São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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JUSTIÇA

Vítimas, que moravam na cidade de Angers, tinham de 10 meses a 14 anos

França condena 62 por pedofilia

DA REDAÇÃO

Terminou ontem, com penas de até 28 anos de prisão, o maior processo por pedofilia já registrado na França. Os réus, 39 homens e 26 mulheres, eram moradores de um subúrbio operário da cidade de Angers, a oeste de Paris, e foram responsabilizados pelo abuso sexual de 45 menores, com idades de dez meses a 14 anos.
Apenas três dos 65 réus foram inocentados. Os juízes rejeitaram todos os argumentos em favor de circunstâncias atenuantes. A maior vítima, chamada Marine V., uma garota hoje com dez anos, sofreu abusos 45 vezes.
O processo foi aberto no início de março. Mobilizou 150 testemunhas e 51 advogados, nove deles como auxiliares da Promotoria. Os autos reuniram 15 mil páginas.
Eric J. (a lei francesa proíbe a divulgação de nomes próprios em crimes contra crianças) foi condenado a 28 anos. Era um dos organizadores da rede, abusou sexualmente de 11 vítimas e foi proxeneta de 35 outras.
Pena idêntica recebeu Philippe V. Ele havia estuprado o próprio filho, Franck V., quando este ainda era criança, e recentemente estuprou os três netos.
Franck e sua ex-mulher, Patrícia M., aliciavam os próprios filhos, sobrinhos e afilhados, além de crianças da vizinhança. Ele foi considerado culpado pelo estupro de 11 menores, proxenetismo de 30 e agressões sexuais contra 15 outros. Foi condenado a 18 anos.
Patrícia foi condenada a 16 anos. Ela era a tesoureira da rede de proxenetismo e foi considerada culpada de violência sexual contra 18 menores.
As investigações foram abertas em 2000, quando uma garota de 16 anos procurou uma assistente social para denunciar o padrasto e o irmão por estupro. Todos os casos ocorreram entre 1999 e 2002.
Não há imigrantes entre os réus, que são franceses. Segundo os juízes, os condenados têm baixa escolaridade e pouca qualificação profissional. A metade é composta por desempregados crônicos e vive de pensões previdenciárias.
Mas não foi por razões econômicas que pais entregavam seus filhos à rede de pedofilia. Não precisavam da prostituição como recurso extremo para obter renda ou se alimentar. São pessoas que os psiquiatras classificaram de desajustadas, incultas e sem convívio social baseado em interesses de suas comunidades.
No ano passado, um outro processo coletivo por pedofilia terminou com a condenação de dez dos 17 réus na cidade de Outreau, norte da França.
Em Outreau e em Angers, não ocorreu recrutamento de vítimas por meio da internet, o que comumente acontece nas redes de pedofilia americanas. O assédio se dava por relações de parentesco e de vizinhança.
Os réus tampouco fotografavam ou registravam em vídeo o suplício de suas vítimas. Não se tratava de uma rede de produção de material pornográfico a ser comercializado.
Os casos de pedofilia têm merecido bastante divulgação na Europa, onde o problema era considerado tabu até meados dos anos 80. Em 2004, o belga Marc Dutroux foi sentenciado à prisão perpétua porque estuprou seis garotas menores e assassinou duas delas. Mais recentemente, sete pessoas foram condenadas em Portugal pelo estupro de 32 garotos residentes num orfanato.


Com agências internacionais

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