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IRAQUE SOB TUTELA
Deposição de armas sob acordo não é totalmente cumprida; polícia acha corpos em "tribunal religioso"
Milícia xiita deixa santuário em Najaf
DA REDAÇÃO
A milícia xiita que estava refugiada havia mais de três semanas
no templo do imã Ali obedeceu ao
acordo fechado na véspera com o
principal líder xiita iraquiano,
grão-aiatolá Ali al Sistani, e deixou, ontem, o santuário em Najaf.
Ao saírem, os integrantes do
Exército Mehdi fecharam as portas e entregaram a chave a Al Sistani, para simbolizar a trégua.
Pelos alto-falantes do santuário,
o clérigo radical xiita Moqtada al
Sadr exortou seus seguidores a
deporem as armas e deixarem o
templo: "A todos os meus irmãos
do Exército Mehdi... Vocês devem
deixar Kufa e Najaf sem suas armas, com as massas pacíficas".
Após o ato simbólico, milhares
de peregrinos acorreram ao templo, muitos chorando e beijando
suas portas. Enquanto o governo
retomava o centro antigo da cidade, a polícia iraquiana cercou o
santuário, e as forças dos EUA,
que sob o acordo deveriam deixar
Najaf, mantiveram suas posições
a 300 metros dali -os marines
disseram que atendiam a um "pedido do governo local, para assegurar o cumprimento do acordo".
"Hoje os moradores de Najaf
podem dormir tranqüilos", disse
Hamed al Khafaf, assessor de Al
Sistani, à TV Al Arabyia (de Dubai). Na véspera, ataques de autoria desconhecida contra peregrinos em Kufa e Najaf mataram 110
pessoas e deixaram 501 feridos,
segundo números revisados pelo
Ministério da Saúde iraquiano.
Durante a noite ainda havia
controvérsia sobre a deposição
das armas pelos rebeldes. Segundo a agência de notícias Associated Press, dezenas de membros
do Exército Mehdi deixaram seus
fuzis em frente ao escritório de Al
Sadr. Entretanto acredita-se que a
maioria dos insurgentes tenha
mantido suas armas -alguns foram vistos empurrando carroças
cheias de metralhadoras e lança-foguetes pelos becos da cidade.
Além da entrega do templo do
imã Ali, o plano de paz proposto
por Al Sistani e aceito por Al Sadr
e pelo governo interino iraquiano
prevê que Najaf e a vizinha Kufa
sejam declaradas zonas livres de
armas e que as forças estrangeiras
comandadas pelos EUA deixem a
segurança local a cargo da polícia
iraquiana. O governo interino,
por sua vez, deve compensar as
vítimas das três semanas de combates e anistiar os rebeldes que
entregarem suas armas.
Diferentemente do que os EUA
exigiam, no entanto, o acordo não
prevê o desmantelamento da milícia de Al Sadr nem a rendição do
clérigo. O líder radical, que comandou um levante contra os
EUA em abril e cuja milícia interrompeu dois meses de trégua no
início deste mês, tem contra si
uma ordem de prisão emitida, no
início deste ano, sob a Autoridade
Provisória da Coalizão. O mandado cita o envolvimento de Al Sadr
na morte de um clérigo rival e,
com base nele, os EUA prometeram "prender ou matar" o clérigo.
Mesmo assim, a Casa Branca
elogiou o acordo, que sucede uma
série de negociações fracassadas
entre Al Sadr e representantes do
governo interino iraquiano. "Recebemos bem essas medidas para
resolver a situação envolvendo o
templo do imã Ali sem mais violência e apoiamos os esforços do
governo iraquiano para assegurar
o cumprimento da lei em todo o
país", disse o porta-voz da Casa
Branca, Scott McClellan.
Durante a noite, os EUA voltaram a atacar alvos da insurgência
sunita em Fallujah, bastião do regime deposto no oeste do país.
Testemunhas disseram que os
aviões lançaram duas bombas.
Não há informação sobre mortos.
Corpos
O clima de cordialidade que se
instalou após o acordo foi interrompido pela descoberta, pela
polícia iraquiana, de 10 a 15 corpos em decomposição. Os cadáveres, enrolados em cobertores
manchados de sangue, estavam
em uma espécie de "tribunal religioso" a céu aberto mantido por
seguidores de Al Sadr a 200 metros do santuário.
Não foi possível determinar
imediatamente a causa da morte,
mas vários deles tinham ferimentos aparentemente causados por
estilhaços. Entre os corpos, havia
o de uma mulher idosa.
A polícia iraquiana afirmou que
os corpos eram de vítimas de julgamentos sumários instaurados
pelo clérigo radical e sua milícia.
Os insurgentes negaram e disseram se tratar de baixas pelos combates deste mês na região, durante
os quais, segundo os EUA, ao menos 400 rebeldes foram mortos.
Não há dados sobre baixas civis.
Com agências internacionais
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