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Vidrados em carne, portenhos lamentam sumiço dos melhores cortes das gôndolas
DE BUENOS AIRES
Depois de 15 dias de locaute
agropecuário, sobram caminhões parados nas estradas argentinas e faltam alimentos nas
prateleiras dos supermercados.
Antes restrito a açougues e aos
populares mercadinhos chineses do país, o desabastecimento
começa a se espalhar pelas
grandes redes de supermercados de Buenos Aires.
Uma pesquisa do Centro de
Educação ao Consumidor
constatou que 90% dos supermercados não tinha os principais cortes de carne, "só carne
picada, de baixa qualidade".
Num supermercado onde as
prateleiras de carne foram
preenchidas com vinhos e ovos,
a professora María Elena Barrosa, 52, caça um pedaço de carne entre cortes de frango e porco, sem sucesso. "Minha mãe é
diabética e precisa comer carne", diz a professora, que apóia
o locaute rural. "É difícil acreditar que, num país tão rico em
carne, as pessoas não possam
comer."
Diante de uma prateleira na
qual sobram poucas peças de
frango, Claudia Ríos, 42, sai
com as mãos abanando e opta
por levar milanesas de soja
congeladas. "A gente compra o
que pode, o que acha", diz a dona-de-casa, que sofre para
achar "substitutos".
A falta de produtos gera aumento nos preços. Segundo associações de defesa do consumidor, o preço da carne subiu
14%, e o dos laticínios, 30% em
duas semanas.
Panelas nas ruas
De geladeira vazia, os argentinos foram com as panelas às
ruas protestar contra o desabastecimento. Nas noites de
terça e quarta-feira, manifestantes pró-campo se enfrentaram com grupos piqueteiros,
parte da base de apoio à presidente, nas ruas da capital.
Com uma colher quebrada, a
dona-de-casa Sandra Damato,
41, batucava uma panela em
manifestação na rua Santa Fé.
A colher era a mesma que fez
barulho no "panelaço" que ajudou a derrubar o presidente
Fernando de la Rúa em 2001.
"Estou aqui para apoiar o
campo, que nos dá de comer. O
governo cobra impostos indevidos ao campo, e o desabastecimento é produto disso", afirmou Sandra, sem parar de bater na panela. "Além do mais, se
eles trabalham, têm direito de
ganhar por isso."
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