São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Analistas relativizam retórica protecionista

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

O republicano John McCain se diz a favor do livre-comércio. Os democratas Barack Obama e Hillary Clinton emitem contínuos ruídos protecionistas. Mas, apesar das aparências, podem ser esses últimos os maiores vetores de mudança nas fechadas políticas comerciais praticadas hoje pelos EUA.
"Com um democrata na Casa Branca, a chance de movimento é maior, pois ele teria mais chances de resolver outros gargalos da economia [que travam a liberalização do comércio]", diz Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do centro Woodrow Wilson, em Washington.
Ele conversou com a Folha após um debate ontem na Câmara Americana de Comércio (Amcham) em São Paulo, do qual também participou, entre outros, Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil nos EUA.
Ambos afirmam que para promover abertura econômica nos EUA é preciso resolver a universalização dos seguros-saúde, o treinamento de desempregados e o valor da moeda chinesa -supostamente sob desvalorização artificial. E, para isso, Obama ou Hillary teriam mais legitimidade em um Congresso de maioria democrata do que McCain.

Anti-Nafta
As avaliações dos especialistas oferecem uma visão mais positiva das perspectivas vislumbradas para o livre-comércio do que os discursos democratas permitiram até agora.
Exemplo claro foi o debate protagonizado por Obama e Hillary na última terça, no qual eles defenderam a revisão do Nafta, acordo que em 1994 aboliu parte das tarifas comerciais entre EUA, Canadá e México.
"Direi [caso eleita] que abandonaremos o Nafta se ele não for renegociado em termos mais favoráveis a toda a América", afirmou Hillary.
"Devemos usar a ameaça de uma retirada do Nafta para ter certeza de que padrões trabalhistas e ambientais serão implantados", completou Obama.
Mas ele fez uma ressalva, confirmando a percepção de que a rival é mais dura no tema protecionista: "Não podemos nos afastar da globalização".
Para Sotero, os líderes democratas sabem que a globalização provavelmente não é a causa do desemprego americano - mas também sabem que é isso que os eleitores pensam. "Eles não têm segurança para contestar isso durante a campanha."
Abdenur diz, porém, que "é preciso diferenciar campanha de prática". "Há limites para o protecionismo. (...) As barreiras hoje sofridas pelo Brasil, por exemplo -em açúcar, etanol, suco de laranja - vão "cair de podres", pois não fazem sentido a rigor do ponto de vista do interesse americano."
Vale lembrar que as ameaças democratas foram feitas em Ohio -cujas prévias, cruciais, são nesta terça. O Estado produz milho (portanto o interessa a questão do álcool) e foi fortemente atingido pelo desemprego desde a assinatura do Nafta.
México e Canadá já reagiram às críticas e se opuseram à revisão do acordo em declarações ao jornal "Financial Times".
Apesar da posição pouco alarmista quanto ao protecionismo, Abdenur teme um possível dano colateral causado pela lentidão na liberalização comercial: o enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio. "A OMC, em vez de promover o comércio, poderá se reduzir a um foro de litígios, o que geraria muito desgaste."


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