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CARIBE
Com até 2.000 mortos no país e na República Dominicana, missão de paz é obrigada a realizar operações de resgate
Chuva muda foco da força da ONU no Haiti
DA REDAÇÃO
Com nuvens escuras se aproximando, tropas americanas e canadenses, que integram a missão
de paz da ONU no Haiti, corriam
contra o tempo ontem para socorrer milhares de vítimas de enchentes no país. Segundo a Reuters, até 2.000 pessoas morreram
no Haiti e na vizinha República
Dominicana. Outras agências de
notícias apresentaram números
mais baixos, mas falam em centenas de desaparecidos.
Diante da dimensão da tragédia, as tropas internacionais
-enviadas ao Haiti pela ONU
após uma revolta causar a queda
do presidente Jean-Bertrand Aristide, em 29 de fevereiro- tiveram
de mudar, provisoriamente, o foco de sua atuação. Amanhã, tropas brasileiras começam a chegar
ao Haiti e, em algumas semanas,
substituirão o Canadá na liderança da missão de paz.
O Ministério da Defesa do Brasil
afirmou ontem que as enchentes
não alterarão o papel da missão
brasileira, que será o de garantir a
manutenção da ordem e da paz.
Segundo a assessoria de imprensa
do Estado-Maior da Defesa, as
tropas brasileiras participarão da
ajuda às vítimas das chuvas se assim for determinado pela ONU.
Segundo a Reuters, mais de mil
corpos foram recuperados anteontem em Mapou (cerca de 50
km de Porto Príncipe), varrida
por um rio de lama e detritos. "A
vila parece um lago. E o clima está
piorando novamente", disse o tenente-coronel David Lapan, porta-voz da força multinacional.
Ainda de acordo com a Reuters,
havia 1.660 mortos já confirmados no Haiti. Na República Dominicana, 300 corpos teriam sido recuperados, a maior parte na cidade de Jimani.
Cadáveres foram achados prensados contra paredes, pendurados em árvores e completamente
enterrados na lama. "O rio levou
tudo, nada restou", disse Jermanie Vulsont, cujos cinco filhos teriam sido arrastados pelas águas
em Fond Verrettes (35 km da capital haitiana). As enchentes chegaram subitamente antes do amanhecer de segunda-feira.
O impacto causado pelas chuvas foi intensificado pelo desmatamento. Além disso, a maior parte da população vive em frágeis
barracos de madeira e lata.
Os cerca de 3.500 soldados da
missão de paz estão trabalhando
em conjunto com cerca de 700 voluntários da Cruz Vermelha Internacional e dos Médicos Sem
Fronteiras para levar água, comida, roupa, cobertores e remédios.
Temem-se surtos de malária e
dengue. A ONU anunciou o envio
de equipes de salvamento.
O Haiti é o país mais pobre das
Américas: 4/5 dos 8 milhões de
habitantes vivem abaixo da linha
de pobreza. A República Dominicana, com 8,5 milhões de habitantes, é mais próspera, mas também
tem áreas pobres.
A partir de junho, as tropas presentes no Haiti, originárias dos
EUA, do Canadá, da França e do
Chile, deverão ser substituídas
por soldados de outros países,
principalmente sul-americanos.
Entretanto a Argentina e o Uruguai deverão atrasar o envio de
seus soldados devido à demora na
aprovação, em seus respectivos
Congressos, da participação na
missão da ONU.
O Brasil, pela mesma razão,
também teve de adiar por alguns
dias o embarque de seus soldados, mas não haverá atraso.
Na Argentina, senadores de
oposição e adversários do presidente Néstor Kirchner no próprio
Partido Justicialista convocaram
os ministros da Defesa e das Relações Exteriores para depor na
próxima terça-feira. Querem saber se os soldados poderão intervir caso haja conflitos armados
entre grupos rebeldes.
No Uruguai, a resistência vem
da esquerda, para quem a missão
da ONU ratificaria "a invasão do
Haiti por tropas dos Estados Unidos". Aristide diz que EUA e
França o derrubaram.
Dos 6.700 soldados que integrarão a força de paz da ONU no Haiti nas próximas semanas, quase
metade será originária da América do Sul.
Serão 1.200 soldados brasileiros,
500 argentinos, 550 chilenos, 542
uruguaios, 200 peruanos e cerca
de cem paraguaios. A missão terá
duração de seis meses, mas poderá ser renovada.
Com agências internacionais
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