|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Ações de Kim podem não ter fundo racional
DO "INDEPENDENT"
Para a Coreia do Norte,
apresentar uma face hostil
não é uma novidade. Mas a
atual crise é especialmente
perigosa porque é difícil entender qual é o jogo de
Pyongyang.
Nos últimos anos, os gestos belicosos do regime foram interpretados como esforços para extrair assistência de seus vizinhos e forçar
os EUA a negociar. Essa, porém, não pode ser a explicação agora, porque uma delegação americana visitou a região neste ano. Os canais de
comunicação estão abertos.
Já foi sugerido que essa
crise pode ter sido resultado
de um esforço de Kim Jong-il
para reforçar sua autoridade
doméstica ou organizar uma
transição tranquila. Mas essa
explicação tampouco convence, porque, ao fazer um
novo teste nuclear, Pyongyang alienou a China, seu
único aliado de peso.
Isso suscita uma possibilidade aterrorizante: a de que
as manobras de Pyongyang
representem não uma política implementada racionalmente, e sim um momento
de paranoia frenética. O
mundo conseguiu evitar o
holocausto nuclear na Guerra Fria porque podia confiar
em que a União Soviética
agisse de maneira racional.
Se a mesma suposição não
valer para a Coreia do Norte,
sobe consideravelmente o
perigo que ela representa.
O mundo, liderado pelos
EUA, tentou de tudo para
ajudar a Coreia do Norte a
sair do isolamento. Bill Clinton buscou aproximação diplomática, sem resultado.
George W. Bush adotou
abordagem mais hostil, classificando a Coreia do Norte
como parte do "eixo do mal",
o que aprofundou o isolamento do regime, mas pouco
fez para moderar seu comportamento. Por fim, Barack
Obama ofereceu aos inimigos dos EUA, entre os quais a
Coreia do Norte, um novo
começo. Mas a mão que Obama estendeu foi rejeitada.
A comunidade internacional, na falta de ideias melhores, avança na direção de
uma renovação das sanções e
de um plano para revistar todos os barcos provenientes
do Norte para evitar o contrabando de material nuclear
para fora do país. Isso só alimenta ainda mais a paranoia
de Pyongyang.
No entanto, por mais precária que pareça a situação, é
possível que uma oportunidade tenha surgido. O afastamento entre Pyongyang e
Pequim pode se provar um
erro fatal. Caso a China suspenda o envio de petróleo e
alimentos, os dias da Coreia
do Norte podem estar contados. A China sempre hesitou
em tomar medidas que desestabilizassem a Coreia do
Norte, até agora, por medo
de que o colapso do regime
resultasse em uma onda de
refugiados famintos atravessando suas fronteiras.
Mas Pequim talvez decida
agora que esse seria o mal
menor. Se essa mudança de
pensamento se provar possível, a resposta mais astuta do
restante da comunidade internacional seria recuar e
permitir que a China discretamente retire o apoio a seu
velho dependente.
Assim, o que parece ter sido um espasmo de perigoso
irracionalismo da parte de
Pyongyang talvez venha a ser
o primeiro toque dos sinos
fúnebres para o regime da
Coreia do Norte.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Escalada norte-coreana põe China em encruzilhada Próximo Texto: Anistia denuncia uso da crise como pretexto para abusos Índice
|