São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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Em meio a protestos, emissora sai do ar

Polícia contém manifestantes que protestavam contra decisão do governo de não renovar concessão a TV crítica a Chávez

Pesquisa mostra que 80% da população rejeita o fim da RCTV, que era a única de alcance nacional a manter uma posição independente


Juan Barreto/France Press
Opositores de Chávez enfrentam a polícia durante protesto em Caracas contra o fim da RCTV; quatro policiais ficaram feridos


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Policiais metropolitanos e manifestantes contrários ao fim da concessão da RCTV se enfrentaram ontem à tarde nas ruas de Caracas, quando faltavam poucas horas para o fim das transmissões. Às 23h59 (uma hora a menos que em Brasília), conforme o governo havia prometido, a emissora oposicionista saiu do ar.
Nos últimos minutos da RCTV, os funcionários, que lotavam o estúdio, gritavam: "Somos os melhores". Em seguida, foi transmitido um vídeo pré-gravado com o Hino Nacional cantado pelos funcionários da emissora, muitos chorando. Poucos segundos depois de a tela ter ficado em negro, entrou o logo da Tves, a nova emissora estatal lançada pelo presidente Hugo Chávez.
Já o confronto ocorreu quando milhares de manifestantes tentavam chegar à sede da Conatel (Comissão Nacional de Televisão), órgão encarregado de administrar as concessões de rádio e TV. A tropa de choque Polícia Metropolitana, controlada pelo governo local chavista, impediu a aproximação com grades de metal, bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água. Segundo o governo, quatro policiais ficaram levemente feridos.
Às 22h locais, uma mobilização convocada pela internet provocou um "panelaço", ouvido em toda a capital. Outras pequenas manifestações menores foram registradas pela cidade, sem incidentes graves.
No centro da cidade, o governo do presidente Hugo Chávez patrocinou um ato com seis palcos para esperar as transmissões da Tves (Televisora Venezuelana Social) que ocupará o canal 2. A estréia estava prevista para a 0h15 de hoje, com o Hino Nacional.

Bolívar Eterno
Em seguida, deveria ser transmitido o filme "Bolívar Eterno", longa produzido pela Fundação Villa del Cine, estúdio estatal criado em 2006 para "combater a ditadura de Hollywood", segundo Chávez.
O fechamento da RCTV voltou a ser motivo de pronunciamentos contrários e favoráveis à decisão de Chávez, anunciada em dezembro. "A renovação das concessões não deve ser um castigo ou um prêmio por sua linha de informação", disse Gonzalo Marroquín, dirigente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que reúne proprietários de meios de comunicação da região.
O ministro da Comunicação, Willian Lara, voltou a dizer que se trata de "não renovar a concessão, e não o fim de uma emissora" e que não há motivo para polêmica, já que é uma "medida corriqueira".
Com o desaparecimento da RCTV, não haverá mais nenhuma emissora de TV crítica a Chávez de alcance nacional. A única TV oposicionista a partir de hoje, Globovisión, pode ser vista em sinal aberto apenas em Caracas. A concorrente da RCTV, Venevisión, tem feito uma cobertura pró-Chávez.
O fim da RCTV é rejeitado pela maioria da população, segundo institutos de opinião. No último levantamento, feito pela Hinterlaces -que previu a vitória eleitoral de Chávez no ano passado-, o rechaço chega a 80%.


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