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Governo aposta na guerra, diz dirigente do Batasuna
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
O banimento do Batasuna é
uma aposta do governo espanhol
na guerra e só servirá para intensificar o conflito basco. Quem
afirma é Juan José Petrikorena,
38, um dos 27 membros da direção nacional do partido.
Em entrevista à Folha ontem,
por telefone, de San Sebastián, Petrikorena negou que o Batasuna
tivesse vínculos com o ETA, mas
disse que é contra condenar os
métodos do grupo terrorista. Para
ele, a única solução para o conflito
basco é o diálogo.
A entrevista teve de ser feita em
dois momentos distintos, após ser
interrompida, em seu início, pela
invasão da sede do Batasuna em
San Sebastián pela polícia basca.
Folha - Houve violência por parte
da polícia?
Petrikorena - Eles entraram à
força na nossa sede, com golpes
de cassetete e balas de borracha.
Um jornalista foi ferido. Entraram rompendo os vidros de uma
janela e arrastaram para fora as
pessoas que estavam lá dentro.
Folha - Vocês resistiram à ação?
Petrikorena - O que fizemos foi
uma resistência pacífica. Sentamos no chão, indicando à Ertzaintza [a polícia autônoma basca" que não íamos deixar a nossa
sede, nosso centro de trabalho.
Acabamos arrastados para fora.
Folha - Como vocês analisam as
decisões de banir o Batasuna?
Juan José Petrikorena - São parte
de uma política adotada desde
que [José María" Aznar assumiu
como primeiro-ministro, há mais
de seis anos. Um de seus objetivos
principais foi eliminar a força independentista basca Batasuna,
deixando-a fora do jogo político.
E assim impedir qualquer mudança no status político do país.
Folha - Vocês acham que essas
decisões foram influenciadas pela
pressão internacional contra os
grupos terroristas após os atentados de 11 de setembro aos EUA?
Petrikorena - Entendemos que
sim. O sr. Aznar e o sr. [juiz Baltasar" Garzón se valeram da situação criada pelo 11 de setembro para intensificar ainda mais sua estratégia contra a esquerda independentista basca. Para isso usam
todo tipo de argumento repressivo. O primeiro-ministro espanhol, em lugar de apostar numa
solução democrática, de paz, de
diálogo, aposta na guerra.
Folha - Vocês têm ligações com o
ETA?
Petrikorena - Isso é absolutamente falso, não há nada que prove isso. O Batasuna é uma agrupação política, legal até ontem, que
tem um desejo muito concreto: levar ao povo basco um sistema democrático, no qual possamos
exercer nossa autodeterminação,
que é um direito clássico nas relações internacionais. Não queremos outra coisa. Nossa via é estritamente política.
Folha - Porque vocês não condenam as ações do ETA?
Petrikorena - Porque achamos
que isso não traz soluções. Uma
infinidade de formações políticas
estiveram condenando as ações
do ETA durante anos, mas isso
não resolve nada. Nenhum dos
conflitos internacionais de caráter
político foram resolvidos com
condenações, só com diálogo.
Folha - O Batasuna apóia o uso da
violência para conseguir a independência do País Basco?
Petrikorena - Não defendemos a
violência. Temos que falar em
violências, no plural, no País Basco, porque não há violência só por
parte do ETA, mas também por
parte das forças policiais, como
vimos hoje, com o desalojamento
de nossas sedes. Entendemos que
são uma consequência do conflito
político. Para erradicar a violência
de uma vez por todas temos que
erradicar o conflito político. Isso
supõe apostar no diálogo, e é o
que o governo de Madri rechaça.
Folha - Vocês se espelham em outros diálogos de paz?
Petrikorena - Achamos que na
Irlanda do Norte, por exemplo,
houve um processo muito positivo. O governo britânico reconheceu que cabe ao povo irlandês decidir o seu futuro livremente. Entendemos que a Espanha, o governo de Madri, não está fazendo
nada parecido com isso. Faz o
contrário, aposta na guerra, no recrudescimento do conflito.
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