|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Anistia denuncia uso da crise como pretexto para abusos
Para entidade, foco econômico possibilita a países desleixo com temas humanitários
Com menção ao PAC, Anistia critica o Brasil por buscar avanço econômico a todo custo, com prejuízos para grupos carentes e excluídos
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
Depois da recessão, vem a repressão, afirma, em documento
publicado hoje, a Anistia Internacional, entidade que mapeia
violações de direitos humanos
ao redor do planeta.
A crise econômica sem precedentes em décadas, além de
empurrar para a miséria milhões de pessoas, tem servido
de pretexto para que governantes aumentem a repressão e a
censura a grupos de oposição,
apertem políticas anti-imigração e releguem para o último
plano comunidades carentes e
já excluídas em seus próprios
territórios, diz o relatório.
O tom do relatório de 84 páginas é de catástrofe iminente,
como quando fala que o mundo
está sentado "num barril de
pólvora prestes a explodir".
Um dos principais argumentos da Anistia é o de que o foco
em uma crise (a econômica) e o
desleixo com a outra (a humanitária) são uma "receita para
piorar as duas". Nenhuma recuperação será sustentável se
os fatores que aprofundam a
miséria não forem combatidos.
"De um lado, existe o enorme
perigo de pobreza crescente e
condições sociais e econômicas
desesperadoras levarem a instabilidade política e violência",
registra o documento.
"Do outro, podemos chegar a
uma situação em que a recessão
será acompanhada por maior
repressão de governos ameaçados -especialmente aqueles
com inclinação autoritária-,
que baterão duro em dissidentes, críticos e quem mais fizer
acusações de corrupção e incompetência."
Embora esse tipo de risco autoritário tenda a ser automaticamente associado a países pobres ou marginais, o relatório
não poupa o G20. O grupo das
20 principais economias do
planeta e principal fórum de
discussão para ações contra a
atual crise econômica é criticado por não ter as mesmas preocupações quando se trata de direitos humanos.
A Anistia alerta que é nesses
países que ocorrem algumas
das piores violações do mundo
e chegou a fazer comparações
entre o G20 e o resto do planeta
em certos itens, como a tortura
(ocorre em 50% dos 157 países
pesquisados, contra 79% dos
que compõem o G20).
"A nova liderança do G20
tem iniciativas velhas e falhas
em relação aos direitos humanos. Retórica sem ação, promovendo direitos humanos no exterior, mas ignorando-os dentro de casa ou protegendo aliados contra prestação de contas
e abusos não dão confiança na
liderança coletiva do grupo em
relação aos direitos humanos",
acusou a secretária-geral da entidade, Irene Khan.
PAC
O Brasil, segundo o relatório,
se encaixa nessa descrição de
país que não implementa dentro de suas próprias fronteiras
o que defende no exterior.
A busca brasileira por crescimento econômico a qualquer
custo -inclusive por meio de
algumas obras do PAC- ignora
e prejudica comunidades carentes e excluídas, disse à Folha o responsável pelo capítulo
sobre o país, Tim Cahill.
"Claro que reconhecemos
que o Brasil tem de crescer",
disse Cahill, "mas isso tem de
ser feito com respeito aos direitos de todos os brasileiros". Segundo ele, a expansão da economia tem sido feita à custa dos
direitos de comunidades excluídas e marginalizadas.
Entre os exemplos destacados pelo pesquisador estão a
expansão da agroindústria em
Mato Grosso do Sul, que afeta
indígenas, e a construção de
uma siderúrgica no Rio de Janeiro, que atinge comunidades
de pescadores.
Texto Anterior: Análise: Ações de Kim podem não ter fundo racional Próximo Texto: Brasil vota na ONU contra investigação no Sri Lanka Índice
|