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Unasul põe transparência militar em pauta
Presidentes do bloco podem acertar hoje criação de mecanismo para catalogar gastos e acordos de países da região
Discussão mais ampla sobre o tema foi forma encontrada
para diluir pressão sobre Colômbia e sua intenção de ampliar presença americana
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A BARILOCHE
Reunidos hoje em Bariloche,
Argentina, ainda sob tensão, os
12 presidentes da Unasul
(União de Nações Sul Americanas) poderão acertar um mecanismo no recém-criado Conselho de Defesa para trocar e catalogar informações sobre estratégias militares e de compra
de armamentos de cada país. É
o que o Brasil chama de "projeto da transparência".
Segundo o assessor internacional da Presidência, Marco
Aurélio Garcia, os presidentes
deverão convocar o Conselho
de Defesa para formalizar o novo mecanismo já em setembro,
num encontro nas ilhas Galápagos, reserva ecológica do
Equador no Pacífico. O Equador detém atualmente a presidência pro tempore da Unasul e
do conselho.
"O mais importante de Bariloche é a reunião em si, que vai
marcar a distensão na região e a
plena força do Conselho de Defesa", disse Garcia, informando
que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ligaria ainda ontem para outros presidentes,
acertando os últimos detalhes e
pedindo calma.
Apesar de Garcia falar em
"distensão", a tensão prevalecia
até ontem. O temor, como sempre acontece nas reuniões da
região, é que a Venezuela saia
do tom combinado e puxe
Equador e Bolívia para o confronto com a Colômbia.
A forma de atrair o presidente colombiano Álvaro Uribe para a reunião, sem que ele ficasse
no "banco dos réus", foi diluir
as responsabilidades e ampliar
a discussão sobre a estratégia
militar e de armamentos para
os demais países.
Segundo a Colômbia, a pauta
inclui "armamentismo, terrorismo e compras de armamento". O que inclui a aproximação
da Venezuela com Irã e Rússia
e a suspeita de envolvimento
venezuelano e equatoriano
com as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia).
O clima, portanto, ainda é incerto. Às vésperas da reunião, o
presidente venezuelano Hugo
Chávez ameaçou romper relações com a Colômbia, e o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, reagiu dizendo que a
Unasul vai debater o "expansionismo chavista". O confronto virou bate-boca entre os embaixadores dos dois países na
OEA (Organização dos Estados
Americanos).
Lula deverá ter hoje café da
manhã com Chávez, para tentar amansá-lo. E, para arrefecer
os ânimos, o Brasil se dispôs a
falar até do acordo com a França para aquisição de helicópteros, submarinos convencionais
e a construção de um submarino de propulsão nuclear.
A Venezuela comprou fuzis,
tanques, helicópteros e três
submarinos da Rússia. O Chile
adquiriu fragatas e outros equipamentos do Reino Unido e da
Holanda. O Equador comprou
aviões Supertucano do Brasil,
helicópteros militares da Índia
e fragatas do Chile. E o Peru
tem um plano de reequipamento de até US$ 650 milhões.
São compras modestas, mas
demonstram uma tendência
armamentista considerada incomum na América do Sul.
Garantia
O detonador da nova crise e
da própria reunião de Bariloche foi a ampliação do acordo
militar da Colômbia com os
EUA para aumentar o efetivo
americano de cerca de 250 para
até 800 homens no país, com
direito a usar até sete bases militares colombianas.
Lula, o chanceler Celso Amorim e o ministro da Defesa, Nelson Jobim (que esteve no
Equador e na Colômbia no início da semana), trabalharam
para obter garantias formais
sobre o uso das bases por parte
dos EUA e da Colômbia.
Uribe -que se recusara a ir à
reunião da Unasul, em Quito,
Equador- deverá se comprometer publicamente com essa
garantia hoje em Bariloche,
mas a incógnita é se os EUA farão o mesmo.
Em Quito, Lula sugeriu uma
reunião dos doze presidentes
com Barack Obama. Depois,
concretizou o convite num telefonema ao colega americano,
mas Obama ainda não aceitou.
Segundo Marco Aurélio Garcia, deve ocorrer hoje "em paralelo à reunião" mais um passo
na reaproximação entre o
Equador e a Colômbia, que suspenderam relações desde a invasão de tropas colombianas
em solo equatoriano, em 2008,
para aniquilar um acampamento das Farc. A conferir.
A chegada de Lula e sua comitiva a Bariloche, com temperatura de 4C a 12C e 3.000
soldados nas ruas, estava prevista para esta madrugada, por
volta de 1h.
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