|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vírus pode se disseminar pelo mundo em 4 meses
Cientistas não veem razão para pânico; arranjo genético do agente da gripe suína surpreende
Especialistas rechaçam comparação com a gripe de 1918, mas pedem atenção; inverno no hemisfério Sul
pode facilitar propagação
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O vírus da gripe suína é um
"irmão" do vírus da pior pandemia já vista pela humanidade: a
gripe espanhola, de 1918. Ele
surpreende os virologistas pela
rápida adaptação ao contágio
entre humanos. E modelos indicam que ele pode colonizar o
mundo em quatro meses. Apesar disso, dizem os cientistas,
não há motivo para pânico.
"A situação requer muita
atenção. É positivo ver vários
casos suspeitos em diferentes
países. Isso prova que todos estão atentos", disse à Folha Paolo Zanotto, da USP, especialista
em evolução de vírus.
Médicos reunidos no 14º
Congresso Panamericano de
Infectologia, em Campos do
Jordão, classificaram ontem a
gripe suína como "perigo real
para a população mundial" caso não haja esforço global para
contê-la. E, em documento,
convocaram os infectologistas
da região a se porem "à disposição das autoridades de saúde".
Até o início da noite de ontem, apesar de 21 países terem
possíveis casos de gripe suína,
só México, EUA, Canadá, Reino Unido e Espanha tiveram
testes positivos em laboratórios. Mortes, só no México.
O hemisfério Norte também
está saindo do inverno, estação
na qual a gripe mais se propaga.
Isso pode ajudar a reduzir a
disseminação do novo vírus.
Como o vírus de 1918, que
matou mais de 20 milhões de
pessoas, o novo parasita atende
pelo nome de H1N1. As cepas
do vírus influenza são batizadas de acordo com as variações
de duas proteínas presentes
em sua "casca": a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N).
O vírus suíno, no entanto,
tem um arranjo genético nunca
visto antes pelos pesquisadores. "Pense no pôquer. O crupiê
é o porco. E ele nos deu essas
oito cartas [oito segmentos do
genoma] agora", diz Zanotto.
Provavelmente no México,
ao circular entre porcos, aves e
humanos, o vírus conseguiu
trocar certos pedaços de seu
genoma. Assim, fez "chaves"
naturais para entrar no sistema
imune humano, sem a participação de outro animal no ciclo.
"Esse é o grande problema.
Na gripe aviária, por exemplo,
o vírus não encontrou uma forma para passar entre os humanos. Todos os casos são de pessoas que tiveram contato com
animais", diz Edison Durigon,
também virologista da USP.
Letalidade em jogo
Os cientistas não sabem por
que o vírus é letal no México e
mais brando nos demais países.
Segundo Zanotto, há duas hipóteses. A linhagem que escapou para o norte pode ser menos letal. "Ou ainda não temos
casos suficientes nos EUA para
as mortes aparecerem."
Durigon está mais otimista.
"Precisamos saber se todos os
casos relatados no México são
mesmo da gripe suína." O México está saindo de uma forte
epidemia de gripe comum, que
também mata bastante.
Em 1918, embora o mundo
fosse menos globalizado, os
deslocamentos das tropas na
Europa no final da 1ª Guerra
disseminaram a doença.
Para Durigon, a comparação
entre a pandemia de 1918 e o
surto atual não faz sentido. No
entanto, o inverno no hemisfério Sul pode facilitar uma epidemia de gripe suína na região.
Colaborou FÁBIO AMATO , da Agência Folha
Texto Anterior: Antipânico: Anfitrião de Obama que morreu não tinha vírus, diz México Próximo Texto: Distensão: Diplomatas de EUA e Cuba têm novo encontro em Washington Índice
|