São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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Foco na segurança continua, diz Uribe

DA ENVIADA A BOGOTÁ

Num provável segundo mandato, a política de "segurança democrática" continuará a ser o eixo do governo Álvaro Uribe, sem mudanças na estratégia de atacar militarmente as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
"Não há mudança de opinião. A política de "segurança democrática" é o caminho para a reconciliação nacional. Se em alguma coisa avançamos neste governo é que, graças à "segurança democrática", passamos das garantias retóricas às garantias efetivas", disse ontem Uribe em uma entrevista coletiva com jornalistas estrangeiros da qual a Folha participou. "Esse não é o mesmo país de que há quatro anos. Quando você tem 30 mil paramilitares desmobilizados, não é uma questão de aceitar teses, mas de reconhecer os fatos."
"Na medida em que a Colômbia derrote o terrorismo, isso beneficia nossos vizinhos. Porque quando os terroristas não podem seqüestrar na Colômbia, seqüestram nos países vizinhos. Eles não têm fronteiras."
Nas últimas semanas, Uribe havia sinalizado a possibilidade de criação de uma área desmilitarizada para as Farc, para dar início às conversações -afirmação interpretada por muitos como uma jogada eleitoral.
Segundo María Consuelo Araújo, coordenadora programática da campanha à reeleição, o governo pode negociar, mas sob condições. "Na medida em que haja vontade de negociar, será aberto espaço para qualquer grupo que se incorpore à vida civil, desde que cessem as hostilidades", disse à Folha. "O programa de governo diz: avançar com as Farc em acordo que, como objetivo fundamental, se encaminhe à liberação imediata e sem condições das pessoas seqüestradas, ou seja, sem intercâmbio humanitário", completou.
Para os analistas, porém, pode não ser tão simples. "O presidente é pragmático e já se dá conta de que com uma política de paz tão dura não vai conseguir uma aproximação com a guerrilha. Então, sua política de paz começa a ser mais branda", diz Alfredo Rangel, ex-assessor de Segurança Nacional.
Segundo ele, essa nova tendência já está em andamento. Uribe iniciou conversas com o ELN (Exército de Libertação Nacional) sem que houvesse uma trégua incondicional, uma das exigências antes feita.
Rangel diz ainda que, tacitamente, o governo já aceitou que sejam incluídos temas políticos nas conversações: "Propôs às Farc realizar uma Assembléia Nacional Constituinte ao final dos diálogos".
"Tudo está pendente. Mas o importante é que o governo reconhece a guerrilha como uma contraparte legítima para fazer uma negociação política."
Mas isso não significa o fim da ofensiva militar. "Mantemos a disposição para combater o terrorismo com toda firmeza e para negociar a paz com toda a ferocidade", disse Uribe.
Apesar de Araújo dizer que o segundo mandato dará maior ênfase à ação social, especialistas esperam poucas mudanças. Na economia, será hora de aplicar o Tratado de Livre Comércio com os EUA -que ainda depende da aprovação. (CAROLINA VILA-NOVA)


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