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Em meio a protestos, emissora sai do ar
Polícia contém manifestantes que protestavam contra decisão do governo de não renovar concessão a TV crítica a Chávez
Pesquisa mostra que 80% da população rejeita o fim da RCTV, que era a única de alcance nacional a manter uma posição independente
Juan Barreto/France Press
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Opositores de Chávez enfrentam a polícia durante protesto em Caracas contra o fim da RCTV; quatro policiais ficaram feridos |
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Policiais metropolitanos e
manifestantes contrários ao
fim da concessão da RCTV se
enfrentaram ontem à tarde nas
ruas de Caracas, quando faltavam poucas horas para o fim
das transmissões. Às 23h59
(uma hora a menos que em
Brasília), conforme o governo
havia prometido, a emissora
oposicionista saiu do ar.
Nos últimos minutos da
RCTV, os funcionários, que lotavam o estúdio, gritavam: "Somos os melhores". Em seguida,
foi transmitido um vídeo pré-gravado com o Hino Nacional
cantado pelos funcionários da
emissora, muitos chorando.
Poucos segundos depois de a
tela ter ficado em negro, entrou
o logo da Tves, a nova emissora
estatal lançada pelo presidente
Hugo Chávez.
Já o confronto ocorreu quando milhares de manifestantes
tentavam chegar à sede da Conatel (Comissão Nacional de
Televisão), órgão encarregado
de administrar as concessões
de rádio e TV. A tropa de choque Polícia Metropolitana,
controlada pelo governo local
chavista, impediu a aproximação com grades de metal, bombas de gás lacrimogêneo e jatos
d'água. Segundo o governo,
quatro policiais ficaram levemente feridos.
Às 22h locais, uma mobilização convocada pela internet
provocou um "panelaço", ouvido em toda a capital. Outras pequenas manifestações menores
foram registradas pela cidade,
sem incidentes graves.
No centro da cidade, o governo do presidente Hugo Chávez
patrocinou um ato com seis
palcos para esperar as transmissões da Tves (Televisora
Venezuelana Social) que ocupará o canal 2. A estréia estava
prevista para a 0h15 de hoje,
com o Hino Nacional.
Bolívar Eterno
Em seguida, deveria ser
transmitido o filme "Bolívar
Eterno", longa produzido pela
Fundação Villa del Cine, estúdio estatal criado em 2006 para
"combater a ditadura de Hollywood", segundo Chávez.
O fechamento da RCTV voltou a ser motivo de pronunciamentos contrários e favoráveis
à decisão de Chávez, anunciada
em dezembro. "A renovação
das concessões não deve ser um
castigo ou um prêmio por sua
linha de informação", disse
Gonzalo Marroquín, dirigente
da Sociedade Interamericana
de Imprensa (SIP), que reúne
proprietários de meios de comunicação da região.
O ministro da Comunicação,
Willian Lara, voltou a dizer que
se trata de "não renovar a concessão, e não o fim de uma
emissora" e que não há motivo
para polêmica, já que é uma
"medida corriqueira".
Com o desaparecimento da
RCTV, não haverá mais nenhuma emissora de TV crítica a
Chávez de alcance nacional. A
única TV oposicionista a partir
de hoje, Globovisión, pode ser
vista em sinal aberto apenas em
Caracas. A concorrente da
RCTV, Venevisión, tem feito
uma cobertura pró-Chávez.
O fim da RCTV é rejeitado
pela maioria da população, segundo institutos de opinião. No
último levantamento, feito pela
Hinterlaces -que previu a vitória eleitoral de Chávez no ano
passado-, o rechaço chega a
80%.
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