São Paulo, sábado, 28 de maio de 2011

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ANÁLISE

Sobrevivência de governantes depende de natureza e papel das Forças Armadas

ROULA KHALAF
DO "FINANCIAL TIMES"

É difícil imaginar o motivo pelo qual os países vizinhos do Iêmen acreditaram que Ali Abdullah Saleh aceitaria negociar sua renúncia, depois de uma teimosa permanência de 32 anos no comando do mais empobrecido país do mundo árabe.
Mestre em manipular aliados e inimigos, Saleh muitas vezes diz sim quando está dizendo não. Tanto que arrastou, por semanas, os líderes que trabalhavam por um fim pacífico dos levantes contra ele. No fim, ao invés de ir à cerimônia de assinatura, no domingo, seus apoiadores cercaram o edifício em que ela seria realizada, aprisionando os atônitos embaixadores ocidentais e das demais nações do golfo.
Quando a violência irrompeu em Sanaa, nesta semana, Saleh não pareceu se perturbar, por aparentemente já ter decidido que tinha chances melhores de sobreviver se recorresse à violência.
O iemenita deve agradecer a Muammar Gaddafi pelo mau exemplo: três meses depois de ter perdido o controle de porções do país para oposicionistas e mais de dois meses após iniciados os bombardeios ocidentais contra ele, o regime líbio se desmantela um pouco por dia -mas o coronel se mantém firme.
Saleh também conta com a companhia de Bashar Assad, cujos tanques vêm reprimindo uma revolta iniciada dois meses atrás e que não demorou a se espalhar pelo país.
O padrão é o de que repúblicas que se encaram como monarquias foram mais vulneráveis. E é o papel das Forças Armadas nesses regimes que dita o desfecho.
No Egito e na Tunísia, onde o povo derrubou líderes que estavam há décadas no poder depois de algumas semanas, as Forças Armadas eram homogêneas. A recusa de disparar contra os manifestantes ditou o desfecho.
Na Líbia e Iêmen, os Exércitos eram fracos, sofreram muitas deserções. As batalhas em Sanaa opõem partidários de Saleh a membros armados das tribos. Na Síria, um caso igualmente complexo: o Exército é porção inseparável do regime de Assad.


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