São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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Unasul põe transparência militar em pauta

Presidentes do bloco podem acertar hoje criação de mecanismo para catalogar gastos e acordos de países da região

Discussão mais ampla sobre o tema foi forma encontrada para diluir pressão sobre Colômbia e sua intenção de ampliar presença americana


ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A BARILOCHE

Reunidos hoje em Bariloche, Argentina, ainda sob tensão, os 12 presidentes da Unasul (União de Nações Sul Americanas) poderão acertar um mecanismo no recém-criado Conselho de Defesa para trocar e catalogar informações sobre estratégias militares e de compra de armamentos de cada país. É o que o Brasil chama de "projeto da transparência".
Segundo o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, os presidentes deverão convocar o Conselho de Defesa para formalizar o novo mecanismo já em setembro, num encontro nas ilhas Galápagos, reserva ecológica do Equador no Pacífico. O Equador detém atualmente a presidência pro tempore da Unasul e do conselho.
"O mais importante de Bariloche é a reunião em si, que vai marcar a distensão na região e a plena força do Conselho de Defesa", disse Garcia, informando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ligaria ainda ontem para outros presidentes, acertando os últimos detalhes e pedindo calma.
Apesar de Garcia falar em "distensão", a tensão prevalecia até ontem. O temor, como sempre acontece nas reuniões da região, é que a Venezuela saia do tom combinado e puxe Equador e Bolívia para o confronto com a Colômbia.
A forma de atrair o presidente colombiano Álvaro Uribe para a reunião, sem que ele ficasse no "banco dos réus", foi diluir as responsabilidades e ampliar a discussão sobre a estratégia militar e de armamentos para os demais países.
Segundo a Colômbia, a pauta inclui "armamentismo, terrorismo e compras de armamento". O que inclui a aproximação da Venezuela com Irã e Rússia e a suspeita de envolvimento venezuelano e equatoriano com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
O clima, portanto, ainda é incerto. Às vésperas da reunião, o presidente venezuelano Hugo Chávez ameaçou romper relações com a Colômbia, e o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, reagiu dizendo que a Unasul vai debater o "expansionismo chavista". O confronto virou bate-boca entre os embaixadores dos dois países na OEA (Organização dos Estados Americanos).
Lula deverá ter hoje café da manhã com Chávez, para tentar amansá-lo. E, para arrefecer os ânimos, o Brasil se dispôs a falar até do acordo com a França para aquisição de helicópteros, submarinos convencionais e a construção de um submarino de propulsão nuclear.
A Venezuela comprou fuzis, tanques, helicópteros e três submarinos da Rússia. O Chile adquiriu fragatas e outros equipamentos do Reino Unido e da Holanda. O Equador comprou aviões Supertucano do Brasil, helicópteros militares da Índia e fragatas do Chile. E o Peru tem um plano de reequipamento de até US$ 650 milhões.
São compras modestas, mas demonstram uma tendência armamentista considerada incomum na América do Sul.

Garantia
O detonador da nova crise e da própria reunião de Bariloche foi a ampliação do acordo militar da Colômbia com os EUA para aumentar o efetivo americano de cerca de 250 para até 800 homens no país, com direito a usar até sete bases militares colombianas.
Lula, o chanceler Celso Amorim e o ministro da Defesa, Nelson Jobim (que esteve no Equador e na Colômbia no início da semana), trabalharam para obter garantias formais sobre o uso das bases por parte dos EUA e da Colômbia.
Uribe -que se recusara a ir à reunião da Unasul, em Quito, Equador- deverá se comprometer publicamente com essa garantia hoje em Bariloche, mas a incógnita é se os EUA farão o mesmo.
Em Quito, Lula sugeriu uma reunião dos doze presidentes com Barack Obama. Depois, concretizou o convite num telefonema ao colega americano, mas Obama ainda não aceitou.
Segundo Marco Aurélio Garcia, deve ocorrer hoje "em paralelo à reunião" mais um passo na reaproximação entre o Equador e a Colômbia, que suspenderam relações desde a invasão de tropas colombianas em solo equatoriano, em 2008, para aniquilar um acampamento das Farc. A conferir.
A chegada de Lula e sua comitiva a Bariloche, com temperatura de 4C a 12C e 3.000 soldados nas ruas, estava prevista para esta madrugada, por volta de 1h.


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