São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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CARIBE

Com até 2.000 mortos no país e na República Dominicana, missão de paz é obrigada a realizar operações de resgate

Chuva muda foco da força da ONU no Haiti

DA REDAÇÃO

Com nuvens escuras se aproximando, tropas americanas e canadenses, que integram a missão de paz da ONU no Haiti, corriam contra o tempo ontem para socorrer milhares de vítimas de enchentes no país. Segundo a Reuters, até 2.000 pessoas morreram no Haiti e na vizinha República Dominicana. Outras agências de notícias apresentaram números mais baixos, mas falam em centenas de desaparecidos.
Diante da dimensão da tragédia, as tropas internacionais -enviadas ao Haiti pela ONU após uma revolta causar a queda do presidente Jean-Bertrand Aristide, em 29 de fevereiro- tiveram de mudar, provisoriamente, o foco de sua atuação. Amanhã, tropas brasileiras começam a chegar ao Haiti e, em algumas semanas, substituirão o Canadá na liderança da missão de paz.
O Ministério da Defesa do Brasil afirmou ontem que as enchentes não alterarão o papel da missão brasileira, que será o de garantir a manutenção da ordem e da paz. Segundo a assessoria de imprensa do Estado-Maior da Defesa, as tropas brasileiras participarão da ajuda às vítimas das chuvas se assim for determinado pela ONU.
Segundo a Reuters, mais de mil corpos foram recuperados anteontem em Mapou (cerca de 50 km de Porto Príncipe), varrida por um rio de lama e detritos. "A vila parece um lago. E o clima está piorando novamente", disse o tenente-coronel David Lapan, porta-voz da força multinacional.
Ainda de acordo com a Reuters, havia 1.660 mortos já confirmados no Haiti. Na República Dominicana, 300 corpos teriam sido recuperados, a maior parte na cidade de Jimani.
Cadáveres foram achados prensados contra paredes, pendurados em árvores e completamente enterrados na lama. "O rio levou tudo, nada restou", disse Jermanie Vulsont, cujos cinco filhos teriam sido arrastados pelas águas em Fond Verrettes (35 km da capital haitiana). As enchentes chegaram subitamente antes do amanhecer de segunda-feira.
O impacto causado pelas chuvas foi intensificado pelo desmatamento. Além disso, a maior parte da população vive em frágeis barracos de madeira e lata.
Os cerca de 3.500 soldados da missão de paz estão trabalhando em conjunto com cerca de 700 voluntários da Cruz Vermelha Internacional e dos Médicos Sem Fronteiras para levar água, comida, roupa, cobertores e remédios. Temem-se surtos de malária e dengue. A ONU anunciou o envio de equipes de salvamento.
O Haiti é o país mais pobre das Américas: 4/5 dos 8 milhões de habitantes vivem abaixo da linha de pobreza. A República Dominicana, com 8,5 milhões de habitantes, é mais próspera, mas também tem áreas pobres.
A partir de junho, as tropas presentes no Haiti, originárias dos EUA, do Canadá, da França e do Chile, deverão ser substituídas por soldados de outros países, principalmente sul-americanos.
Entretanto a Argentina e o Uruguai deverão atrasar o envio de seus soldados devido à demora na aprovação, em seus respectivos Congressos, da participação na missão da ONU.
O Brasil, pela mesma razão, também teve de adiar por alguns dias o embarque de seus soldados, mas não haverá atraso.
Na Argentina, senadores de oposição e adversários do presidente Néstor Kirchner no próprio Partido Justicialista convocaram os ministros da Defesa e das Relações Exteriores para depor na próxima terça-feira. Querem saber se os soldados poderão intervir caso haja conflitos armados entre grupos rebeldes.
No Uruguai, a resistência vem da esquerda, para quem a missão da ONU ratificaria "a invasão do Haiti por tropas dos Estados Unidos". Aristide diz que EUA e França o derrubaram.
Dos 6.700 soldados que integrarão a força de paz da ONU no Haiti nas próximas semanas, quase metade será originária da América do Sul.
Serão 1.200 soldados brasileiros, 500 argentinos, 550 chilenos, 542 uruguaios, 200 peruanos e cerca de cem paraguaios. A missão terá duração de seis meses, mas poderá ser renovada.


Com agências internacionais

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