São Paulo, Sábado, 28 de Agosto de 1999
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Governo e oposição acertam uma trégua

da enviada especial

A Assembléia Constituinte e a oposição no Congresso fecharam a tensa semana política na Venezuela com uma trégua acertada ontem na Conferência Episcopal. Em nota conjunta, cada parte cedeu um pouco e todos pediram "tolerância" aos venezuelanos.
A Constituinte admitiu discutir saídas alternativas e abrir o diálogo com o Congresso, que está praticamente fechado. A oposição aceitou postergar a realização de sessões extraordinárias no Congresso enquanto se negocia.
Também foi criada uma comissão mista para acertar uma forma de convivência entre os dois Poderes Legislativos conflitantes no país. A Igreja Católica continuará no papel de mediadora.
Os principais negociadores foram o presidente da Constituinte, Luis Miquelena, e os presidentes dos principais partidos de oposição, Copei e Ação Democrática.
O estopim da crise política nesta semana foi a renúncia da presidente da Corte Suprema de Justiça, Cecilia Sosa, sob o argumento de que a Corte estava "morta" pela intervenção da constituinte.
Depois disso, o Congresso também tentou reagir, convocando sessões extraordinárias. A constituinte revidou limitando seus poderes e proibindo reuniões extraordinárias. O resultado foi o confronto de rua, ontem, na frente do Congresso. Os líderes políticos pararam para pensar.
O presidente Hugo Chávez voltou a fazer um pronunciamento ao vivo, pela segunda vez nesta semana. Criticou parlamentares de oposição que forçaram a entrada no Congresso pela manhã para tentar realizar a sessão proibida.
"Eles estão politicamente mortos, moralmente mortos, por uma decisão soberana do povo venezuelano", disse Chávez, classificando as manifestações da manhã de "provocação".

Bandeira branca
A grande preocupação de ontem, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, era com a repercussão negativa da crise no plano internacional. Mergulhada em grave crise econômica, a Venezuela precisa desesperadamente de investimentos externos.
O presidente interino da Corte Suprema, Iván Rincón, substituto de Cecilia Sosa, convocou entrevista coletiva: "Quero tranquilizar a opinião pública interna e internacional, pois a Corte está funcionando normalmente. Ninguém precisa se preocupar".
Até o chanceler José Vicente Rangel, homem de esquerda e refratário à política norte-americana, assumiu ontem um discurso contemporizador em resposta às críticas da Casa Branca. Os EUA haviam manifestado preocupação com os rumos políticos e criticado a intervenção na Corte.
Rangel respondeu: "Foi uma expressão amistosa. Amigos podem se dizer coisas assim. Nós mesmos temos dito coisas sobre os EUA. Considero isso normal e lógico nas relações entre países amigos". Rangel disse que não considerava as manifestações como ingerência indevida em assuntos internos, mas defendeu o processo político venezuelano.


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