São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

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Ódio a Gaddafi emergiu "de repente", dizem resgatados

DO ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

Foi tudo muito rápido -de um dia para o outro, pessoas pacatas se tornaram guerrilheiros dispostos a tudo para derrubar uma ditadura.
Essa é a impressão que ficou para os brasileiros que até sábado viviam em Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia, hoje uma espécie de capital para os opositores de Muammar Gaddafi.
"As pessoas enfrentavam tanques apenas com pedras nas mãos. Os que estavam na frente morriam, mas os outros continuavam. Só depois de tomarem o quartel é que tiveram acesso a armas. Aí, saíram dando tiros para o alto", diz Roberto Roche, que viveu três anos em Benghazi.
"A gente não via essa oposição ao Gaddafi. Havia um clima de medo, e os líbios quase não falavam dele. De repente, o ódio emergiu."
Roche testemunhou conflitos em outro país, mas diz que desta vez foi bem diferente. "Morei no Equador, onde acompanhei golpes e tentativas de golpes. Mas nunca havia visto nada parecido. Foi sangrento."
Para Viviane Leite, que morou em Benghazi por dois anos com o marido e dois filhos, um de 7 anos e uma de 2, a transformação da cidade foi uma grande surpresa.
"Benghazi era uma cidade muito tranquila. Tínhamos uma vida pacata. Ninguém podia imaginar que iria acontecer o que aconteceu."
"Dizem que Benghazi significa o filho do guerreiro. E foi o que a gente viu nas ruas, guerreiros", diz Luciano Leite, marido de Viviane. "Vi caminhões e caminhões com mercenários, mas o povo foi para cima deles."
Alguns dos brasileiros que estavam no navio que saiu de Benghazi mostravam em computadores ou celulares imagens de pessoas dilaceradas. Elas foram feitas por amigos líbios para que fossem mostradas ao mundo e revelassem as atrocidades dos mercenários de Gaddafi.
Para Emir Mourad, que ficou três anos na região, os brasileiros não percebiam a oposição porque ela era silenciosa. Sobre o espírito guerreiro, afirma: "O líbio é obrigado a servir no Exército. São treinados para lutar".
Após a divulgação de críticas à demora da Queiroz Galvão e do Itamaraty em tirar o grupo de brasileiros da Líbia, ontem quase ninguém queria comentar o assunto. Quem falava só elogiava.
A empreiteira não revelou o custo do resgate. A Folha apurou que a proprietária da embarcação pediu cerca de 300 mil (R$ 685 mil) por dia pelo fretamento, o que levaria o preço total a 1,2 milhão (R$ 2,7 milhões).
Ainda dentro do navio, enquanto esperavam o trâmite da documentação para desembarcar na Grécia, os 148 brasileiros foram avisados de que seguiriam hoje de manhã (horário local) para Lisboa e, depois, para Recife, onde devem chegar às 22h.
Todos aplaudiram. Alguns choraram de novo. (VM)


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