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Jornalista francês é processado
por entrevistar imã extremista
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O jornalista francês Philippe
Brunet-Lecomte, diretor da revista mensal "Lyon Mag", está sendo
processado por "apologia do crime" em razão da publicação de
entrevista em que um dirigente
muçulmano de um subúrbio da
cidade de Lyon defendeu, em caso
de infidelidade, o direito de os
maridos surrarem suas mulheres.
O imã Abdelkader Bouziane, de
nacionalidade argelina, foi expulso da França. Mas recorreu à Justiça e obteve em primeira instância o direito de retornar.
A entidade Repórteres Sem
Fronteira escreveu ao ministro
francês da Justiça, Dominique
Perben, qualificando o processo
contra o jornalista de "abusivo".
"Associar declarações condenáveis do imã e o jornalista que o entrevistou terá conseqüências nefastas à liberdade de informação
na França", disse a entidade.
A "Lyon Mag" havia sido condenada no ano passado a uma
multa de 254 mil (R$ 934 mil)
por reportagem que os produtores do beaujolais consideraram
ofensiva à imagem daquele vinho.
Eis os principais trechos da entrevista do jornalista agora novamente processado.
Folha - Qual lei foi evocada na
tentativa de processá-lo?
Philippe Brunet-Lecomte - Nós,
da revista "Lyon Mag", temos
más relações com o Judiciário da
cidade de Lyon. Somos impertinentes, fazemos com freqüência
críticas aos tribunais. A Justiça da
cidade não gosta de nós, o que nos
parece bastante claro. Os juízes
talvez estejam nos mandando um
recado para que baixemos um
pouco o tom de nosso jornalismo.
Folha - A organização Repórteres
Sem Fronteira protestou contra a
ação judicial. Os sindicatos franceses se manifestaram?
Brunet-Lecomte - Não, até o momento. Os sindicatos franceses se
posicionam bem mais sobre desemprego ou salários.
Folha - Como interpretar a reação
do governo francês contra alguns
muçulmanos extremados?
Brunet-Lecomte - Creio que o
governo tem uma diretriz de curto prazo. Procura obter efeitos na
mídia. Prende um ou dois imãs,
finge que se interessa pelo problema, mas não o estuda seriamente.
Não está atento sobretudo ao extremismo de certos imãs em subúrbios franceses.
Folha - O atual processo parte dos
mesmos juízes que o condenaram
no caso do vinho beaujolais?
Brunet-Lecomte - Com certeza.
Entramos com um recurso. E temos a intenção de levar o caso à
Corte Européia dos Direitos Humanos, se assim for necessário.
Folha - Quais os riscos reais, agora, de uma condenação?
Brunet-Lecomte - Esperamos
não ser condenados. Mas as decisões da Justiça francesa são sempre inesperadas e incompreensíveis. Há hoje entre os juízes uma
tendência a acreditar que a liberdade de imprensa é excessiva na
França.
Folha - Os grandes jornais franceses abordaram o caso?
Brunet-Lecomte - Sim, e o fizeram com bastante destaque. O
que a maior parte dos jornais disse é que era escandaloso esse procedimento para nos intimidar.
Entrevistar alguém não é estar de
acordo com o entrevistado.
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