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"Parapolítica" revive em eleição colombiana
Após escândalo que envolveu mais de cem parlamentares, políticos ligados a paramilitares se reorganizam para voltar ao Congresso
Pleito legislativo acontece daqui a duas semanas e foi ofuscado até anteontem pela discussão em torno do terceiro mandato de Uribe
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Eclipsadas pelo suspense em
torno do referendo sobre o terceiro mandato de Álvaro Uribe
-só enterrado pela Justiça anteontem-, as eleições parlamentares na Colômbia, no próximo dia 14, preocupam analistas e ativistas de direitos humanos: a votação deve selar a permanência de políticos ligados a
grupos armados ilegais, paramilitares e narcotraficantes no
Congresso.
Desde 2007, a Justiça do país
abriu processos contra 107 dos
268 parlamentares (166 deputados e 102 senadores) para
apurar se haviam recebido dinheiro para representar no
Parlamento os interesses de
paramilitares. Ao menos 12 já
foram condenados à prisão -a
maioria fazia parte da base governista, mas também há oposicionistas entre os detidos que
esperam julgamento.
Por algumas semanas, em
2008, a Colômbia debateu até
se, com o escândalo batizado de
"parapolítica", não era melhor
dissolver o Congresso e fazer
novas eleições.
Mas a maior investigação
contra políticos na história parlamentar recente não foi constrangimento suficiente para
que os acusados ou seus indicados deixassem de se apresentar
nas eleições do mês que vem.
"O referendo de Uribe tomou
a agenda do país, e a não aprovação da reforma política deixou muito espaço para que os
herdeiros da parapolítica se camuflem e voltem a se candidatar", diz Fabián Hernández Cadena, da Missão de Observação
Eleitoral (MOE), formada por
ONGs de oito países.
A reforma política debatida
no Congresso optou por não
punir os partidos envolvidos no
escândalo da parapolítica. Após
o desgaste da crise, algumas legendas decidiram mudar de nome para concorrer.
É o caso do Partido da Integração Nacional (PIN), formado pelo que sobrou da Convergência Cidadã. Segundo a ONG
Corporação Novo Arco-Íris,
que mantém um observatório
do conflito armado colombiano, 21 candidatos ao Senado da
nova sigla têm envolvimento
com investigações em curso sobre paramilitares.
O fundador da Convergência
Cidadã, o ex-senador Luis Alberto Gil, está preso, e da cadeia
coordenou não só o lançamento do PIN como a candidatura
de sua mulher, Doris Vega Quiroz, ao Senado. A Convergência
Cidadã também doou ex-integrantes para a formação da nova ADN (Aliança Democrática
Nacional), que, como o PIN,
aninha-se na base governista.
Mas a oposição também não
sai ilesa de um escrutínio: segundo a Corporação Novo Arco-Íris, ao menos cinco aspirantes ao Senado do tradicional
Partido Liberal, do candidato à
Presidência Rafael Pardo, estão
envolvidos com a parapolítica.
Partido das pirâmides
Outro escândalo marcante, o
da quebra de dezenas de esquemas de "pirâmides financeiras"
em 2008, com prejuízo estimado em US$ 2 bilhões, também
será representado na eleição.
O irmão de David Murcia
Guzmán, dono da DMG, central no esquema das pirâmides,
lançou a sigla DMG-Abertura
Liberal -Murcia foi extraditado para os EUA, onde responderá por lavagem de dinheiro.
Oscar Sevillana, responsável
pelos levantamentos do tema
na ONG Novo Arco-Íris, elogia
a Justiça, mas diz que o trabalho está longe de ser suficiente.
Alerta para o efeito de longo
prazo da manobra. "São essas
pessoas que vão votar a nossa
legislação sobre lavagem de dinheiro, sobre regras para investigar narcotráfico e delitos políticos", afirma.
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