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PROTESTOS
Reunião de muçulmanos em mesquitas deve inflar ainda mais protestos contra guerra
Dia de orações preocupa líderes árabes
RICARDO SETYON
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO CAIRO
Hoje é o dia mais sagrado da semana para a religião islâmica,
quando os cerca de 1,3 bilhão de
muçulmanos reúnem-se nas mesquitas para rezar juntos.
A concentração de fiéis neste
momento de guerra no Iraque
transformou-se no pior pesadelo
dos governantes árabes moderados, que temem que a revolta das
ruas com o que está ocorrendo
em Bagdá e Basra desestabilizem
seus regimes.
Na sexta-feira passada, as ruas
de Cairo, Beirute, Sanaa (Iêmen) e
Damasco, soaram os primeiros
ecos de revolta da população, alimentada pela cobertura das TVs
locais, que repetem incessantemente as imagens de vítimas iraquianas da guerra.
As autoridades foram pegas de
surpresa. As polícias do mundo
árabe terminaram agindo violentamente. No Iêmen, ao menos
dois manifestantes morreram.
A semana passou, e os protestos
seguiram em um número ainda
maior de países árabes e muçulmanos. Do interior do Egito à periferia de Beirute. Das ruas de Manama, capital do Bahrein, até universidades em Omã. Enquanto isso, a liderança árabe, reunida na
segunda-feira no Cairo em encontro da Liga Árabe, mostrou ao
mundo sua tradicional desunião
em momentos decisivos.
O presidente do mais importante país árabe, Hosni Mubarak, do
Egito, já disse: "Não durmo mais
sem pensar horas e horas em como encontrar um cessar-fogo no
Iraque". Mas, ao mesmo tempo,
expediu um comunicado urgente
à Síria, exigindo explicações sobre
várias manifestações nas quais foi
acusado de "traidor da nação árabe" por ser um dos principais
aliados dos EUA na região.
Paralelamente ao grande temor
dos líderes árabes com as demonstrações que devem ocorrer
hoje, vários representantes das
polícias da região mantêm contato contínuo, na tentativa de controlar as manifestações. Nas universidades do Cairo os protestos
só podem ocorrer com permissão
da polícia.
Nas mesquitas, os líderes religiosos devem fazer discursos ainda mais inflamados do que os da
última sexta-feira, alimentados
por ataques como o contra rua
comercial de Bagdá anteontem,
que matou ao menos 15 civis.
Ao contrário dos chamados e
orações específicos transmitidos
diariamente pelos alto-falantes de
todas as mesquitas, na sexta-feira
os líderes religiosos islâmicos têm
longos períodos de tempo para falar aos fiéis.
Ao longo da semana, o grupo
terrorista palestino Hamas pediu
jejum ao mundo árabe inteiro em
protesto contra a guerra. No Egito, os maiores líderes religiosos
pediram, na quarta-feira, uma "jihad" contra os EUA e seus aliados
no mundo inteiro. Essa "guerra santa", segundo os líderes no Egito, poderia ser feita de qualquer maneira: desde lutar contra o inimigo no Iraque até mesmo boicotar produtos americanos ou "falar mal do inimigo".
Mas o informe mais preocupante para as autoridades árabes chegou ontem. Na Síria, em um comunicado difundido em todo o mundo árabe através da TV, o
mufti (líder religioso) Ahmad Kaftari disse que "os fiéis islâmicos devem atacar o inimigo, buscando o martírio, mesmo que custe a própria vida, atingindo os
invasores do Iraque de forma mortal". E isso ainda antes da reza
de hoje.
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