São Paulo, terça-feira, 28 de abril de 2009

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Vírus pode se disseminar pelo mundo em 4 meses

Cientistas não veem razão para pânico; arranjo genético do agente da gripe suína surpreende

Especialistas rechaçam comparação com a gripe de 1918, mas pedem atenção; inverno no hemisfério Sul pode facilitar propagação

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O vírus da gripe suína é um "irmão" do vírus da pior pandemia já vista pela humanidade: a gripe espanhola, de 1918. Ele surpreende os virologistas pela rápida adaptação ao contágio entre humanos. E modelos indicam que ele pode colonizar o mundo em quatro meses. Apesar disso, dizem os cientistas, não há motivo para pânico. "A situação requer muita atenção. É positivo ver vários casos suspeitos em diferentes países. Isso prova que todos estão atentos", disse à Folha Paolo Zanotto, da USP, especialista em evolução de vírus.
Médicos reunidos no 14º Congresso Panamericano de Infectologia, em Campos do Jordão, classificaram ontem a gripe suína como "perigo real para a população mundial" caso não haja esforço global para contê-la. E, em documento, convocaram os infectologistas da região a se porem "à disposição das autoridades de saúde". Até o início da noite de ontem, apesar de 21 países terem possíveis casos de gripe suína, só México, EUA, Canadá, Reino Unido e Espanha tiveram testes positivos em laboratórios. Mortes, só no México. O hemisfério Norte também está saindo do inverno, estação na qual a gripe mais se propaga.
Isso pode ajudar a reduzir a disseminação do novo vírus. Como o vírus de 1918, que matou mais de 20 milhões de pessoas, o novo parasita atende pelo nome de H1N1. As cepas do vírus influenza são batizadas de acordo com as variações de duas proteínas presentes em sua "casca": a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). O vírus suíno, no entanto, tem um arranjo genético nunca visto antes pelos pesquisadores. "Pense no pôquer. O crupiê é o porco. E ele nos deu essas oito cartas [oito segmentos do genoma] agora", diz Zanotto.
Provavelmente no México, ao circular entre porcos, aves e humanos, o vírus conseguiu trocar certos pedaços de seu genoma. Assim, fez "chaves" naturais para entrar no sistema imune humano, sem a participação de outro animal no ciclo. "Esse é o grande problema. Na gripe aviária, por exemplo, o vírus não encontrou uma forma para passar entre os humanos. Todos os casos são de pessoas que tiveram contato com animais", diz Edison Durigon, também virologista da USP.

Letalidade em jogo
Os cientistas não sabem por que o vírus é letal no México e mais brando nos demais países. Segundo Zanotto, há duas hipóteses. A linhagem que escapou para o norte pode ser menos letal. "Ou ainda não temos casos suficientes nos EUA para as mortes aparecerem." Durigon está mais otimista. "Precisamos saber se todos os casos relatados no México são mesmo da gripe suína." O México está saindo de uma forte epidemia de gripe comum, que também mata bastante. Em 1918, embora o mundo fosse menos globalizado, os deslocamentos das tropas na Europa no final da 1ª Guerra disseminaram a doença.
Para Durigon, a comparação entre a pandemia de 1918 e o surto atual não faz sentido. No entanto, o inverno no hemisfério Sul pode facilitar uma epidemia de gripe suína na região.


Colaborou FÁBIO AMATO , da Agência Folha


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