São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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FRANÇA

Se centro-direita sair derrotada em segundo turno de eleições hoje, o presidente Chirac poderá demitir Raffarin

Eleições regionais podem derrubar o premiê francês

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O segundo turno das eleições regionais francesas, que ocorre hoje, é vital para o futuro político do premiê Jean-Pierre Raffarin, que deverá perder seu posto se o centro-direita, do presidente Jacques Chirac, amargar outra derrota como a do primeiro turno.
No domingo passado, o centro-direita ficou com cerca de 34% dos votos, seis pontos percentuais atrás da "esquerda tradicional", sua maior rival. O resultado foi visto como uma derrota pessoal para Raffarin, que já vinha sendo pressionado por conta de seu projeto de reformas (que tirará força do Estado do Bem-Estar Social francês) e do aumento do desemprego, que está em torno de 9%.
Buscando limitar os estragos no segundo turno, Raffarin foi obrigado a chamar para a cúpula do comitê de campanha do bloco de centro-direita o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, bastante popular entre os eleitores da ala mais conservadora da direita francesa graças à sua firmeza no combate à insegurança vivida -ou sentida- pela população do país.
Embora possa funcionar a curto prazo, impedindo a derrocada eleitoral do centro-direita, a decisão de Raffarin, que se tornou o "condutor" da campanha, poderá custar-lhe caro a médio e longo prazos.
Afinal, sendo o "motor" da campanha do partido de Chirac (UMP), Sarkozy -cuja aspiração política é tornar-se premiê, segundo especialistas- não deverá contentar-se em permanecer numa posição secundária.
Ademais, a UMP (União por um Movimento Popular) ficou sem presidente desde que o ex-premiê Alain Juppé foi condenado por corrupção, no final de janeiro. Chirac pretendia indicar o nome de Raffarin para a presidência do partido, porém o fracasso eleitoral do último domingo o enfraqueceu consideravelmente, abrindo caminho para Sarkozy.
O primeiro turno deu novo ânimo ao centro-esquerda, conhecido como "esquerda tradicional" na França. Mesmo assim, o presidente do Partido Socialista, François Hollande, exortou seus colegas a manter a modéstia.
Ele sabe que o claro triunfo da esquerda no último domingo não será de grande valia se não for confirmado hoje. Ademais, analistas ressaltam que os eleitores de esquerda foram mais ativos no último domingo e que aqueles fiéis à direita deverão comparecer às urnas em maior número hoje.
Hollande também sabe que boa parte do sucesso do PS é ligada ao fracasso da UMP, ou seja, à intenção do eleitorado de punir o governo. Ainda assim, após a catástrofe da eleição presidencial de 2002, quando o candidato socialista, o então premiê Lionel Jospin, não conseguiu nem chegar ao segundo turno, o resultado de domingo passado foi alentador.
O centro-esquerda quer ganhar mais cinco ou seis administrações regionais, que se somariam às oito que já tem, roubando a maioria do centro-direita. Há 22 regiões administrativas na França. Até em Poitou-Charentes, feudo político de Raffarin, o PS tem boas chances no segundo turno. Segundo pesquisas, Ségolène Royal, mulher de Hollande, é favorita.
Apesar de seus quase 17%, o primeiro turno foi uma decepção para a extrema direita, que esperava chegar aos 20%. O cenário geral parecia ser favorável à Frente Nacional, de Jean-Marie Le Pen (que perdeu para Chirac no segundo turno da eleição presidencial de 2002), pois o crescimento do desemprego, a tensão social, o debate sobre o uso do véu islâmico nas escolas públicas e a ameaça terrorista formam um contexto favorável ao extremismo político.
Somados, os movimentos de extrema direita ficaram com 16,6%, contra 19,3% em 1998, o que constituiu uma perda de cerca de 1,5 milhão de votos. A Frente Nacional, por sua vez, manteve-se estável, com pouco mais de 15%.
Por outro lado, ficou claro que há um fenômeno de implantação regional da FN e que ela ganhou espaço em regiões antes avessas às suas idéias radicais. Novamente, assim, a direita percebeu que uma coisa é não misturar-se com o diabo, fugindo de qualquer forma de aliança com a extrema direita, outra é conseguir destruí-lo.
E, embora Chirac tergiverse, o futuro político de Raffarin depende do resultado eleitoral de hoje.


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