São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / MÍDIA ESCRUTINADA

Para eleitores, imprensa favorece Obama

Pré-candidato democrata também teve mais espaço nos últimos dias e é tratado sob enfoque majoritariamente positivo, diz estudo

Pesquisa do "Times" mostra que 48% vêem reportagens sobre Hillary como críticas demais; candidata reclamou de parcialidade em debate

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Na primeira metade do debate de anteontem entre os presidenciáveis democratas Hillary Clinton e Barack Obama, depois de ouvir uma pergunta sobre o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), a senadora citou o humorístico "Saturday Night Live".
No quadro de abertura da edição do último sábado, atores interpretam jornalistas no penúltimo debate, em Austin, no Texas, que mal conseguem conter o deslumbramento de estarem diante de "Obama", a quem tratam muito bem e fazem perguntas fáceis; já "Hillary" é recebida a patadas.
A alusão ao programa foi recebida com sarcasmo pela mesma imprensa que Hillary criticava. "Foi um momento baixo", disse John Dickerson, da revista eletrônica "Slate". "Atacar a imprensa é a coisa mais capenga que alguém pode fazer", escreveu Maureen Dowd, colunista do "New York Times". "É só pela boa vontade da imprensa que Hillary pôde perder onze disputas seguidas e ainda assim ser tratada como concorrente."
O problema é que a maior parte dos eleitores democratas concorda com a ex-primeira-dama: a imprensa local favorece Barack Obama em sua cobertura, acreditam, segundo pesquisa recente. Além disso, levantamento de uma entidade que estuda a mídia mostra que o senador supera sua rival em espaço dedicado a ele pela mídia, numa curva ascendente.
A primeira conclusão é um dos itens da pesquisa publicada na segunda-feira pelo jornal "The New York Times" e a emissora CBS. Indagados se achavam que a imprensa é mais crítica a Hillary, 48% dos ouvidos disseram sim, ante apenas 8% que acreditam que os veículos noticiosos tratem a candidata com complacência e 43% que enxergam imparcialidade.
Os números são diferentes quando o nome é Obama: só 14% acham que a imprensa é mais crítica em relação a ele, ante 33% que acham que é complacente e 52% que acham que é imparcial. O universo é sempre de eleitores democratas que votam em primárias, e o período do levantamento, entre os últimos dias 20 e 24.
Já estudo semanal do Project for Excellence in Journalism (projeto pela excelência do jornalismo, PEJ, na sigla em inglês), entidade não-governamental que monitora a atuação da mídia americana, conclui que o pré-candidato democrata vem obtendo cada vez mais espaço no noticiário.
No mais recente, que cobre a semana de 18 a 24 deste mês, Obama apareceu em 56,8% das reportagens, ante 49,9% para Hillary e 38,4% para o republicano John McCain. No anterior (de 11 a 17 de fevereiro), a ex-primeira-dama estava adiante, com 56,9%, seguida pelo senador democrata (55,4%) e o senador republicano (34,3%).
O PEJ não analisa o tom do material jornalístico, vindo de um universo de cerca de 500 reportagens exibidas ou publicadas nos principais telejornais de TV aberta e paga, jornais impressos, sites desses jornais e em noticiários de rádio.

Réquiem para Hillary
Mas a tendência, escreve Mark Jurkowitz, do projeto, é positiva para Obama e negativa para Hillary (segundo ele, a presença menor de McCain se deveria ao fato de ele já ser o candidato virtualmente escolhido pelo partido da situação.)
"Nos cantos de alguns palpiteiros inimigos de Hillary, seu obituário político já estava sendo preparado", escreve o jornalista, em relação à semana de 11 a 17 de fevereiro. "De modo oposto, Obama surfou numa onda de cobertura positiva, que o descrevia com uma real -se não decisiva- vantagem."
Howard Kurtz, colunista de mídia do "Washington Post", vê fundamento na reclamação da senadora. "Enquanto Hillary tem sido dissecada por tudo, de seu decote à sua risada, passando pelo choro, as controvérsias envolvendo Obama por algum motivo nunca parecem decolar na imprensa", disse.
Mas as coisas podem estar começando a mudar. Ontem, horas depois do debate, a CNN trouxe reportagem sobre a relação de Obama e o líder negro ultra-radical Louis Farrakhan, cuja polêmica foi mencionada anteontem por Hillary.


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