São Paulo, sexta-feira, 28 de março de 2008

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Vidrados em carne, portenhos lamentam sumiço dos melhores cortes das gôndolas

DE BUENOS AIRES

Depois de 15 dias de locaute agropecuário, sobram caminhões parados nas estradas argentinas e faltam alimentos nas prateleiras dos supermercados. Antes restrito a açougues e aos populares mercadinhos chineses do país, o desabastecimento começa a se espalhar pelas grandes redes de supermercados de Buenos Aires.
Uma pesquisa do Centro de Educação ao Consumidor constatou que 90% dos supermercados não tinha os principais cortes de carne, "só carne picada, de baixa qualidade".
Num supermercado onde as prateleiras de carne foram preenchidas com vinhos e ovos, a professora María Elena Barrosa, 52, caça um pedaço de carne entre cortes de frango e porco, sem sucesso. "Minha mãe é diabética e precisa comer carne", diz a professora, que apóia o locaute rural. "É difícil acreditar que, num país tão rico em carne, as pessoas não possam comer."
Diante de uma prateleira na qual sobram poucas peças de frango, Claudia Ríos, 42, sai com as mãos abanando e opta por levar milanesas de soja congeladas. "A gente compra o que pode, o que acha", diz a dona-de-casa, que sofre para achar "substitutos".
A falta de produtos gera aumento nos preços. Segundo associações de defesa do consumidor, o preço da carne subiu 14%, e o dos laticínios, 30% em duas semanas.

Panelas nas ruas
De geladeira vazia, os argentinos foram com as panelas às ruas protestar contra o desabastecimento. Nas noites de terça e quarta-feira, manifestantes pró-campo se enfrentaram com grupos piqueteiros, parte da base de apoio à presidente, nas ruas da capital.
Com uma colher quebrada, a dona-de-casa Sandra Damato, 41, batucava uma panela em manifestação na rua Santa Fé. A colher era a mesma que fez barulho no "panelaço" que ajudou a derrubar o presidente Fernando de la Rúa em 2001.
"Estou aqui para apoiar o campo, que nos dá de comer. O governo cobra impostos indevidos ao campo, e o desabastecimento é produto disso", afirmou Sandra, sem parar de bater na panela. "Além do mais, se eles trabalham, têm direito de ganhar por isso."


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