São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

E-mail atribuído às Farc cita chanceler Amorim

Referência "não faz sentido", reage o Itamaraty

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma troca de mensagens entre membros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) revela que a guerrilha esperava ter a proteção da cúpula do governo Lula para evitar a prisão do padre Olivério Medina, seu "embaixador" no Brasil. A mensagem cita o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.
Segundo fonte da inteligência colombiana, o texto fazia parte dos arquivos de computador de Raúl Reyes -o dirigente do grupo morto em 1º de março, em ataque da Colômbia em território equatoriano.
No e-mail, datado de 29 de julho de 2005, Medina demonstra estar informado do pedido de captura encaminhado pela Procuradoria da Colômbia à Interpol (polícia internacional).
"Os amigos daqui me advertiram que deveria ficar atento, pois há uma comissão da Procuradoria que tem uma ordem de captura", escreveu. Ele acrescentou que, segundo os mesmos amigos, não deveria se preocupar, pois "a cúpula do governo com apoio de Celso Amorim estavam a par. Eles não apoiariam uma captura por crimes políticos".
O padre guerrilheiro, representante da Comissão Internacional da guerrilha, acabou preso pela Polícia Federal, no dia 24 de agosto de 2005. Em abril do ano passado, ele conseguiu status de refugiado político e foi libertado.
A assessoria de imprensa do Itamaraty negou a existência de qualquer "participação pessoal" do chanceler no caso. "A referência ao ministro no suposto e-mail não faz o menor sentido", afirmou.
A reportagem não conseguiu localizar o advogado de Medina, Hélio Silva Barros. A operadora informa que o número de contato de Barros, registrado na OAB do Distrito Federal, é inexistente.
Fonte dos serviços de informação da Colômbia disse à Folha que o e-mail de Medina foi encontrado em um dos três laptops de Reyes que teriam sido apreendidos no local do bombardeio. A Colômbia já divulgou dezenas de mensagens atribuídas a dirigentes das Farc ligando a guerrilha a autoridades equatorianas e venezuelanas. Mas até agora não havia menções a membros do governo brasileiro.
Há duas semanas, a Interpol divulgou laudo de auditoria realizada em arquivos-espelho dos computadores, afirmando que não houve manipulação das informações. O relatório da Interpol não se pronunciou sobre o conteúdo das mensagens e disse que não poderia garantir a origem dos computadores.
No mesmo e-mail, Medina relaciona os nomes de Acasio e Héctor num suposto negócio, que não detalha. "O camarada Héctor já tem contato com Acasio para o negócio, e tem muito boas relações aqui e me disse que se encarregará de tudo sem problema, que nos entregará uma comissão sobre as vendas, de acordo com o ordenado por jorge, o Mono Jojoy."
Acasio é provavelmente Tomás Medina Caracas, o Negro Acácio -sócio do traficante Fernandinho Beira-Mar morto em 2007. Já Hector poderia ser Héctor Orlando Martínez Quinto, que está na Costa Rica.


Texto Anterior: Redes privadas terão de pagar por imagens de TV de Chávez
Próximo Texto: À caça: Bogotá oferece US$ 2,7 milhões por corpo de Marulanda
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.