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ORIENTE MÉDIO
Para analistas, grupo terrorista tentará ser mais letal após eliminação de Yassin, mas não se compara à Al Qaeda
Assassinato de líder pode fortalecer Hamas
GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO
O grupo terrorista Hamas pode
até aumentar a escala de suas
ações após a morte do seu líder, o
xeque Ahmed Yassin, na semana
passada em ataque de Israel. Porém dificilmente essa organização
palestina, responsável por dezenas de atentados contra israelenses, se converterá em uma força
da dimensão da rede terrorista Al
Qaeda, que realiza operações que
deixam centenas de mortos.
A avaliação é de especialistas
ouvidos pela Folha, que, por outro lado, consideram provável
que o Hamas se fortaleça nos territórios palestinos, especialmente
na faixa de Gaza, de onde Israel
afirma que se retirará nos próximos meses.
"O Hamas é uma organização
cujos militantes não são altamente treinados, apesar de extremamente comprometidos com a
causa que defendem. Eles não têm
a habilidade para realizar as ações
da Al Qaeda", diz o professor palestino Issam Nassar, da Universidade Al Quds, em Jerusalém.
O professor lembra que o Hamas afirmou que não pretende
atacar alvos fora de Israel ou dos
territórios ocupados na guerra
árabe-israelense de 1967, apesar
de, no calor do dia do assassinato
de Yassin, o grupo ter ameaçado
agir contra americanos e israelenses fora de Israel -mais tarde, os
líderes voltaram atrás.
Yoram Shweitzer, especialista
em terror do Centro Jaffee para
Estudos Estratégicos, em Tel
Aviv, concorda com Nassar. "A
ideologia e a estrutura do Hamas
indicam que ele não agirá nos
moldes da Al Qaeda em outras
partes do mundo. Não é prático."
O especialista israelense ressalta, no entanto, que o Hamas já
tentou operações de larga escala
em Israel e nunca obteve o sucesso esperado. O recente ataque
contra o porto de Ashdod, o segundo mais movimentado de Israel, deveria ter sido de uma proporção bem maior do que o seu
resultado final -que deixou ao
menos dez mortos.
Considerando o terrorismo algo
difícil de prever, o professor Rashid Khalidi, chefe do Instituto de
Oriente Médio da Universidade
Columbia, em Nova York, afirma
que é "impossível saber" se o Hamas agirá como a Al Qaeda.
Para Khalidi, por enquanto, só
se pode prever que o Hamas se
fortalecerá, ao menos a curto prazo. Nassar, da Universidade Al
Quds, afirma que tudo dependerá
de como o Hamas responderá ao
assassinato de Yassin. O editor do
diário libanês "The Daily Star",
Rami Khoury, escreveu em um
artigo que o Hamas deve se tornar
muito mais letal, "dividido em pequenas células autônomas menos
disciplinadas" e mais violentas.
O israelense Shweitzer discorda
deles, apesar de ressaltar que o
Hamas pode "qualificar-se" com
o apoio do grupo extremista islâmico libanês Hizbollah e do Irã.
"Mais forte, tenho certeza, o Hamas não ficará." Essa fraqueza,
acrescenta o israelense, não significa que o grupo terrorista não
responderá à morte de Yassin.
"Eles [os líderes do Hamas] devem estar planejando ataques
contra alvos simbólicos de Israel.
Tentarão, sim, atacar as lideranças israelenses, inclusive Sharon.
Mas as forças de combate ao terrorismo de Israel sabem disso e
estão preparadas."
Os dois principais líderes da organização depois da morte de
Yassin, Abdel Aziz Rantisi e Khaled Meshaal, disseram que vão alvejar os líderes israelenses. "Como o inimigo atingiu o nosso líder, um símbolo como Ahmed
Yassin, é legítimo que a nossa resistência responda contra as lideranças sionistas", disse Meshaal.
Meshaal ainda é visto como um
pouco mais moderado do que
Rantisi, considerado um linha-dura, que pode radicalizar ainda
mais o Hamas. "Yassin aceitava
tréguas contra israelenses. Rantisi
é mais radical", afirma Khalidi, da
Universidade Columbia.
Copiando os americanos no Iraque, o Hamas na semana passada
distribuiu um baralho com os
rostos de autoridades israelenses,
consideradas as mais procuradas
pelo grupo. O diário israelense
"Haaretz" lembra que, para demonstrar a radicalização do grupo, entre os rostos que lá aparecem, ao lado do de Sharon, está o
do esquerdista israelense Yossi
Sarid, um dos principais críticos e
opositores do premiê.
Nos ataques contra outros líderes do Hamas -como Ismail Abu
Shanab e Salah Shehada, ambos
bem menos importantes que Yassin-, a resposta não foi contra líderes israelenses, e sim contra os
alvos tradicionais -civis.
Mas, se a reação do Hamas contra Israel ainda é uma incógnita,
há um consenso de que o grupo
poderá sair fortalecido nos territórios palestinos, especialmente
na faixa de Gaza.
"A Autoridade Nacional Palestina [presidida por Iasser Arafat]
está cada vez mais fraca", diz Khalidi, acrescentando que a ANP e o
Hamas já estão se enfrentando.
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