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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Garner se reúne hoje com líderes iraquianos para debater governo interino e reconstrução

EUA prendem "prefeito autoproclamado" de Bagdá

DA REDAÇÃO

Trocando o discurso pela ação quase três semanas após a derrubada do ex-ditador Saddam Hussein, a administração provisória americana no Iraque prendeu ontem o prefeito autoproclamado de Bagdá e reuniu-se com membros do regime deposto e líderes locais para restabelecer os serviços básicos na capital.
Hoje, o general americano da reserva Jay Garner, chefe da administração provisória dos EUA, deve se reunir com cerca de 400 líderes iraquianos -o quádruplo dos participantes de outra reunião, no dia 15- para debater a reorganização política do país.
A preocupação americana é cobrir, o mais rápido possível, o vácuo de poder deixado pelo fim dos 24 anos de ditadura de Saddam e não permitir a ascensão de líderes não-alinhados, como Mohammed Mohsen Zubaidi, que no início de abril se autoproclamou prefeito de Bagdá e passou a despachar em um hotel da cidade.
Zubaidi foi detido ontem pelas forças americanas, após advertências prévias, sob acusação de "exercer uma autoridade a qual ele não possui" e "obstruir os esforços de reconstrução do país". Nas três semanas em que tentou estabelecer um governo em Bagdá, ele nomeou um vice-prefeito, um comissário de polícia e 22 encarregados de comitês de reconstrução, incluindo para o petróleo.
Os militares americanos também o acusam de conduzir reuniões com autoridades locais paralelas às da coalizão, por vezes emitindo contra-ordens. Simpatizantes do líder bagdali pediram sua soltura imediata.
"Zubaidi foi detido e removido de Bagdá para evitar sua insistente representação distorcida de autoridade como prefeito de Bagdá após a derrubada do regime [de Saddam". Não houve feridos", declarou o Comando Central Americano (CCA) no Kuait.
Também ontem, as forças americanas depuseram um clérigo xiita que havia se intitulado prefeito de Kut (leste), firmando sua autoridade sobre a cidade estratégica.
Diferentemente de Zubaidi, Sayed Abbas Fadhil deixou a prefeitura e a cidade passivamente após receber ameaça de prisão dos militares americanos.
"A coalizão continuará a agir com firmeza contra qualquer grupo ou indivíduo que exerça ou reivindique autoridade política fora da coalizão", disse o CCA.

Mãos à obra
Para preencher o vácuo no poder, as forças ocupadoras tentam reunir sob sua égide facções tão díspares como ex-membros da ditadura, líderes religiosos xiitas, representantes curdos e exilados iraquianos, na tentativa de pincelar com cores locais a administração que, pelo menos durante os próximos meses, estará submetida a Washington.
Com uma série de conferências da qual a de hoje é a segunda, os EUA buscam um consenso com os iraquianos sobre uma "autoridade interina" que deve substituir Garner. Esta governaria o país por cerca de dois anos, até haver condições, segundo Washington, para a promulgação de uma Constituição e eleições democráticas, em um modelo similar ao que está em andamento no Afeganistão.
"Estarei aqui por pouco tempo, para ajudar as coisas a voltarem ao normal", disse o general Garner em um comunicado televisionado ontem aos iraquianos. "Seu novo governo será aberto e honesto. Este é o sonho de vocês, o meu sonho, o sonho do mundo."
Entre as cerca de 400 autoridades iraquianas que participam da reunião com Garner hoje, devem estar membros do Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque -grupo xiita com sede no Irã. Ontem, o grupo disse que sua participação era provável, mas exigiu que seja discutida a escolha direta de um governo pelo povo iraquiano.
O grupo tem se abstido de trabalhar com a administração americana, defendendo um modelo de governo islâmico para o Iraque semelhante ao que vigora no Irã, algo que os EUA rechaçam veementemente. Os xiitas perfazem cerca de 60% dos 23 milhões de iraquianos, e suas manifestações eram coibidas durante a ditadura laica de Saddam, um sunita.
As forças ocupadoras pretendem aproveitar inicialmente parte da estrutura administrativa do regime de Saddam, ainda que muitas pessoas ligadas à ditadura sejam procuradas pelos EUA.
"Inicialmente, é óbvio que [a administração" terá a participação de gente com experiência e qualificação técnica que já administrou os serviços desta cidade", declarou a diplomata Barbara Bodine, coordenadora dos EUA para a região central do Iraque.
Membros da autoridade provisória, chefiados por Bodine, se reuniram ontem com líderes iraquianos para discutir o restabelecimento do fornecimento de água, dos serviços de esgoto e da coleta de lixo em Bagdá, interrompidos total ou parcialmente. Não há, no momento, planos para escolha de um prefeito ou administrador para a capital, disse ela.
Em Madri, após uma cúpula de três dias, um grupo de exilados iraquianos divulgou ontem uma carta com mais de cem assinaturas na qual diz que o Iraque "precisa ser reconstruído como uma democracia federal pluralista, que respeite a diversidade política e religiosa", e pede o julgamento de Saddam, foragido desde o dia 9.


Com agências internacionais


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