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Cerco chavista cria elite de mídia pró-governo
SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES", EM CARACAS
Arturo Sarmiento fala um inglês aperfeiçoado em Sandhurst, a academia militar britânica. Ele fez fortuna vendendo petróleo e importando uísque. Agora Sarmiento, que tem
apenas 35 anos e é defensor ferrenho do presidente Hugo Chávez, é dono de uma rede de TV
em expansão na Venezuela.
Enquanto os ânimos se acirram em torno da decisão de
Chávez de não renovar a licença de operação da RCTV, uma
nova elite da mídia vem emergindo no país. Ela é composta
de devotos ideológicos de Chávez, altos funcionários governamentais e magnatas como
Arturo Sarmiento.
A situação atual marca um
contraste com o estado em que
a mídia se encontrava quando o
governo de Chávez começou,
em 1999. Na época, a imprensa
era em grande medida privada,
pertencente a setores empresariais ricos e hostis a Chávez. Os
defensores do presidente dizem que a velha guarda da mídia trabalhou ativamente para
minar as ações de Chávez.
"Com a polarização que acometeu a Venezuela, as organizações de mídia vêm sendo empregadas para provocar mudanças políticas", declarou Sarmiento em entrevista recente.
Ele diz que seus planos para a
emissora privada TeleCaribe,
que adquiriu no ano passado,
são diferentes: oferecer uma
programação adaptada aos públicos regionais do país. "Os
veículos de mídia não devem
envolver-se na política", disse.
Mais publicidade
O controle da mídia sempre
foi importante para os governos interessados em aumentar
seu poder. Chávez vem duelando com adversários na mídia, e,
ao mesmo tempo, fortalecendo
os veículos leais a ele.
Por exemplo, os jornais favoráveis ao governo vêm recebendo quase 12 vezes mais publicidade governamental, disse o
pesquisador Andrés Cañizáles,
da Universidade Andrés Bello,
citando um estudo com quatro
dos maiores diários do país.
"Os governos venezuelanos
anteriores também usaram a
publicidade como maneira de
consolidar seu apoio na mídia",
disse Cañizález. "A diferença é
que hoje o governo fez do aumento de suas operações de
mídia e do combate a seus adversários na mídia elementos
centrais de sua estratégia."
O presidente acusa a RCTV e
outras emissoras privadas de
ter apoiado o que equivaleu a
um golpe de Estado que durou
48 horas, em 2002. No caso da
RCTV, o governo diz que a rede
entrou em conluio com os golpistas, fazendo um blecaute de
notícias após o afastamento de
Chávez e colocando desenhos
animados no ar quando ele voltou ao poder, dois dias depois.
Enquanto o poder político de
Chávez foi crescendo, com pessoas leais a ele controlando a
Suprema Corte, a Assembléia
Nacional e a maioria dos governos estaduais, a RCTV conservou uma postura crítica.
Duas outras emissoras de alcance nacional, a Televen e a
Venevisión, reduziram a cobertura crítica. Os partidários de
Chávez afirmam que a cobertura crítica ao governo revela sentimentos elitistas e racistas. Os
dissidentes alegam que a mídia
noticiosa é sua única possibilidade de exercerem seu direito à
expressão, já que outros veículos são controlados por Chávez.
Enquanto isso, o governo de
Chávez vem criando uma série
de empreendimentos de mídia
controlados pelo Estado.
Quando Chávez foi eleito pela
primeira vez, o governo tinha
só uma emissora de TV e duas
de rádio. Hoje existem quatro
novas televisões controladas
pelos governos central e regionais e sete novas rádios.
Alguns dos novos empreendimentos, como o Telesur, uma
rede de TV a cabo que faz jornalismo regional e tem agenda latino-americana, semelhante ao
pan-arabismo da Al Jazeera,
estão assumindo as operações
de emissoras privadas. A Telesur, sediada em Caracas e financiada em grande medida
pelo governo, adquiriu recentemente o sinal de transmissões
da emissora privada CMT, permitindo que alcance um público mais amplo, não restrito ao
público da TV a cabo.
Tradução de CLARA ALLAIN
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