São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

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Governo aposta na guerra, diz dirigente do Batasuna

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

O banimento do Batasuna é uma aposta do governo espanhol na guerra e só servirá para intensificar o conflito basco. Quem afirma é Juan José Petrikorena, 38, um dos 27 membros da direção nacional do partido.
Em entrevista à Folha ontem, por telefone, de San Sebastián, Petrikorena negou que o Batasuna tivesse vínculos com o ETA, mas disse que é contra condenar os métodos do grupo terrorista. Para ele, a única solução para o conflito basco é o diálogo.
A entrevista teve de ser feita em dois momentos distintos, após ser interrompida, em seu início, pela invasão da sede do Batasuna em San Sebastián pela polícia basca.

Folha - Houve violência por parte da polícia?
Petrikorena -
Eles entraram à força na nossa sede, com golpes de cassetete e balas de borracha. Um jornalista foi ferido. Entraram rompendo os vidros de uma janela e arrastaram para fora as pessoas que estavam lá dentro.

Folha - Vocês resistiram à ação?
Petrikorena -
O que fizemos foi uma resistência pacífica. Sentamos no chão, indicando à Ertzaintza [a polícia autônoma basca" que não íamos deixar a nossa sede, nosso centro de trabalho. Acabamos arrastados para fora.

Folha - Como vocês analisam as decisões de banir o Batasuna?
Juan José Petrikorena -
São parte de uma política adotada desde que [José María" Aznar assumiu como primeiro-ministro, há mais de seis anos. Um de seus objetivos principais foi eliminar a força independentista basca Batasuna, deixando-a fora do jogo político. E assim impedir qualquer mudança no status político do país.

Folha - Vocês acham que essas decisões foram influenciadas pela pressão internacional contra os grupos terroristas após os atentados de 11 de setembro aos EUA?
Petrikorena -
Entendemos que sim. O sr. Aznar e o sr. [juiz Baltasar" Garzón se valeram da situação criada pelo 11 de setembro para intensificar ainda mais sua estratégia contra a esquerda independentista basca. Para isso usam todo tipo de argumento repressivo. O primeiro-ministro espanhol, em lugar de apostar numa solução democrática, de paz, de diálogo, aposta na guerra.

Folha - Vocês têm ligações com o ETA?
Petrikorena -
Isso é absolutamente falso, não há nada que prove isso. O Batasuna é uma agrupação política, legal até ontem, que tem um desejo muito concreto: levar ao povo basco um sistema democrático, no qual possamos exercer nossa autodeterminação, que é um direito clássico nas relações internacionais. Não queremos outra coisa. Nossa via é estritamente política.

Folha - Porque vocês não condenam as ações do ETA?
Petrikorena -
Porque achamos que isso não traz soluções. Uma infinidade de formações políticas estiveram condenando as ações do ETA durante anos, mas isso não resolve nada. Nenhum dos conflitos internacionais de caráter político foram resolvidos com condenações, só com diálogo.

Folha - O Batasuna apóia o uso da violência para conseguir a independência do País Basco?
Petrikorena -
Não defendemos a violência. Temos que falar em violências, no plural, no País Basco, porque não há violência só por parte do ETA, mas também por parte das forças policiais, como vimos hoje, com o desalojamento de nossas sedes. Entendemos que são uma consequência do conflito político. Para erradicar a violência de uma vez por todas temos que erradicar o conflito político. Isso supõe apostar no diálogo, e é o que o governo de Madri rechaça.

Folha - Vocês se espelham em outros diálogos de paz?
Petrikorena -
Achamos que na Irlanda do Norte, por exemplo, houve um processo muito positivo. O governo britânico reconheceu que cabe ao povo irlandês decidir o seu futuro livremente. Entendemos que a Espanha, o governo de Madri, não está fazendo nada parecido com isso. Faz o contrário, aposta na guerra, no recrudescimento do conflito.


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