São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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"Parapolítica" revive em eleição colombiana

Após escândalo que envolveu mais de cem parlamentares, políticos ligados a paramilitares se reorganizam para voltar ao Congresso

Pleito legislativo acontece daqui a duas semanas e foi ofuscado até anteontem pela discussão em torno do terceiro mandato de Uribe

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eclipsadas pelo suspense em torno do referendo sobre o terceiro mandato de Álvaro Uribe -só enterrado pela Justiça anteontem-, as eleições parlamentares na Colômbia, no próximo dia 14, preocupam analistas e ativistas de direitos humanos: a votação deve selar a permanência de políticos ligados a grupos armados ilegais, paramilitares e narcotraficantes no Congresso.
Desde 2007, a Justiça do país abriu processos contra 107 dos 268 parlamentares (166 deputados e 102 senadores) para apurar se haviam recebido dinheiro para representar no Parlamento os interesses de paramilitares. Ao menos 12 já foram condenados à prisão -a maioria fazia parte da base governista, mas também há oposicionistas entre os detidos que esperam julgamento.
Por algumas semanas, em 2008, a Colômbia debateu até se, com o escândalo batizado de "parapolítica", não era melhor dissolver o Congresso e fazer novas eleições.
Mas a maior investigação contra políticos na história parlamentar recente não foi constrangimento suficiente para que os acusados ou seus indicados deixassem de se apresentar nas eleições do mês que vem.
"O referendo de Uribe tomou a agenda do país, e a não aprovação da reforma política deixou muito espaço para que os herdeiros da parapolítica se camuflem e voltem a se candidatar", diz Fabián Hernández Cadena, da Missão de Observação Eleitoral (MOE), formada por ONGs de oito países.
A reforma política debatida no Congresso optou por não punir os partidos envolvidos no escândalo da parapolítica. Após o desgaste da crise, algumas legendas decidiram mudar de nome para concorrer.
É o caso do Partido da Integração Nacional (PIN), formado pelo que sobrou da Convergência Cidadã. Segundo a ONG Corporação Novo Arco-Íris, que mantém um observatório do conflito armado colombiano, 21 candidatos ao Senado da nova sigla têm envolvimento com investigações em curso sobre paramilitares.
O fundador da Convergência Cidadã, o ex-senador Luis Alberto Gil, está preso, e da cadeia coordenou não só o lançamento do PIN como a candidatura de sua mulher, Doris Vega Quiroz, ao Senado. A Convergência Cidadã também doou ex-integrantes para a formação da nova ADN (Aliança Democrática Nacional), que, como o PIN, aninha-se na base governista.
Mas a oposição também não sai ilesa de um escrutínio: segundo a Corporação Novo Arco-Íris, ao menos cinco aspirantes ao Senado do tradicional Partido Liberal, do candidato à Presidência Rafael Pardo, estão envolvidos com a parapolítica.


Partido das pirâmides
Outro escândalo marcante, o da quebra de dezenas de esquemas de "pirâmides financeiras" em 2008, com prejuízo estimado em US$ 2 bilhões, também será representado na eleição.
O irmão de David Murcia Guzmán, dono da DMG, central no esquema das pirâmides, lançou a sigla DMG-Abertura Liberal -Murcia foi extraditado para os EUA, onde responderá por lavagem de dinheiro.
Oscar Sevillana, responsável pelos levantamentos do tema na ONG Novo Arco-Íris, elogia a Justiça, mas diz que o trabalho está longe de ser suficiente. Alerta para o efeito de longo prazo da manobra. "São essas pessoas que vão votar a nossa legislação sobre lavagem de dinheiro, sobre regras para investigar narcotráfico e delitos políticos", afirma.


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