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Arredia, Nova York se torna armadilha para Bush
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
A capa desta semana do principal guia de eventos de Nova York,
a revista "Time Out", traz a foto
da imensa traseira de um elefante,
o animal que simboliza o Partido
Republicano do presidente George W. Bush. Mais abaixo, há uma
montanha de fezes produzida pelo animal e uma vassoura, que
procura limpar a sujeira.
Outra publicação típica de Manhattan, a revista "New York", retrata os republicanos - com
Bush e seu vice, Dick Cheney, à
frente- como invasores bárbaros de chapéus com chifres cruzando o Hudson, rio que cerca a
ilha. No fundo da ilustração, mala
em punho, a Estátua da Liberdade
desce do pedestal e sai de fininho.
Embora a prefeitura da cidade
esteja nas mãos dos republicanos
pelo terceiro mandato consecutivo, quatro em cada cinco eleitores
de Nova York votaram em Al Gore contra Bush na eleição presidencial de 2000. No Estado, a proporção a favor do democrata foi
de três em cada cinco.
O evento foi planejado para coroar a liderança de Bush na guerra
contra o terrorismo numa cidade
que ficou marcada pelos atentados de 11 de setembro de 2001
-as torres gêmeas do World Trade Center, em Manhattan, foram
atingidas e destruídas naquele
dia. Mas, quase três anos depois,
Nova York se transformou nesta
semana em um ímã de protestos
contra o presidente e seu partido.
Cerca de 400 mil manifestantes
são esperados em protestos a partir de hoje na cidade. Nos últimos
dias, pequenas manifestações,
com gente pendurada em prédios
e pessoas sem roupa em avenidas,
anteciparam o que vem por aí.
Fervor nas ruas
A polícia estima que fará 500 detenções ao dia entre hoje e quinta-feira, quando Bush finalmente desembarca na cidade para aceitar a
nomeação de seu partido para
disputar a reeleição.
A pouco mais de dois meses da
eleição, Bush continua tecnicamente empatado com o adversário democrata John Kerry em nível nacional, segundo novas pesquisas divulgadas ontem.
Bush passará apenas algumas
horas em uma Nova York tomada
por milhares de manifestantes e
por 11 mil policiais, envoltos em
um esquema de segurança de
mais de US$ 80 milhões.
Diferentemente dos democratas, que já fizeram cinco eventos
do tipo na cidade, esta será a primeira Convenção Nacional Republicana da história de Nova York.
Tirando os aspectos logísticos,
que envolveram mais de US$ 160
milhões, entre a organização e a
segurança do evento, nada saiu
como planejado.
O longo processo de escolha do
local da convenção republicana
começou no dia 15 de novembro
de 2001, com uma Nova York ainda chocada pelos atentados do 11
de Setembro e com a imagem ainda fresca de Bush ao lado de bombeiros sobre os escombros do
World Trade Center.
Michael Bloomberg, atual prefeito da cidade, foi a Washington
tentar convencer a Casa Branca
da idéia, que, segundo suas previsões, poderia gerar US$ 250 milhões em receitas para Nova York.
Neófito republicano que só entrou para o partido para não ter
de disputar prévias com vários
candidatos no campo democrata,
Bloomberg havia vencido as eleições para a Prefeitura de Nova
York nove dias antes. Foi catapultado para o cargo por uma das
principais personalidades do 11
de Setembro, o ex-prefeito republicano Rudolph Giuliani.
Ao longo de 2002, a popularidade de Bush se manteve em alta (e
em níveis recordes em Nova
York) com uma até então bem-sucedida campanha militar no
Afeganistão e um forte discurso
de segurança interna.
Em dezembro de 2002, o acordo
para a realização do evento em
Manhattan foi selado e providências irreversíveis começaram a ser
postas em prática.
Até bombeiros protestam
As grandes dificuldades do pós-guerra no Iraque, o discurso cada
vez mais conservador e a lenta recuperação econômica dos EUA fizeram a popularidade de Bush
despencar na cidade. Muitos nova-iorquinos agora vêem na convenção republicana uma oportunidade rara para protestar.
Um entre cada dez habitantes
de Manhattan pretende participar
de pelo menos um evento anti-Bush, segundo pesquisa divulgada ontem. Mesmo os mais declamados heróis do 11 de Setembro,
os bombeiros, protestarão contra
corte de verbas e rendimentos.
Os republicanos estão tratando
de associar a "intolerância" refletida nas manifestações e as prisões, que já começaram, com o
Partido Democrata e Kerry.
Embora simpatizantes dos democratas, os organizadores das
duas principais manifestações
previstas para hoje e manhã
-com estimativas de 75 mil e 250
mil participantes, respectivamente- negam envolvimento do
partido de Kerry.
O Partido Democrata montou
um quartel-general a poucos metros do Madison Square Garden,
palco da convenção republicana,
para também se fazer ouvir durante o evento. À frente do grupo,
está uma democrata que não tem
motivos para lamentar muito
uma eventual vitória de Bush para
um segundo mandato: a senadora
por Nova York, já considerada
pré-candidata favorita à Presidência em 2008, Hillary Clinton.
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