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SUCESSÃO NOS EUA / MÍDIA ESCRUTINADA
Para eleitores, imprensa favorece Obama
Pré-candidato democrata também teve mais espaço nos últimos dias e é tratado sob enfoque majoritariamente positivo, diz estudo
Pesquisa do "Times" mostra que 48% vêem reportagens sobre Hillary como críticas demais; candidata reclamou de parcialidade em debate
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Na primeira metade do debate de anteontem entre os presidenciáveis democratas Hillary
Clinton e Barack Obama, depois de ouvir uma pergunta sobre o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), a senadora citou o humorístico "Saturday Night Live".
No quadro de abertura da
edição do último sábado, atores
interpretam jornalistas no penúltimo debate, em Austin, no
Texas, que mal conseguem
conter o deslumbramento de
estarem diante de "Obama", a
quem tratam muito bem e fazem perguntas fáceis; já "Hillary" é recebida a patadas.
A alusão ao programa foi recebida com sarcasmo pela mesma imprensa que Hillary criticava. "Foi um momento baixo",
disse John Dickerson, da revista eletrônica "Slate". "Atacar a
imprensa é a coisa mais capenga que alguém pode fazer", escreveu Maureen Dowd, colunista do "New York Times". "É
só pela boa vontade da imprensa que Hillary pôde perder onze
disputas seguidas e ainda assim
ser tratada como concorrente."
O problema é que a maior
parte dos eleitores democratas
concorda com a ex-primeira-dama: a imprensa local favorece Barack Obama em sua cobertura, acreditam, segundo
pesquisa recente. Além disso,
levantamento de uma entidade
que estuda a mídia mostra que
o senador supera sua rival em
espaço dedicado a ele pela mídia, numa curva ascendente.
A primeira conclusão é um
dos itens da pesquisa publicada
na segunda-feira pelo jornal
"The New York Times" e a
emissora CBS. Indagados se
achavam que a imprensa é mais
crítica a Hillary, 48% dos ouvidos disseram sim, ante apenas
8% que acreditam que os veículos noticiosos tratem a candidata com complacência e 43%
que enxergam imparcialidade.
Os números são diferentes
quando o nome é Obama: só
14% acham que a imprensa é
mais crítica em relação a ele,
ante 33% que acham que é
complacente e 52% que acham
que é imparcial. O universo é
sempre de eleitores democratas que votam em primárias, e o
período do levantamento, entre os últimos dias 20 e 24.
Já estudo semanal do Project
for Excellence in Journalism
(projeto pela excelência do jornalismo, PEJ, na sigla em inglês), entidade não-governamental que monitora a atuação
da mídia americana, conclui
que o pré-candidato democrata
vem obtendo cada vez mais espaço no noticiário.
No mais recente, que cobre a
semana de 18 a 24 deste mês,
Obama apareceu em 56,8% das
reportagens, ante 49,9% para
Hillary e 38,4% para o republicano John McCain. No anterior
(de 11 a 17 de fevereiro), a ex-primeira-dama estava adiante,
com 56,9%, seguida pelo senador democrata (55,4%) e o senador republicano (34,3%).
O PEJ não analisa o tom do
material jornalístico, vindo de
um universo de cerca de 500
reportagens exibidas ou publicadas nos principais telejornais
de TV aberta e paga, jornais impressos, sites desses jornais e
em noticiários de rádio.
Réquiem para Hillary
Mas a tendência, escreve
Mark Jurkowitz, do projeto, é
positiva para Obama e negativa
para Hillary (segundo ele, a
presença menor de McCain se
deveria ao fato de ele já ser o
candidato virtualmente escolhido pelo partido da situação.)
"Nos cantos de alguns palpiteiros inimigos de Hillary, seu
obituário político já estava sendo preparado", escreve o jornalista, em relação à semana de 11
a 17 de fevereiro. "De modo
oposto, Obama surfou numa
onda de cobertura positiva, que
o descrevia com uma real -se
não decisiva- vantagem."
Howard Kurtz, colunista de
mídia do "Washington Post",
vê fundamento na reclamação
da senadora. "Enquanto Hillary tem sido dissecada por tudo, de seu decote à sua risada,
passando pelo choro, as controvérsias envolvendo Obama por
algum motivo nunca parecem
decolar na imprensa", disse.
Mas as coisas podem estar
começando a mudar. Ontem,
horas depois do debate, a CNN
trouxe reportagem sobre a relação de Obama e o líder negro
ultra-radical Louis Farrakhan,
cuja polêmica foi mencionada
anteontem por Hillary.
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