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SUCESSÃO NOS EUA / OS 12 TRABALHOS
Obama sofre pressão para vender feijão, e não sonhos
Democrata prepara guinada pé-no-chão em discurso hoje em que aceitará candidatura
Candidato enfrenta dupla tarefa de exibir unidade em um partido rachado e se contrapor às mensagens mais diretas de McCain
Joe Radle/Getty Images-France Presse
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Obama agradece aos Clinton em aparição-surpresa em Denver
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A DENVER
Quando subir ao palco do estádio Invesco na noite de hoje,
em Denver, no Colorado, e começar a falar para uma platéia
de 80 mil pessoas diante do que
até a noite de ontem parecia ser
um cenário que imita colunas
gregas ou um templo romano, o
senador democrata Barack
Obama terá dois desafios: definir-se e unir os outros.
Mais do que falar de sua biografia, quesito que já foi cumprido pelo discurso de Michelle
Obama na segunda, o candidato democrata deve vender de
maneira clara e simples sua
proposta econômica e de segurança para o país, unificar um
partido cindido pela disputa
com os Clinton e evitar parecer
arrogante. Será tarefa hercúlea.
Obama vem sofrendo pressão do comando do partido para falar mais claro e ser mais explícito em sua plataforma. A
frente é liderada pelos governadores, principalmente os que
apoiaram Hillary Clinton nas
primárias e os que estão à frente dos Estados-pêndulo, decisivos em novembro.
Pedem que na noite de hoje
ele fale menos de sonho e mais
de feijão, que dê tanta importância a questões diretamente
ligadas ao bolso do eleitor
quanto dá a temas unificadores
e que tocam multidões, mas são
vagos, como "esperança".
O mais eloqüente entre eles é
Ed Rendell, da Pensilvânia, que
comparou o candidato a Adlai
Stevenson (1900-1965), intelectual democrata que concorreu duas vezes à Presidência e
perdeu. "Você faz uma pergunta a Obama, e ele lhe dá uma reposta de seis minutos, inteligente, intelectual, bem colocada, abrangente, mas que rende
péssima sonora para a TV."
"Precisamos começar a contra-atacar com frases curtas e
compreensíveis", diz. "Todo
mundo está nervoso, diz que
nós deveríamos abrir 10, 15
pontos. O que está havendo?"
Preocupa o partido principalmente a eficácia dos anúncios negativos de John McCain,
que pintam Obama como alguém inexperiente e elitista.
Pesquisas
A mensagem do oponente
encontra ressonância na opinião pública. Segundo pesquisa
da CNN divulgada ontem, 78%
dos ouvidos acham que McCain
é preparado para ser comandante-em-chefe dos EUA e para lidar com crises internacionais; o número desaba para
58% quando se trata de Obama.
"A convenção é o momento
ideal para um candidato convencer o público de que ele tem
um plano claro para resolver os
problemas", disse Keating Holland, coordenadora da pesquisa da emissora. Obama ouviu as
críticas e entendeu o recado.
O candidato não deu detalhes
sobre seu discurso, que continua o segredo mais bem-guardado da convenção. Em aparição-surpresa no final da noite
no palco do Pepsi Center, ele
agradeceu os discursos de Hillary Clinton - "ela balançou a
casa!", disse- e de Bill Clinton
-"um presidente que coloca o
povo em primeiro lugar"- e repetiu slogans de campanha.
Para redigir o texto de hoje,
ouviu palpites de apenas duas
pessoas, o estrategista David
Axelrod e o escritor de discursos Jon Favreau. Espera-se
uma alusão a "Eu tenho um sonho", pronunciado por Martin
Luther King há 45 anos. E que a
parte "poética" fique por aí.
"Não estou mirando muito
na retórica", disse o candidato
ao "USA Today". "Estou mais
preocupado em comunicar como eu pretendo ajudar famílias
de classe média." Ontem, ao
"Wall Street Journal", reafirmou sua guinada pé-no-chão.
"A questão que terei de deixar claro é que a escolha que temos é entre a mesma política
fracassada dos últimos oito
anos para a classe média e uma
nova agenda para aumentar a
renda dos americanos e ajudar
as famílias em necessidade."
Obama percebeu que sua
mensagem pode ser embaçada
pela grandiosidade. Para voltar
a Rendell, "é difícil para as pessoas se identificarem com gente bem-dotada. Obama é bonito, incrivelmente brilhante, articulado e bem-sucedido. Não é
exatamente o sujeito mais fácil
de se identificar".
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