|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Oriente Médio trava acordo sobre TNP
Sucesso de conferência de revisão, que acaba hoje, depende de acerto para criação de zona livre de bombas
Negociadores do Brasil
creem já ter obtido texto
satisfatório, mantendo
a adesão facultativa ao
Protocolo Adicional
CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK
O sucesso ou o fracasso da
conferência de revisão do
TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), que acaba
hoje, dependia ontem à noite, fundamentalmente, de
um acordo sobre os próximos
passos para a criação de uma
zona livre de armas nucleares no Oriente Médio.
Uma reunião de mais de
cinco horas na missão do Egito na ONU, da qual participaram negociadores de 17 países, incluindo o Brasil, terminou sem progresso.
Os EUA continuam exigindo que Israel -potência nuclear fora do TNP- não seja
citado diretamente, o que
não era aceito pelos países
árabes. O arsenal de Israel é
estimado em 200 ogivas.
Especialista do Instituto
para a Ciência e a Segurança
Internacional, Jacqueline
Shire explica a relevância do
tema: foi graças à inclusão da
cláusula em apoio ao estabelecimento dessa zona sem a
bomba que a conferência de
revisão de 1995 decidiu pela
prorrogação indefinida da vigência do TNP.
"O fato de não ter havido
avanço nos últimos 15 anos
sublinha a frustração dos
países desarmados com o P-5", diz Shire, referindo-se às
potências nucleares reconhecidas (EUA, Rússia, França, Reino Unido e China).
DESBLOQUEIO
Um acordo de última hora
sobre o Oriente Médio pode
desbloquear os demais pontos de divergência, estimou o
sueco Jarmo Sareva, secretário da Conferência de Desarmamento das Nações Unidas. Do contrário, não haverá
declaração final.
No início da noite, o diplomata filipino Libran Cabactulan, que preside o encontro, apresentou um novo rascunho de declaração, tentando aproximar posições.
Os negociadores brasileiros, chefiados pelo embaixador Luiz Felipe de Macedo
Soares, acreditavam ter obtido um acordo satisfatório para preservar o caráter voluntário da adesão ao Protocolo
Adicional do TNP.
O protocolo permite inspeções da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) em instalações não declaradas como de uso nuclear.
O Brasil não pretende aderir ao protocolo por enquanto
e não admitia a inclusão de
termos que o consideravam
"vital" ou o instrumento "padrão" das inspeções.
Restavam, por outro lado,
divergências sobre o plano
de ação para o desarme, um
ponto de honra sobretudo
para os Não Alinhados (116
dos 189 membros do TNP).
DESACORDO
Até ontem à noite, o P-5
não concordava em mencionar nem um "cronograma"
para a eliminação dos arsenais nem a proposta do secretário-geral da ONU, Ban
Ki-moon, de convocação de
uma cúpula sobre o fim da
bomba, incluindo as potências extratratado (Índia, Paquistão e Coreia do Norte,
além de Israel).
Numa entrevista concorridíssima, no prédio da ONU
onde se realiza o encontro, o
embaixador iraniano Ali Asghar Soltanieh citou outra
precondição para um acordo: a anuência das potências
em tornar legais as "garantias negativas", isto é, de que
países sem bomba não serão
nuclearmente atacados.
Questionado se o Irã, sozinho, chegaria a bloquear
uma declaração final, ele
preferiu não ser direto. "Não
haverá compromissos sobre
princípios", disse.
O sueco Sareva defendeu
que mesmo um acordo aguado é melhor do que nada.
"Esse tipo de conferência
não é transformacional, é
evolutiva."
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: "Todos sabem há décadas que Israel tem arma nuclear" Índice
|