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Cristina rejeita diálogo "com arma na cabeça"
Em ato convocado por Kirchner, presidente argentina diz que só conversará com produtores rurais se locaute parar
Mandatária liga panelaços a defensores da ditadura; fala é bem recebida pelos líderes da paralisação, que esperam novas "medidas concretas"
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
A presidente da Argentina,
Cristina Fernández de Kirchner, afirmou ontem que "dialogar com uma arma na cabeça é
muito difícil" e reiterou que só
negociará com os produtores
rurais depois que interromperem o locaute que ontem completou 15 dias. "Peço que parem
com o locaute para então dialogarmos", disse Cristina em discurso para milhares de militantes peronistas em um ato organizado por seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner.
A fala de Cristina foi a primeira após o duro discurso de
terça-feira, no qual falara de
"piquetes da abundância" e
após o qual se intensificaram os
protestos do setor e se iniciaram os "panelaços" da classe
média em Buenos Aires e no interior. Um novo panelaço começou ontem assim que Cristina acabou de discursar.
No ato, a presidente disse
que não acredita que os protestos dos últimos dias contra o
governo foram espontâneos.
"Vi caras de defensores de genocidas [referência aos integrantes da última ditadura militar, que voltaram a ser julgados após a revogação de leis de
anistia no governo Kirchner]."
Para ela, as manifestações
têm a ver com o fato de ser mulher. "Ouvi provocações, para
não dizer insultos, à minha
condição de mulher, mas não
doeram", disse.
Após o discurso, os dirigentes
das quatro entidades agropecuárias do país, que comandam
o locaute, convocaram uma
reunião de urgência para discutir uma futura ação.
Não divulgaram um comunicado oficial, mas afirmaram à
imprensa que receberam bem a
fala da presidente e que esperam que os ministros possam
"traduzir" o que significa o discurso em medidas concretas.
Aproximações
Antes do discurso e depois de
dias de acusações entre os dois
lados, os presidentes das entidades divulgaram um comunicado informando que estavam
abertos a "conciliar posições" e
pediram "uma instância de diálogo que consiga a reconciliação dos argentinos".
Apesar de o governo negar, a
imprensa argentina relatou
que durante todo o dia ocorreram negociações entre o governador da província de Buenos
Aires, o kirchnerista Daniel
Scioli, e os líderes do locaute
para tentar destravar o diálogo.
Ontem, o secretário de Comércio, Guillermo Moreno, começou a comandar um plano
para garantir o abastecimento
de alimentos. Ele enviou representantes da gendarmeria (polícia de fronteira) para liberar a
passagem em alguns pontos de
rodovias do país.
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