São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Coalizão suspenderá ações em Najaf, enquanto Al Sadr retirará da cidade militantes que não vivam lá

EUA fecham acordo com clérigo radical

DA REDAÇÃO

Após um mês e meio de impasse e combates que deixaram mais de 350 mortos, as forças de ocupação e o clérigo radical xiita Moqtada al Sadr fecharam um acordo para pôr fim aos combates em Najaf e Kufa, no sul do Iraque.
Sob o pacto, fechado por intermédio de autoridades xiitas, o clérigo deve retirar da cidade considerada sagrada pelos xiitas seus seguidores que não morem ali. Já os EUA suspenderão as ofensivas e recolherão seus soldados a bases próximas a Najaf e prédios do governo local. A polícia iraquiana assumirá o patrulhamento, a exemplo do que ocorreu na cidade sunita de Fallujah.
O acordo não inclui a rendição de Al Sadr, exigida pelos EUA desde que ele liderou um levante em abril, nem o desmantelamento de sua milícia, o Exército Mehdi. As forças americanas, por sua vez, mantiveram o mandato de prisão contra o clérigo, acusado de envolvimento na morte de um rival. A expectativa é que a resolução acalme as tensões no sul e facilite a instalação do governo interino iraquiano, em 30 de junho.
O porta-voz da coalizão, Dan Senor, disse que as autoridades da ocupação não tomaram parte nas negociações, mas elogiaram o acordo como "um primeiro passo positivo". A milícia de Al Sadr já deixou Karbala, outra cidade que reúne templos xiitas importantes, mas permanece ativa em Bagdá, no bairro xiita de Sadr City.
"É importante reconhecer que o que estamos fazendo não é a pedido de Moqtada", disse o general Mark Kimmitt, porta-voz das forças americanas. Mas os assessores do clérigo clamaram vitória. "O fato de termos nos levantado por quase dois meses contra a força mais poderosa do mundo é uma vitória nossa", disse Qais al Khazali, porta-voz de Al Sadr. Em sete semanas, morreram 352 iraquianos e 21 soldados dos EUA.
Uma integrante do Conselho de Governo Iraquiano que participou das negociações em Najaf, Salama al Khafaji, sofreu uma emboscada quando voltava a Bagdá. Ela saiu ilesa do ataque, mas seu filho foi morto. Ataques anteriores mataram dois membros do grupo: no início do mês, o então presidente do conselho, Izzedin Salim, foi vítima de um carro-bomba, e Aquila al Hashimi foi assassinada e setembro passado.

Tortura
O jornal "The New York Times" divulgou uma reportagem segundo a qual as sessões no centro de interrogatórios da prisão de Abu Ghraib, palco da tortura de iraquianos por soldados dos EUA, renderam poucas informações relevantes. O centro foi criado em setembro, um mês antes dos principais relatos de tortura, com a finalidade de obter informações sobre a crescente insurgência.
Segundo o jornal, que cita fontes civis e militares envolvidas no processo, as Forças Armadas concluíram que os prisioneiros mantidos em Abu Ghraib, em sua maioria, não tinham ligação com a insurgência. "A maior parte das informações úteis veio de interrogatórios em campos de combate", disse um oficial de inteligência. "Havia uma sensação de que uma vez mandada para lá [Abu Ghraib] a pessoa caía num buraco negro", afirmou um general.
Nenhum militar dessa área da prisão foi indiciado, embora um inquérito inicial do Exército indique que o chefe do setor, coronel Steve Jordan, e três pessoas tiveram responsabilidade "direta ou indireta" pelos abusos.
O "Times" ainda citou um memorando secreto sobre "política de interrogatório" assinado pelo general Ricardo Sanchez, comandante das tropas dos EUA no Iraque, segundo o qual o "interrogador deve passar a impressão de controlar todos os aspectos da sessão, bem como a comida, a roupa e o abrigo do detento".
As Convenções de Genebra, que protegem os prisioneiros de guerra, proíbem o condicionamento da alimentação e do abrigo dos presos à obtenção de informação.


Com agências internacionais e "The New York Times"


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