São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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GUERRA AO TERROR

Clérigo muçulmano radical é acusado de apoiar a Al Qaeda e de participar de atividades terroristas

EUA pedem, e Londres detém líder islâmico

DA REDAÇÃO

A polícia britânica prendeu ontem em Londres o imã (clérigo islâmico) radical Abu Hamza al Masri após os EUA terem apresentado um pedido de extradição.
Hamza é acusado de tentar montar um campo de treinamento no Oregon (oeste dos EUA) e dar apoio a extremistas do Egito e da Caxemira, à rede terrorista Al Qaeda, ao Exército Islâmico de Aden (grupo iemenita que reivindicou a autoria do atentado contra o destróier americano USS Cole no Iêmen em 2000) e ao grupo extremista islâmico Taleban, do Afeganistão.
Os americanos ainda o acusam de conspiração e participação em seqüestro em um incidente que resultou na morte de quatro turistas no Iêmen em 1998.
Em Nova York, o secretário de Justiça dos EUA, John Ashcroft, afirmou que as 11 acusações do indiciamento podem resultar em pena de morte. Na corte britânica, Hamza declarou que não aceitava ser enviado para os EUA. "Eu realmente não acho que queira ir, não", disse, rindo.
A pena de morte é um empecilho para a sua entrega. "Os EUA sabem que o ministro do Interior [David Blunkett] não pode autorizar uma extradição em um caso em que a punição pode ser a pena de morte, a não ser que tenha garantias de que tal sentença não seja imposta e, se imposta, não seja cumprida", disse um porta-voz do premiê Tony Blair, maior aliado dos EUA na Guerra do Iraque.
No entanto, Blunkett disse à BBC que o Reino Unido recebeu garantias de Washington em termos gerais. "Temos um acordo com os EUA, que eu reafirmei há um ano, de que a pena de morte não será aplicada."
Hamza, 47, é um dos muçulmanos radicais mais conhecidos no Reino Unido. Nascido no Egito, ele era o imã da mesquita de Finsbury Park, em Londres -associada aos extremistas Zacarias Moussaoui, suspeito de participar do 11 de Setembro, e Richard Reid, que tentou embarcar em um vôo transatlântico com um sapato-bomba-, até ser afastado pelo governo sob a alegação de usá-la para atividades políticas. Depois disso, ele passou a pregar na rua, em frente à mesquita.
Apelidado de "Gancho" pelos tablóides sensacionalistas britânicos, por ter perdido as duas mãos e um olho no Afeganistão -onde combateu a ocupação soviética nos anos 1980-, ele fez várias declarações polêmicas.
Ele já disse esperar que Deus destrua os EUA e reagiu ao 11 de Setembro, que considera uma armação dos judeus, com a frase "muitos ficarão felizes, dando pulos neste momento". O imã nega envolvimento com violência e se define como um porta-voz de causas políticas.
O governo britânico vinha procurando deportá-lo. Há um ano, cassou sua nacionalidade britânica, recorrendo a uma nova lei que permite tal medida contra imigrantes que "prejudiquem seriamente" os interesses do país. Hamza está recorrendo contra a decisão na Justiça.
"Qualquer muçulmano que se opõe às políticas britânicas e americanas para o Iraque ou o Afeganistão é culpado por definição. As mentiras e distorções da mídia fazem de mim e de outros ativistas muçulmanos os inimigos número 1. Então a prisão de Hamza não é uma surpresa", disse Omar Bakri Mohammad, líder espiritual do grupo islâmico Al Muhajiroun, baseado em Londres.
Desde o 11 de Setembro e o atentado de Madri, em março, tem havido uma escalada no sentimento antiislâmico na Europa. A Espanha anunciou a disposição de vigiar as pregações nas mesquitas do país e a França já expulsou um imã argelino, Abdelkader Bouziane, e pretende fazer o mesmo com outro, o turco Mihdat Guler.


Com agências internacionais


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