São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

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ANÁLISE

Pentágono usa táticas diferentes nas duas cidades

THOM SHANKER
DO "NEW YORK TIMES"

Quando os comandantes americanos nas cercanias de Najaf e Fallujah olham para as duas cidades, enxergam problemas muito distintos. Cada lugar tem sua cultura, abriga um inimigo diferente e oferece aliados potenciais para ajudar a acalmar a situação.
Essas diferenças ajudam a explicar por que os militares parecem estar adotando uma linha mais branda em Najaf que em Fallujah.
Najaf abriga o santuário de Ali, um dos mais sagrados locais de peregrinação dos muçulmanos xiitas. Moqtada al Sadr, líder dos rebeldes do Exército Mahdi, continua entrincheirado na cidade. Mas os oficiais americanos deixaram de anunciar que vão capturar ou matá-lo, apesar de seus combatentes continuarem a enfrentar as forças de ocupação em Najaf e em uma favela de Bagdá.
Altos funcionários do Pentágono dizem que não pretendem enviar forças para o centro de Najaf, perto dos locais sagrados. Embora as autoridades americanas tenham dito que a milícia de Al Sadr precisa parar imediatamente de estocar armas em mesquitas e santuários, elas parecem ter aceitado que qualquer ataque poderia provocar reações explosivas em todo o mundo xiita.
Essa atitude forma um contraste marcante com a posição adotada em Fallujah, reduto do apoio sunita a Saddam Hussein, com guerrilheiros urbanos entrincheirados. Anteontem, os marines destruíram o minarete de uma mesquita que abrigava franco-atiradores das forças insurgentes.
O general Mark Hertling, da 1ª Divisão Blindada do Exército, que tem forças perto de Najaf, disse que os oficiais não têm a intenção de avançar para o centro.
Hertling afirmou que as tropas americanas se deslocaram de Bagdá para bases próximas a Najaf para levar uma presença militar forte à região e para proteger o trabalho da autoridade civil de ocupação na cidade. "Não previmos e não prevemos conduzir operações militares no interior da cidade sagrada." O Pentágono diz, é claro, que não se pode excluir nenhuma opção. Mas a estratégia de isolar e marginalizar Al Sadr visa especificamente solapar sua força. "Al Sadr ganha força quando enfrenta os EUA", disse uma autoridade. ""Não pretendemos aumentar seu poder."
Ao mesmo tempo em que as forças americanas isolam Al Sadr em Najaf, elas esperam que os clérigos e partidos políticos xiitas de linha mais moderada o marginalizem. Embora precisem tomar o cuidado de não passar a impressão de estarem trabalhando em prol da extremamente impopular ocupação americana, esses líderes locais têm suas razões próprias para eliminar Al Sadr como candidato rival ao voto xiita majoritário no novo governo iraquiano.
Já em Fallujah, o Pentágono não acredita que os líderes comunitários e empresariais que atuavam como mediadores exerçam algum controle sobre os insurgentes ou sobre a população.
O establishment xiita em Najaf não expressa nenhum afeto por Al Sadr, em parte devido à ruptura ocorrida entre seu pai e os outros grandes aiatolás e em parte em razão do seu suposto envolvimento na morte, em abril do ano passado, de Abdul Majid al Khoei, um clérigo respeitado que retornava do exílio em Londres e era apoiado pelos EUA.
Um assessor de um grão-aiatolá em Najaf declarou, em entrevista, que o "marjaiah", um grupo de quatro clérigos poderosos, quer que Al Sadr deixe a cidade, mas também condenará os americanos se eles invadirem Najaf.
O general britânico Andrew Stewart disse que clérigos xiitas moderados o avisaram de que o apoio tácito que dão à ocupação acabará, e de maneira violenta, se as forças lideradas pelos EUA atacarem Najaf. "Os xiitas nos disseram que o santuário não deve ser tocado. Se for destruído ou danificado, isso será visto como um ataque aos xiitas em sua totalidade."


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