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Analistas relativizam retórica protecionista
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
O republicano John McCain
se diz a favor do livre-comércio.
Os democratas Barack Obama
e Hillary Clinton emitem contínuos ruídos protecionistas.
Mas, apesar das aparências, podem ser esses últimos os maiores vetores de mudança nas fechadas políticas comerciais
praticadas hoje pelos EUA.
"Com um democrata na Casa
Branca, a chance de movimento é maior, pois ele teria mais
chances de resolver outros gargalos da economia [que travam
a liberalização do comércio]",
diz Paulo Sotero, diretor do
Instituto Brasil do centro Woodrow Wilson, em Washington.
Ele conversou com a Folha
após um debate ontem na Câmara Americana de Comércio
(Amcham) em São Paulo, do
qual também participou, entre
outros, Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil nos EUA.
Ambos afirmam que para
promover abertura econômica
nos EUA é preciso resolver a
universalização dos seguros-saúde, o treinamento de desempregados e o valor da moeda chinesa -supostamente sob
desvalorização artificial. E, para isso, Obama ou Hillary teriam mais legitimidade em um
Congresso de maioria democrata do que McCain.
Anti-Nafta
As avaliações dos especialistas oferecem uma visão mais
positiva das perspectivas vislumbradas para o livre-comércio do que os discursos democratas permitiram até agora.
Exemplo claro foi o debate
protagonizado por Obama e
Hillary na última terça, no qual
eles defenderam a revisão do
Nafta, acordo que em 1994 aboliu parte das tarifas comerciais
entre EUA, Canadá e México.
"Direi [caso eleita] que abandonaremos o Nafta se ele não
for renegociado em termos
mais favoráveis a toda a América", afirmou Hillary.
"Devemos usar a ameaça de
uma retirada do Nafta para ter
certeza de que padrões trabalhistas e ambientais serão implantados", completou Obama.
Mas ele fez uma ressalva,
confirmando a percepção de
que a rival é mais dura no tema
protecionista: "Não podemos
nos afastar da globalização".
Para Sotero, os líderes democratas sabem que a globalização
provavelmente não é a causa do
desemprego americano - mas
também sabem que é isso que
os eleitores pensam. "Eles não
têm segurança para contestar
isso durante a campanha."
Abdenur diz, porém, que "é
preciso diferenciar campanha
de prática". "Há limites para o
protecionismo. (...) As barreiras
hoje sofridas pelo Brasil, por
exemplo -em açúcar, etanol,
suco de laranja - vão "cair de
podres", pois não fazem sentido
a rigor do ponto de vista do interesse americano."
Vale lembrar que as ameaças
democratas foram feitas em
Ohio -cujas prévias, cruciais,
são nesta terça. O Estado produz milho (portanto o interessa
a questão do álcool) e foi fortemente atingido pelo desemprego desde a assinatura do Nafta.
México e Canadá já reagiram
às críticas e se opuseram à revisão do acordo em declarações
ao jornal "Financial Times".
Apesar da posição pouco
alarmista quanto ao protecionismo, Abdenur teme um possível dano colateral causado pela lentidão na liberalização comercial: o enfraquecimento da
Organização Mundial do Comércio. "A OMC, em vez de
promover o comércio, poderá
se reduzir a um foro de litígios,
o que geraria muito desgaste."
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