São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2010 |
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"Todos sabem há décadas que Israel tem arma nuclear"
Historiador que revelou prova do arsenal diz que notícia foi a tentativa de vendê-lo
Folha - Em que medida os documentos revelados em seu livro comprovam a oferta israelense? Peres negou tudo. Sasha Polakow-Suransky - Peres está sendo evasivo. Ele está certo quando diz que sua assinatura não aparece nas minutas das reuniões, mas ela aparece no documento que garante sigilo para a negociação sobre a venda de mísseis Jericó. Os documentos mostram acima de qualquer dúvida que o tema foi discutido em uma série de encontros em 1975. As frases usadas para descrever as ogivas são vagas, o que é comum nesse tipo de negociação. A confirmação de que o governo sul-africano viu a discussão como uma oferta nuclear explícita está num memorando do chefe do Estado-Maior, R. F. Armstrong, que detalha as vantagens do sistema de mísseis Jericó para a África do Sul, mas só se os mísseis tivessem ogivas nucleares. É a primeira vez que aparece um documento com a discussão sobre mísseis nucleares em termos concretos. O acordo nunca foi fechado, mas a discussão ocorreu, e o alto escalão sul-africano entendeu a proposta israelense como oferta nuclear. Qual era o objetivo de Israel? Principalmente financeiro. Peres também estava buscando financiamentos conjuntos e precisava oferecer algo em troca à África do Sul. No encontro de 4 de junho, Peres sugeriu a Pieter Botha [então ministro da Defesa] que a África do Sul financiasse entre 10% e 5% de um projeto de um jato leve e 33% de um sistema balístico de cognome "Assaltante". Israel tinha o know-how, e a África do Sul tinha dinheiro. Há outras revelações sobre o elo entre Israel e o regime do apartheid em seu livro? Muitas. As principais são a continuação do projeto dos mísseis Jericó na África do Sul nos anos 80, quando especialistas israelenses ajudaram a construir projéteis de segunda geração para carregar ogivas nucleares; e a venda de "yellow cake" [concentrado de urânio] da África do Sul para Israel em 1961.
Os documentos revelados em
seu livro são a evidência mais
clara até hoje do arsenal nuclear israelense?
Não. As fotos de Mordechai Vanunu [técnico nuclear israelense condenado
por traição] em 1986 são muito mais definitivas. O significado dos documentos não é
provar que Israel tem armas
nucleares, o que o mundo todo sabe há décadas. A notícia
aqui é que a possível transferência de tecnologia nuclear
foi debatida no alto escalão. |
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