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Anistia cobra que EUA fechem Guantánamo
Relatório que marca 60 anos da Declaração Universal vê "impunidade, desigualdade e injustiça" no mundo
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
Em evento para lançar seu
relatório anual de 2008, no
qual fez duras cobranças aos
governantes mundiais, a Anistia Internacional exortou ontem o sucessor de George W.
Bush a fechar a prisão de Guantánamo, em Cuba. O levantamento do grupo, que investiga a
situação de 150 países, repassa
os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A secretária-geral da Anistia,
Irene Khan, afirmou que "a desigualdade, a impunidade e a
injustiça são as marcas do
mundo de hoje" e que o desrespeito aos direitos humanos se
espalha "como um vírus".
Segundo a Anistia, há tortura
em 81 países, julgamentos injustos em 54 e falta de liberdade de expressão em 77. Khan
afirmou também que cerca de
300 milhões de pessoas foram
jogadas de volta abaixo da linha
da pobreza pela crise mundial
dos alimentos.
A cobrança maior recai sobre
os EUA, que, "como superpotência, têm de manter os padrões elevados". Khan já definiu até a data em que espera que o vencedor das eleições
deste ano anuncie o fechamento da prisão mantida pelo país
na base militar de Guantánamo, onde estão os capturados
na "guerra ao terror": 10 de dezembro, aniversário da Declaração Universal dos Direitos
Humanos. "Os três candidatos
já se comprometeram a fechar
Guantánamo, e acho que a data
seria mais do que apropriada."
Segundo a Anistia, cerca de
800 pessoas já passaram pela
base sob status de "combatente
inimigo" -que os EUA usam
para driblar as Convenções de
Genebra de direitos dos prisioneiros de guerra- desde 2002.
Sem acusação formal nem processo legal, 270 continuam lá.
O relatório do grupo identifica as piores situações de direitos humanos hoje em Darfur
(Sudão), Zimbábue, a faixa de
Gaza, Iraque e Mianmar.
Brasil
Em relação ao Brasil, Khan
ressaltou avanços, mas afirmou
que a situação da segurança pública no país continua "profundamente perturbadora".
Responsável pela parte do
Brasil nos relatórios há oito
anos, o pesquisador Tim Cahill
faz um diagnóstico ainda mais
duro: "Nesses últimos anos, há
uma importante mudança, um
reconhecimento da necessidade de direitos humanos, mas o
dia-a-dia das pessoas continua
exatamente o mesmo, nada
mudou, e isso é muito ruim".
O relatório destaca problemas conhecidos dos brasileiros: violência policial, Justiça
ineficaz, conflitos no campo e
trabalho forçado e degradante.
Cahill esteve no país neste
ano para pesquisas e deve voltar para aprofundar o relatório
de 2009. Segundo ele, a Anistia
tem prestado atenção no conflito na reserva indígena de Raposa/Serra do Sol, em Roraima.
Ele reconhece avanços do governo, como a Lei Maria da Penha (contra a violência doméstica) e a criação de comissão
permanente contra a tortura. O
mais importante, no entanto, é
que o país deixe só de "reagir" e
passe a "tomar a iniciativa".
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