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São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2003

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PROTESTOS

Reunião de muçulmanos em mesquitas deve inflar ainda mais protestos contra guerra

Dia de orações preocupa líderes árabes

RICARDO SETYON
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DO CAIRO

Hoje é o dia mais sagrado da semana para a religião islâmica, quando os cerca de 1,3 bilhão de muçulmanos reúnem-se nas mesquitas para rezar juntos.
A concentração de fiéis neste momento de guerra no Iraque transformou-se no pior pesadelo dos governantes árabes moderados, que temem que a revolta das ruas com o que está ocorrendo em Bagdá e Basra desestabilizem seus regimes.
Na sexta-feira passada, as ruas de Cairo, Beirute, Sanaa (Iêmen) e Damasco, soaram os primeiros ecos de revolta da população, alimentada pela cobertura das TVs locais, que repetem incessantemente as imagens de vítimas iraquianas da guerra.
As autoridades foram pegas de surpresa. As polícias do mundo árabe terminaram agindo violentamente. No Iêmen, ao menos dois manifestantes morreram.
A semana passou, e os protestos seguiram em um número ainda maior de países árabes e muçulmanos. Do interior do Egito à periferia de Beirute. Das ruas de Manama, capital do Bahrein, até universidades em Omã. Enquanto isso, a liderança árabe, reunida na segunda-feira no Cairo em encontro da Liga Árabe, mostrou ao mundo sua tradicional desunião em momentos decisivos.
O presidente do mais importante país árabe, Hosni Mubarak, do Egito, já disse: "Não durmo mais sem pensar horas e horas em como encontrar um cessar-fogo no Iraque". Mas, ao mesmo tempo, expediu um comunicado urgente à Síria, exigindo explicações sobre várias manifestações nas quais foi acusado de "traidor da nação árabe" por ser um dos principais aliados dos EUA na região.
Paralelamente ao grande temor dos líderes árabes com as demonstrações que devem ocorrer hoje, vários representantes das polícias da região mantêm contato contínuo, na tentativa de controlar as manifestações. Nas universidades do Cairo os protestos só podem ocorrer com permissão da polícia.
Nas mesquitas, os líderes religiosos devem fazer discursos ainda mais inflamados do que os da última sexta-feira, alimentados por ataques como o contra rua comercial de Bagdá anteontem, que matou ao menos 15 civis.
Ao contrário dos chamados e orações específicos transmitidos diariamente pelos alto-falantes de todas as mesquitas, na sexta-feira os líderes religiosos islâmicos têm longos períodos de tempo para falar aos fiéis.
Ao longo da semana, o grupo terrorista palestino Hamas pediu jejum ao mundo árabe inteiro em protesto contra a guerra. No Egito, os maiores líderes religiosos pediram, na quarta-feira, uma "jihad" contra os EUA e seus aliados no mundo inteiro. Essa "guerra santa", segundo os líderes no Egito, poderia ser feita de qualquer maneira: desde lutar contra o inimigo no Iraque até mesmo boicotar produtos americanos ou "falar mal do inimigo".
Mas o informe mais preocupante para as autoridades árabes chegou ontem. Na Síria, em um comunicado difundido em todo o mundo árabe através da TV, o mufti (líder religioso) Ahmad Kaftari disse que "os fiéis islâmicos devem atacar o inimigo, buscando o martírio, mesmo que custe a própria vida, atingindo os invasores do Iraque de forma mortal". E isso ainda antes da reza de hoje.


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