São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2010

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ANÁLISE

Visão de secretária prevalece sobre a de Obama

RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO

Quando se enfrentaram na campanha presidencial de 2008, Barack Obama e Hillary Clinton expressaram visões muito diferentes sobre o tratamento que os Estados Unidos deveriam aplicar ao Irã. Obama apostava na diplomacia e queria conversar com os iranianos. Hillary dizia que ele era um ingênuo.
Obama venceu a eleição, mas com o tempo a visão que prevaleceu foi a de Hillary. O presidente americano chegou a estender a mão ao Irã depois de tomar posse, mas nunca ofereceu nada que persuadisse os iranianos a dar o passo seguinte e aceitar o diálogo com o arqui-inimigo. A tensão entre os dois países só cresceu desde então.
Não há evidência de que Obama pense diferente de Hillary sobre esse assunto hoje. Na carta que enviou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abril, onde sugeriu que um acordo como o alcançado pouco depois pelo Brasil e pela Turquia com o Irã poderia ter seu aval, Obama também deixou claro que não confia nos iranianos e que não abriria mão de lutar por novas sanções na Organização das Nações Unidas.
Obama e Hillary estão sob intensa pressão em casa. Haverá eleições para o Congresso em novembro e os democratas não querem ser vistos pelos eleitores como fracotes. O Congresso americano ameaça impor sanções contra o Irã unilateralmente se o Conselho de Segurança da ONU não fizer nada, o que seria desastroso para a diplomacia americana e o prestígio internacional de Obama.
Isso ajuda a entender o empenho da Casa Branca pelo novo pacote de sanções em discussão na ONU e o mal-estar que a entrada do Brasil nesse jogo criou nas relações entre os dois países. O acordo patrocinado pelo Brasil criou um inconveniente, ao dar tempo aos iranianos e jogar areia na engrenagem do Conselho de Segurança.
Como Hillary deixou claro outra vez ontem, a atuação do Brasil tem gerado muita insatisfação em Washington. Pode ser que as sanções contra o Irã sejam aprovadas e os esforços feitos pelo Brasil para evitá-las se revelem inúteis. Desfazer o ambiente envenenado por desconfianças que o episódio criou será a tarefa seguinte para os diplomatas dos dois países.


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