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Contra a corrente, Uribe deve vencer hoje
Colombiano contesta diferenças entre seu governo e os dos vizinhos e diz que divisão entre esquerda e direita é obsoleta
Certeza de que presidente vai se reeleger gera clima de apatia nas ruas da capital e deixa a votação em segundo plano para a imprensa local
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ
Alavancado pela melhora das
condições de segurança e pelo
bom desempenho econômico,
o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, deve ser reeleito
hoje com ampla maioria, consolidando uma marca que distancia o país das tendências
eleitorais da sua região: a de um
governo direitista alinhado à
política de Washington.
Entre o final de 2005 e o início deste ano, a América do Sul
viu a eleição da socialista Michelle Bachelet, no Chile, e do
cocaleiro Evo Morales, na Bolívia. Eles se juntaram a Lula,
Néstor Kirchner (Argentina),
Tabaré Vázquez (Uruguai) e
Hugo Chávez (Venezuela).
Segundo analistas ouvidos
pela Folha, a opção colombiana por Uribe é explicada pela
condição excepcional do país.
"A Colômbia é o único país
da América Latina que tem graves problemas de segurança,
com a presença simultânea de
grupo guerrilheiros, paramilitares e de narcotráfico, o que
significa mais ou menos 35 mil
homens em armas, em situação
de conflito armado ou de guerra civil interna", afirmou o analista militar Alfredo Rangel.
Combater esse problema depende do financiamento milionário dos EUA. "Não há almoço
grátis. Necessitando de maneira imprescindível dessa ajuda
dos EUA, a Colômbia tem de
oferecer seu apoio na política
internacional."
Ideologia
"A Colômbia vai na direção
oposta à da região, e a principal
explicação disso é sua dependência dos recursos americanos para combater o narcotráfico, além da evidente identidade ideológica entre [o americano George W.] Bush e Uribe em
temas críticos como a luta contra o terrorismo e as drogas",
disse Elizabeth Ungar, professora de Ciência Política da Universidad de los Andes.
"A Colômbia é a jóia da coroa
que resta aos EUA. Ainda que
seja apenas um país, é um fator
de equilíbrio determinante na
região. Enquanto Uribe estiver
no poder, é uma aliança incondicional que vai tentar conservar custe o que custar", diz ela.
O próprio presidente Uribe
contesta, porém, a aplicação do
termo "esquerdista" e contesta
que haja diferenças entre seu
governo e os demais da região.
"Como você sustenta que o governo de seu país [Brasil] seja
de esquerda e que eu represento a direita?", disse, em resposta a uma pergunta da Folha, em
entrevista coletiva ontem.
"Eu não vejo nenhuma diferença. A diferença entre esquerda e direita era válida na
época da ditadura. Hoje, quando todos os países giram em
torno das regras democráticas,
essa divisão é obsoleta", disse.
E como se explica a popularidade de Uribe, de cerca de 70%,
após quatro anos de governo?
Os analistas concordam que o
carro-chefe é a segurança.
Há um ano, a reportagem da
Folha teve de transitar por Tumaco e La Hormiga (noroeste)
em veículo blindado e escoltado. Hoje, dizem as autoridades,
a realidade é distinta. Para Ungar, há ainda outro fator. "Uribe tem um estilo de que muitos
gostam, paternalista".
A última pesquisa Gallup dá a
vitória no primeiro turno a Uribe, da coligação Primeiro Colômbia, com 61,2%. Em segundo, o advogado de esquerda
Carlos Gaviria (Pólo Democrático Alternativo) tem 20,4%,
seguido por Horacio Serpa
(Partido Liberal), com 13,7%.
A certeza do resultado deixa
uma impressão de apatia. Nas
ruas de Bogotá, há quase nada
que lembre eleições. Mesmo os
jornais tem relegado a disputa
às páginas internas. O destaque
anteontem do principal diário
("El Tiempo") foi um show do
cantor Juanes em Los Angeles.
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