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ANÁLISE
Visão de secretária prevalece sobre a de Obama
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
Quando se enfrentaram na
campanha presidencial de
2008, Barack Obama e Hillary Clinton expressaram visões muito diferentes sobre o
tratamento que os Estados
Unidos deveriam aplicar ao
Irã. Obama apostava na diplomacia e queria conversar
com os iranianos. Hillary dizia que ele era um ingênuo.
Obama venceu a eleição,
mas com o tempo a visão que
prevaleceu foi a de Hillary. O
presidente americano chegou a estender a mão ao Irã
depois de tomar posse, mas
nunca ofereceu nada que
persuadisse os iranianos a
dar o passo seguinte e aceitar
o diálogo com o arqui-inimigo. A tensão entre os dois países só cresceu desde então.
Não há evidência de que
Obama pense diferente de
Hillary sobre esse assunto
hoje. Na carta que enviou ao
presidente Luiz Inácio Lula
da Silva em abril, onde sugeriu que um acordo como o alcançado pouco depois pelo
Brasil e pela Turquia com o
Irã poderia ter seu aval, Obama também deixou claro que
não confia nos iranianos e
que não abriria mão de lutar
por novas sanções na Organização das Nações Unidas.
Obama e Hillary estão sob
intensa pressão em casa. Haverá eleições para o Congresso em novembro e os democratas não querem ser vistos
pelos eleitores como fracotes. O Congresso americano
ameaça impor sanções contra o Irã unilateralmente se o
Conselho de Segurança da
ONU não fizer nada, o que seria desastroso para a diplomacia americana e o prestígio internacional de Obama.
Isso ajuda a entender o
empenho da Casa Branca pelo novo pacote de sanções
em discussão na ONU e o
mal-estar que a entrada do
Brasil nesse jogo criou nas relações entre os dois países. O
acordo patrocinado pelo Brasil criou um inconveniente,
ao dar tempo aos iranianos e
jogar areia na engrenagem
do Conselho de Segurança.
Como Hillary deixou claro
outra vez ontem, a atuação
do Brasil tem gerado muita
insatisfação em Washington.
Pode ser que as sanções contra o Irã sejam aprovadas e os
esforços feitos pelo Brasil para evitá-las se revelem inúteis. Desfazer o ambiente envenenado por desconfianças
que o episódio criou será a tarefa seguinte para os diplomatas dos dois países.
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