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RIVALIDADE
Sobretaxa americana a produtos europeus gera onda de protestos diante de lanchonetes McDonald's
Cidade na França vira símbolo anti-EUA
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
enviado especial a Millau e Roquefort
McDonald's da França viraram
ponto de encontro -de manifestantes. Desde que os EUA decidiram sobretaxar uma série de produtos europeus, em especial franceses, em 100%, os protestos "antiimperialistas" têm lugar marcado.
A decisão dos Estados Unidos é
uma retaliação ao fato de a União
Européia impedir a importação
de carne norte-americana.
Millau, cidade situada na região
que produz o queijo roquefort,
um dos produtos da lista, virou a
capital anti-McDonald's depois
que produtores de leite de ovelha
protagonizaram o mais radical
protesto contra os EUA.
Organizados pela Confederação
Camponesa, gritando palavras de
ordem em occitano (língua regional), 250 criadores de ovelha invadiram o "restaurante"
(um jornal local, apesar de
condenar o
ato, coloca a
palavra entre
aspas) em
construção e
o desmontaram parcialmente, levando peças para
a sede, em
Millau, do governo da região do Aveyron (sul).
Cinco sindicalistas foram presos, quatro foram liberados após
o pagamento de fiança. Os protestos em frente ao McDonald's em
outras cidades (acontecem até
três por dia) agora pedem também a liberação do único que
continua preso, José Bové.
Bové, com formação em filosofia, é um conhecido militante rural na França, desde os anos 70.
Até a invasão do McDonald's,
em 12 de agosto, suas mais recentes ações haviam sido a destruição
de plantas de milho transgênico
(que lhe valeram uma condenação de oito meses de prisão) e de
arroz transgênico, em 98.
Bové também fez parte do grupo que tentou impedir a realização de testes nucleares pela França na Polinésia, em 95.
O prejuízo, segundo o proprietário da franquia, foi de US$ 167
mil. "Um absurdo", disse à Folha
Léon Maillé, que passou dois dias
na prisão na semana passada.
"Todo o custo de construção está
estimado em US$ 67 mil." Agora,
começa a reforma da lanchonete.
A primeira manifestação anti-McDonald's -tomado como representante ao mesmo tempo da
globalização e dos EUA- aconteceu em Paris, no dia 30 de julho,
após a decisão da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Jovens militantes do RPR (direita), partido do presidente Jacques Chirac, protestavam em
frente a uma lanchonete da rede
na avenida Champs Elysées, na
capital francesa, com uma degustação de roquefort, o mais tradicional queijo de leite cru (não
pasteurizado) francês.
Na opinião dos produtores de
leite de ovelha, o McDonald's é
símbolo não só do imperialismo
"ianque", mas também de uma
alimentação não saudável, de
uma agricultura destrutiva (com
o uso de transgênicos, por exemplo) e de uma relação de trabalho
que desrespeita os empregados,
mal pagos e não sindicalizados.
Dois partidos governistas (esquerda), o Verde e o MDC (Movimento dos Cidadãos), apoiaram
ostensivamente os sindicalistas.
A Attac, associação que prega a
cobrança de taxas sobre transações financeiras e luta contra a
globalização, também considerou a repressão desmedida para o
dano provocado.
Em Millau, que tem 22 mil habitantes, a ação dos sindicalistas é
muitas vezes criticada pela destruição provocada. Mas é raro
quem não lhes dê razão.
"O McDonald's é a cozinha como negócio. Não é fácil ser camponês", diz a gerente de hotel
Françoise Austruy, 33. "É bom
que alguém reaja, o problema é
que não adianta destruir, porque
eles voltam. O que podemos contra os EUA?", completa.
"Sempre como no McDonald's,
quando tenho pressa. Mas acho
que eles estão certos", diz o estudante Bertrand Marti.
O prefeito de Millau, Jacques
Godfrain, não apóia o ato, mas
adota o discurso contra os EUA:
"A questão da carne com hormônios é de higiene alimentar".
O queijo roquefort é a base da
economia de Aveyron. Sua produção envolve 10 mil empregos.
O mercado dos EUA representa
apenas 2,5% do total, mas era o
único em crescimento -os norte-americanos fazem pizza de roquefort, o que garante lucro e piadas entre os franceses.
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