir a liberação de seus colegas. Dos 39 reféns políticos atualmente em poder das Farc, 32 são policiais e soldados, quatro são políticos e três são norte-americanos. Apesar de os policiais e militares estarem há mais tempo em cativeiro -até 11 anos-, os seis recém-liberados pela guerrilha são políticos. As Farc ainda têm seqüestrados cerca de 700 reféns econômicos -fora, portanto, das negociações propostas pelo grupo para trocar seqüestrados por 500 guerrilheiros presos. Marleny Orjuela, há dez anos à frente da Asfamipaz (Associação de Familiares dos Soldados e Policiais em Cativeiro), afirma que os reféns políticos recebem um tratamento privilegiado do Estado, mas diz ter esperança de que haja mais liberações devido ao estado de saúde de alguns dos seqüestrados. Leia, a seguir, a entrevista à Folha, por telefone (FM):

 

FOLHA - É a segunda vez que as Farc entregam reféns ao presidente venezuelano. A sra. acredita que esse procedimento prosseguirá?
MARLENY ORJUELA -
Sim, acho que continua por causa dos trabalhos de facilitação e gestões do presidente Chávez e da senadora Piedad Córdoba. Estamos esperando liberações unilaterais não apenas dos políticos, mas também dos policiais e dos soldados seqüestrados, alguns há mais de 11 anos. Sabemos que a maioria deles está em estado delicado de saúde. Estamos dizendo isso ao presidente Chávez e à senadora Córdoba, além de dizer às Farc para liberar todos os policiais, soldados, políticos e civis, para que ocorra um grande pacto humanitário rumo à paz na Colômbia.

FOLHA - Por que as Farc liberam apenas políticos?
ORJUELA -
Os familiares não podemos entender isso, mas estamos fazendo essa solicitação. Neste momento, estamos com um grupo de 18 policiais que viaja desde Medellín até Bogotá em favor da liberação de todos.

FOLHA - Há sinais de que as negociações entre governo e Farc possam recomeçar em breve?
ORJUELA -
Até agora está muito difícil. Os dois lados impõem precondições, não há vontade política ou humanitária.

FOLHA - A sra. acredita que os seqüestrados policiais e militares recebam menos atenção do que os reféns políticos?
ORJUELA -
Sempre tivemos bem claro que aqui na Colômbia sempre existiram diferenças. Aqui, os políticos sempre têm as portas abertas com muita facilidade, principalmente nas instituições do Estado. Para nós é mais difícil. Recebemos menos atenção do que eles, mas temos conseguido.

FOLHA - Há quantos policiais e militares seqüestrados?
ORJUELA -
Neste momento, são 32 policiais e soldados que estão seqüestrados há nove, dez, 11 anos. Há também pelo menos 300 policiais e soldados desaparecidos. Além disso, também estamos esperando a entrega do cadáver do major da polícia Julián Ernesto Guevara Castro, que morreu em cativeiro no dia 20 de janeiro.


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