São Paulo, terça-feira, 28 de maio de 2002

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AMÉRICA LATINA

Após discurso belicista em campanha, presidente eleito sugere a retomada de negociações com a guerrilha

Uribe pede mediação da ONU na Colômbia

Associated Press
Alvaro Uribe, o presidente eleito da Colômbia, concede sua primeira entrevista coletiva depois da divulgação dos resultados finais


ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL À COLÔMBIA

Alvaro Uribe Vélez moderou ontem o discurso belicista com o qual conseguiu ser eleito presidente da Colômbia no primeiro turno, anteontem, e disse que pedirá à ONU uma mediação para um possível novo processo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), maior grupo guerrilheiro do país.
"Será a ONU, por pedido do governo da Colômbia, que poderá buscar a retomada do diálogo com os grupos rebeldes", afirmou Uribe em sua primeira entrevista após a eleição, acrescentando porém que a negociação terá como condição "o fim das ações terroristas e das hostilidades" por parte da guerrilha.
Segundo Uribe, a mediação internacional poderia se transformar posteriormente em supervisão dos acordos firmados num eventual processo de paz.
Uribe assume a Presidência no dia 7 de agosto. Durante a campanha, Uribe havia adotado um discurso crítico ao processo de paz iniciado pelo atual presidente, Andrés Pastrana, em 1998, e que acabou rompido em fevereiro após forte pressão da opinião pública, por conta das ações de sabotagem e terrorismo cometidas pelos rebeldes. Ele havia prometido ainda "mão firme" contra a guerrilha e propôs aumentar o orçamento da Defesa e o efetivo das forças de segurança.
Segundo analistas consultados pela Folha, a moderação do discurso do presidente eleito poderia visar a frear as críticas da comunidade internacional às suas propostas. Outra possibilidade seria a de que o discurso mais duro durante a campanha fosse parte do cálculo político, uma vez que o diálogo com a guerrilha tem hoje pouquíssimo apoio da opinião pública, segundo as pesquisas.
Considera-se pouco provável, porém, que as Farc aceitem as condições impostas por Uribe. Há uma semana, a guerrilha divulgou um comunicado no qual admitia a possibilidade de negociar, com qualquer que fosse o presidente eleito, desde que se cumprissem três exigências: a desmilitarização dos Departamentos de Caquetá e Putumayo, na fronteira com o Equador, que o governo deixasse de chamá-la de "terrorista" ou "narcoterrorista" e que houvesse um combate efetivo ao paramilitarismo.

Combate ao narcotráfico
Durante a entrevista, Uribe disse que uma de suas prioridades será o combate ao narcotráfico. "A Colômbia tem de derrotar a droga, senão não teremos condições de acabar com o conflito." Tanto a guerrilha como os paramilitares têm no narcotráfico uma de suas principais fontes de recursos.
Ele disse que pretende ampliar o Plano Colômbia, lançado por Pastrana para combater o narcotráfico e que tem os EUA como principais financiadores, com US$ 1,3 bilhão. O Congresso dos EUA estuda permitir que os recursos do Plano Colômbia sejam utilizados também para o combate aos grupos armados ilegais.
Uribe disse desejar que os EUA ampliem sua ajuda e pediu a renovação do acordo que reduz alíquotas de importação de produtos dos países andinos como contrapartida ao combate ao narcotráfico, além da intermediação com os organismos multilaterais de crédito para um novo acordo da dívida colombiana.
Uribe voltou a negar vínculos com o paramilitarismo e defendeu sua proposta de formar um grupo de 1 milhão de civis para auxiliar as forças de segurança no combate aos rebeldes.
"Não será vigilância privada atuando com autonomia, mas uma vigilância integrada à força pública", disse, acrescentando que serão uma espécie de informantes e que não terão autorização especial para portar armas.



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