São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Cristina rejeita diálogo "com arma na cabeça"

Em ato convocado por Kirchner, presidente argentina diz que só conversará com produtores rurais se locaute parar

Mandatária liga panelaços a defensores da ditadura; fala é bem recebida pelos líderes da paralisação, que esperam novas "medidas concretas"

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

A presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, afirmou ontem que "dialogar com uma arma na cabeça é muito difícil" e reiterou que só negociará com os produtores rurais depois que interromperem o locaute que ontem completou 15 dias. "Peço que parem com o locaute para então dialogarmos", disse Cristina em discurso para milhares de militantes peronistas em um ato organizado por seu marido, o ex-presidente Néstor Kirchner.
A fala de Cristina foi a primeira após o duro discurso de terça-feira, no qual falara de "piquetes da abundância" e após o qual se intensificaram os protestos do setor e se iniciaram os "panelaços" da classe média em Buenos Aires e no interior. Um novo panelaço começou ontem assim que Cristina acabou de discursar.
No ato, a presidente disse que não acredita que os protestos dos últimos dias contra o governo foram espontâneos. "Vi caras de defensores de genocidas [referência aos integrantes da última ditadura militar, que voltaram a ser julgados após a revogação de leis de anistia no governo Kirchner]."
Para ela, as manifestações têm a ver com o fato de ser mulher. "Ouvi provocações, para não dizer insultos, à minha condição de mulher, mas não doeram", disse.
Após o discurso, os dirigentes das quatro entidades agropecuárias do país, que comandam o locaute, convocaram uma reunião de urgência para discutir uma futura ação.
Não divulgaram um comunicado oficial, mas afirmaram à imprensa que receberam bem a fala da presidente e que esperam que os ministros possam "traduzir" o que significa o discurso em medidas concretas.

Aproximações
Antes do discurso e depois de dias de acusações entre os dois lados, os presidentes das entidades divulgaram um comunicado informando que estavam abertos a "conciliar posições" e pediram "uma instância de diálogo que consiga a reconciliação dos argentinos".
Apesar de o governo negar, a imprensa argentina relatou que durante todo o dia ocorreram negociações entre o governador da província de Buenos Aires, o kirchnerista Daniel Scioli, e os líderes do locaute para tentar destravar o diálogo.
Ontem, o secretário de Comércio, Guillermo Moreno, começou a comandar um plano para garantir o abastecimento de alimentos. Ele enviou representantes da gendarmeria (polícia de fronteira) para liberar a passagem em alguns pontos de rodovias do país.


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