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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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EUROPA

Aeroportos, ônibus e metrô param em várias cidades contra o projeto de mudança na Previdência; sindicatos prometem mais

Greves anti-reforma atingem transportes na França

FERNANDO EICHENBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS

Cerca de 70% dos vôos foram cancelados nos aeroportos da França, ontem, por causa da greve dos controladores aéreos contra o projeto de reforma da Previdência do governo Jacques Chirac.
Em Marselha, no sul do país, 80% dos ônibus urbanos permaneceram estacionados nas garagens. A paralisação atingiu também, de forma quase total, o funcionamento do metrô na cidade e afetou os serviços dos Correios e da France Télécom.
Em Paris e dezenas de outras cidades francesas, os professores saíram novamente às ruas para protestar contra as mudanças no sistema de aposentadoria e o projeto de descentralização educacional. Segundo o principal sindicato da categoria, a greve alcançou 60% dos professores; para o governo, foram 45%.
O ponto mais polêmico do projeto da reforma da Previdência, que será examinado hoje pelo Conselho de Ministros do governo, é a proposta de harmonização do tempo de contribuição dos setores público e privado até 2008. Hoje, no serviço público, a contribuição se limita a 37 anos e meio, contra 40 anos no sistema privado. O governo quer unificar em 40 anos os dois sistemas.
"Público, privado, unidade, 37 e meio para todos!", gritavam os manifestantes nas passeatas realizadas no último domingo, em Paris, que reuniram entre 300 mil e 600 mil pessoas, segundo as diferentes estimativas.
Ontem, o premiê Jean-Pierre Raffarin acenou com a reabertura do diálogo com os professores sobre o projeto de descentralização educacional, mas, em relação à reforma da Previdência, o governo excluiu qualquer renegociação.
"Aqueles que falam, hoje, em renegociação e retirada do projeto não são sinceros. Houve o tempo da reflexão, da negociação, e agora é o tempo do debate no Parlamento", afirmou o ministro do Trabalho, François Fillon. Ele pretende ver seu projeto analisado pela Assembléia Nacional a partir de 10 de junho e votado e aprovado até o próximo dia 14 de julho.
O enfrentamento social tem abalado a imagem dos principais expoentes do governo francês. Na última pesquisa de opinião do instituto Ifop, divulgada pelo "Journal du Dimanche", os índices de popularidade caíram sete pontos para o presidente Jacques Chirac (58%) e três pontos para seu primeiro-ministro (47%).
A sondagem realizada pelo instituto BVA para a revista "Paris Match", nas bancas a partir de hoje na França, revela a sexta queda consecutiva nos índices de aprovação para Raffarin (de 49% para 42%) e a terceira para Chirac (de 64% para 60%).
Numa outra pesquisa, do instituto CSA, publicada pelo jornal "Le Parisien", 65% dos entrevistados disseram aprovar a iniciativa dos sindicatos, e 74% previram que a crise atual em torno do projeto de reforma das aposentadorias deverá perdurar.
Os sindicatos preparam novas paralisações e manifestações para os próximos dias. Das sete federações sindicais da SNCF, a estatal ferroviária, seis votaram por um indicativo de greve na próxima segunda-feira.
Os transportes públicos urbanos (metrô e ônibus) também deverão parar no dia 3. Os sindicalistas prometem pressionar o governo pela reabertura das negociações. Uma das palavras de ordem mais ouvidas durante as diferentes manifestações pelo país tem servido como um aviso aos líderes governistas: "Greve geral até o fim!".


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