São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

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EDUCAÇÃO

Primeira revisão curricular em 30 anos sugere que estudantes viajem mais ao exterior e se aprofundem em ciência

Harvard quer internacionalizar currículo

SARA RIMER
DO "NEW YORK TIMES"

Pela primeira vez em 30 anos, a Universidade Harvard está revisando seu currículo de graduação, concluindo que os estudantes precisam de mais tempo para explorações amplas, mais familiaridade com o mundo por meio de estudos no exterior e um conhecimento científico mais profundo.
Depois de 15 meses de estudo, um comitê formado por administradores, professores e estudantes recomendou à universidade que dê aos alunos mais tempo para escolher sua área profissional de estudos e limite os pré-requisitos para essas áreas, incentive o estudo no exterior e aumente o número de cursos científicos obrigatórios.
A conclusão de que os estudantes precisam de um alcance maior de conhecimentos num mundo que muda rapidamente provavelmente terá um impacto nas universidades de todo o país, muitas das quais também estão tentando modernizar seus currículos.
Ao fazer essas recomendações, o comitê respondia ao que "significa ser uma pessoa educada nos primeiros 25 anos do século 21".
William Kirby, diretor da faculdade de artes e ciências, disse ontem, em uma carta aos professores: "como uma instituição americana de liderança, Harvard tem a responsabilidade de educar seus alunos -que morarão e trabalharão em todos os cantos do globo- como cidadãos não apenas de seu país natal mas também do mundo, com a capacidade não apenas de compreender os outros como também de olhar a si mesmos e a este país como os outros os vêem."
Entre as conclusões do relatório de 67 páginas, divulgado anteontem, o comitê afirma que, em vez de estudar a história da China sem deixar a cidade de Cambridge, os alunos deveriam passar um semestre na Universidade Qinhua, em Pequim.
"Não é o suficiente presumir que, num mundo aparentemente cada vez mais anglófono, todas as culturas estejam se tornando parecidas" disse Kirby, que coordenou os trabalhos do comitê e ensina história da China.
As recomendações serão discutidas pelos professores durante o ano que vem -algumas mudanças exigem uma votação formal. Kirby disse esperar que as eventuais mudanças sejam implantadas para os alunos que ingressarem em 2006.

Ciência
Uma das recomendações que mais chamam a atenção sugere que todos os alunos de Harvard "sejam educados nas ciências de forma a ser tão aprofundada como tem sido tradicionalmente no caso das humanidades e das ciências sociais."
O presidente de Harvard, Lawrence Summers, disse sobre a ênfase em ciência: "uma cultura da educação em que é uma vergonha não saber o nome de cinco peças de Shakespeare, mas é aceitável não saber a diferença entre um genoma e um cromossomo, não é uma cultura funcional".
A revisão curricular está entre as principais iniciativas de Summers e reflete sua ênfase na graduação.
Ele disse que a revisão não significa que o atual currículo de Harvard seja cheio de defeitos. ""Toda invenção humana deveria ser revista a cada 25 anos, especialmente à luz das transformações trazidas pela ciência e pela globalização", disse, em entrevista concedida por telefone.
Summers disse que, na última vez que o currículo foi revisto, em meados dos anos 1970, "uma viagem à Rússia, à China ou à África era uma experiência exótica e, quando você estava lá, a única informação que era possível obter provinha de jornais de dois ou três dias atrás".
Ele disse que Harvard está fortalecendo o componente internacional de sua graduação "num momento em que os Estados Unidos compreendem mal o mundo -e o mundo compreende mal os Estados Unidos- mais do que em qualquer época recente".


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